/A Química da Beleza e de Propriedades Terapêuticas das Plantas

Data: 
20/12/2005
Autor: 
*Aïda Espínola

O filósofo grego Aristóteles foi o primeiro a relacionar "a cor com o Sol", embora de modo errôneo. Wolfgang von Goethe (1749-1832), poeta e dramaturgo, também estudou a cor, defendendo tese oposta a de Newton. Os diferentes pontos – de vista deram origem à conhecida “Dicotomia Newton-Goethe: a ciência vs a arte", que foi publicada no Beitrage für Optic, em 1791.

A despeito das variadas teses, somente passados 200 anos veio a se conhecer o primeiro indicador ácido-base, a fenolftaleína na forma sintética, em suas duas fórmulas químicas, a ácida, incolor, e a básica, cor de rosa.

A mecânica quântica define as plantas como antenas solares – cromóforos, ou seja, compostos químicos capazes de captar os fótons incidentes, energia de excitação dos complexos fotossintéticos de proteínas que ligam clorofilas e carotenóides. E, assim, a mecânica quântica explica a interação energia/matéria, transições eletrônicas com emissão de energia ou promoção de elétrons.

Fontes das Cores e de Propriedades Terapêuticas

O vermelho e o azul são cores resultantes de pigmentos da classe flavonóide - compostos fenólicos e antocianina. Normalmente, a geração da cor ocorre quando estes compostos são 

dissolvidos na solução vacuolar das células epiteliais, ou como inclusões esféricas em células das pétalas (anticianoplastos).

Plantas como a anêmona coronariantes, a chicórea, o rabanete vermelho, o morango, o ruibarbo e a cebola são fontes de antocianinas. A cor da cidra rosada e do vinho tinto também está diretamente relacionada a presença de antocianinas, que têm como propriedade terapêutica a redução da incidência das doenças coronárias e do câncer e, adicionalmente, efeito preventivo contra a arterioesclerose.

A França é reconhecida mundialmente como o país de menor incidência de doenças coronárias, em virtude do usual consumo do vinho tinto nas refeições. O vinho tinto contém o maior nível de polifenois (catequinas, estilbenos e antocianinas) que inibem a oxidação de lipoproteínas, protegendo contra a arterioesclerose. O seu consumo moderado (duas a três taças/dia) corresponde a 300-1200 mg de polifenois vermelhos.

Drogas naturais contra câncer e Aids


Há séculos, em várias culturas, as plantas são usadas para fins medicinais. Atualmente, são pesquisadas suas propriedades fungicidas, bacteriológicas, nematocidas e alelopáticas.

Recentemente, tornaram-se conhecido compostos químicos designados TAXÓES (C47H51N14, e peso molecular 853,99) que constituem drogas contra o câncer (C.A.S. 33069), a terceira maior causa de óbitos no mundo (8 milhões/ano). O "taxane 10-decaacetylbaccatin III (o 10-DAB) foi descoberto, em 1960, no Nat. Cancer Institute, extraído de agulhas da casca do teixo, planta do Pacífico. Em 1983, foram iniciadas as primeiras experiências com o homem. O 10-DAB é convertido no produto farmacêutico Plaxitaxel, empregado na terapia do câncer de mama e de ovário. Dados de 2004 mostram que o custo inicial da droga 10-DAB de US$600.000 kg, já teve redução para US$400.000 kg.

A descoberta do plaxitaxel como produto químico anticâncer - empregado no tratamento do câncer de ovário - data de 1979, deve-se a Susan Band Horovitz (no Albert Einstein College of Medicine, New York), tendo dois alvos moleculares: a tubulina (proteína que impede a subdivisão, levando à apoptose (morte da célula)). Posteriormente, em sua tese de Pós-Doc, Diane J. Rodi, com os Professores Lee Makowski e Robert A. Holston, da Florida State University, Talahassee, apresentou uma terapia mais efetiva, verificando que o taxol, além de ligar-se à tubulina, liga-se ao Bcl-2 (proteína que impede a célula de sofrer a apoptose, donde, o taxol, impedindo que a célula se divida, causa a morte da célula.

A matéria prima do plaxitaxel teixo (em inglês, "yew tree") é proveniente de arbusto da família das taxáceas (Taxus baccata), planta umbelífera, de onde se pode também extrair a cicuta. Existem 2600 espécies, basicamente no hemisfério norte. No hemisfério sul corresponde a erva - doce e a batata barôa.

A química e a beleza das plantas

Classicamente, as hortênsias sempre foram flores de cor azul. Ultimamente têm se tornado abundantes as de diversas tonalidades: de cor- de- rosa a brancas. Esta diversidade resulta de efeito do pH do solo sobre a solubilidade do íon (Al3+: em pH 5-5,5).

O pH do solo determina a solubilidade do íon Al3+ que fica livre e disponível para formar metaloantocianina. Em pH>5,5, precipita-se o Al(OH)3, ficando o íon Al indisponível para transposição ao xilem (sangue das plantas), onde reagiria com componente orgânico, resultando diferente capacidade de absorção da radiação solar.

Variações em cores das pétalas, porte da planta e das folhas, em violetas africanas têm sido produzidas através da genética.

Crédito das imagens
Figura 1 – Lilypads in Kenny’s Pond http://www.bitstop.ca
Figura 2 – BUSTANOBY, J.H., “Principles of color mixing”, McGraw Hill Book Co., NY, 1947, 1ª ed.
Figura 3 – Foto K6054-9 by Keith Weller Vol.48, Nº 6 – june 2000
Figura 4 – http://www.zippitynz.com

*Química industrial e Engenheira Química
**Professora Titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro
espínola@iq.ufrj.br, espínola@ism.com.br

Data de Atualizacao: 
08/02/2015