/A Nova Poluição Visual

Data: 
25/08/2000
Autor: 
*Ricardo Eduardo Musafir

Somos informados em artigo publicado em 10 de agosto na página de opinião desse jornal de que "A poluição visual é uma constante preocupação da Prefeitura do Rio". Será que é mesmo? Os cariocas tem presenciado, estarrecidos, o aumento vertiginoso e indiscriminado do número de painéis publicitários. Em qualquer espaço se anuncia alguma coisa. Onde não há espaço, cria-se, como é demonstrado pela proliferação dos "paliteiros", engenhos que vem brotando como árvores e que oferecem uma novidade em relação aos outdoors tradicionais: ficam de frente para os motoristas, causando muito mais impacto. Em alguns locais da Zona Sul podemos encontrá-los com diversos tamanhos: se o espaço na altura padrão acabou, preenche-se mais um "andar".

Tudo em nome da propaganda, numa corrida ensandecida de tentar empurrar mais um produto para quem anda de carro. E quem permite isso? Quem vende o espaço? Quem autoriza a colocação de paliteiros na Praça Cardeal Arcoverde em Copacabana? Quem, se não a Prefeitura? Na Linha Vermelha, o numero de outdoors cresce tanto que, em breve, não se poderá ver mais a cidade dali. As paredes dos prédios são também alugadas para propaganda de produtos ou de candidatos. Todo o espaço possível é vendido, pocurando-se atingir as dezenas (ou centenas) de milhares de pessoas que, a cada dia, verão um determinado anúncio. A conta que se faz é que basta que uma fração ínfima desse número registre a informação para que o lucro compense. A conta que não se faz é a contribuição para a degradação da paisagem da cidade e para a qualidade de vida dessa pessoas, melhor, de todos nós. Com tanta informação inútil, vamos aprendendo a não ver, tratando essa propaganda como "ruído". A solução (para quem?) é fazer cartazes cada vez maiores, como é o caso do anúncio gigantesco de um provedor de internet que, na parede de um prédio no centro, pode ser lido da Urca. Se a Prefeitura se preocupa de fato com a questão da poluição visual, deveria tomar medidas urgentes, indo além de estabelecer licitação para determinar quem explora qual área e quais são os corredores paisagísticos. Deveria promover um debate mais amplo, não limitado aos seus gabinetes, para discutir as difíceis questões relativas ao que deve ser considerado excesso e o que não pode ser permitido em hipótese nenhuma, considerando, inclusive, a possibilidade de eliminar totalmente os paliteiros e os painéis eletrônicos (dispositivos cuja autorização para instalação depende exclusivamente da Prefeitura), bem como a propaganda em paredes de prédios, se assim for decidido. Se esse debate realmente acontecer e se o desejo da população for respeitado, aí sim poderemos acreditar no empenho da Prefeitura.

*Professor do Programa de Engenharia Mecânica da COPPE/UFRJ e de Engenharia Ambiental na Escola de Engenharia/UFRJ