/Discurso de Posse da Diretora da COPPE

Data: 
22/07/2003

Prof. Aloisio Teixeira, Prof. Silvia Vargas, Magnífico Reitor e Vice-reitora da UFRJ, é uma honra que esta posse seja sua primeira solenidade oficial.

Prof Luiz Pinguelli Rosa, Presidente da Eletrobras e último diretor eleito da COPPE, com quem tive o prazer de trabalhar durante 9 anos, mestre e amigo.

Prof. Wanderley de Souza, Secretário Executivo do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Prof. Sergio Rezende, Presidente da FINEP, Prof. Jacob Palis, representando o Presidente do CNPq, , instituições parceiras cujo apoio foi no passado e continua a ser no presente, indispensável ao sucesso de nossas atividades.

Deputado Federal Jorge Bittar, membro da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara, cujo trabalho em defesa do setor tem sido inestimável.

Dr. Fernando Peregrino, Secretário Estadual de Ciência, Tecnologia e inovação, a quem devemos o papel de destaque que o setor alcançou no estado do Rio de Janeiro.
Prof. Claudio Baraúna, Decano do Centro de Tecnologia.

Quero saudar igualmente, minha vice-diretora, Prof. Marilita Gnecco de Camargo Braga, que acumula o cargo de diretora de administração, finanças e planejamento institucional e os demais membros de nossa equipe:

Prof. Fernando Rochinha e Prof. Claudia Werner, respectivamente, diretor e diretora adjunta acadêmica;

Prof. José Farias e Prof. Carlos Nassi, respctivamente, diretor e diretor adjunto de tecnologia e inovação;

Os dois diretores adjuntos de administração, finanças e palnejamento institucional, Paulo Barcellos e Marcio Miranda, além do gerente Paulo Sérgio Miguel;

Os coordenadores da Incubadoura de Empresas de Base Tecnológica e Diretor do Parque Tecnológico, Dr Maurício Guedes e o Coordenador da Incubadoura de Cooperativas Populares, Gonçalo Guimarães;

Nossas secretárias e secretários, Mary, Aracy, Daniela, Denise, Marta, Angelina, Cirbe, Rachel, Jorge e André, além do Geraldo, Jessé e os dois Rodrigos.

Prezados Sub-reitores, Prof. José Luiz Fontes Monteiro, Prof. Joel Teodósio, Prof. Luiz Afonso Henriques Mariz, Prof. Marco Antonio França.

Prof. Evando Mirra, Presidente do CGEE.

Prof. Aquilino Senra Martinez, Presidente do Conselho Deliberativo, que com enorme competência dirigiu a COPPE como diretor interino neste último mês.

Caros Colegas Decanos, Diretores de Unidades, Ex Diretores da COPPE, Diretores de Institutos de Pesquisas, Dirigentes de Empresas.

Caros Colegas da COPPE, professores e funcionários, alunos.

Meus amigos, minha família.

Nestes momentos da vida, momentos de inflexão, é difícil não olhar para trás, para nossa vida, para nossas escolhas, para o acaso.

A escolha pela engenharia aconteceu de forma natural, conseqüência do gosto pela matemática. A engenharia química, talvez tenha sido para seguir os passos de minha irmã Beatriz, ídolo da infância, amiga e companheira da vida adulta.

Enquanto Beatriz e vários de seus colegas, que mais tarde viriam a ser meus professores, faziam suas teses de mestrado na COPPE, eu ingressava na Escola de Química.

Naquele ano de 1971, jovem caloura entrei na COPPE, como aluna de iniciação científica, pelas mãos do Prof. Giulio Massarani. Éramos todos jovens, alunos e professores.

A COPPE vivia seus anos dourados, sob a liderança e direção de seu idealizador, Prof. Coimbra. Este foi um período de realizações.

Quando foi criada em 1963, o corpo docente da COPPE cabia numa sala. Os professores, 4 brasileiros e 2 americanos, se revesavam nas tarefas acadêmicas e administrativas.

Coimbra tinha uma instituição para criar, convencer alunos de engenharia de todos os estados sobre a importância da pós-graduação e da pesquisa, contratar professores, poucos ainda com doutorado, e sobretudo consolidar os princípios da dedicação exclusiva e da interação com a sociedade.

No início dos anos 70, com 10 programas de pós-graduação em funcionamento, a COPPE já contava com um corpo de 200 pesquisadores.

As lembranças que tenho desta época, são lembranças do idealismo e do entusiasmo que contagiava a todos. No laboratório de Sistemas Particulados, onde fazia meu estágio, tinha um cartaz logo na entrada que dizia: “Deus abençoa a pesquisa aos sábados”. Acreditávamos na época e continuamos a acreditar hoje.

Não havia mais como lutar. Eu já tinha sido capturada pela vontade de seguir a vida acadêmica, de preferência na COPPE. Algumas vezes somos donos de nossas escolhas, outras vezes a vida escolhe por nós.

A vida então tomou seu curso e 1980, de volta do doutorado, ingressei na COPPE, finalmente como docente, convidada pelo Programa de Engenharia Química.

A atividade acadêmica é estimulante e, raramente, rotineira. Conviver com os jovens nos dá a impressão de não envelhecer. Ao mesmo tempo que ensinamos, estamos sempre aprendendo com eles.

Mas o espírito inquieto me levou além da vida acadêmica. Queria ajudar a construir esta instituição, ser parte do sistema de ciência e tecnologia do país.

Assim tem sido desde de 1990. À frente da diretoria de projetos e da COPPETEC, estou segura que ajudei, sob a condução dos sucessivos diretores - Maculan, Bevilacqua, Infantosi, Pinguelli e Segen – a consolidar o posição de destaque que a COPPE ocupa no cenário nacional.

Hoje, passados 40 anos, a COPPE tem 12 Programas, cerca de 3000 alunos, 300 professores, todos doutores em regime de dedicação exclusiva e um corpo 700 de funcionários pesquisadores, técnicos e administrativos.

Agora chegou o momento de assumir, a meu turno a direção da COPPE e este é, sem dúvida, um enorme desafio. Por um lado, como estar à altura de meus antecessores? A COPPE sempre se caracterizou pelo espírito empreendedor de seus diretores. É preciso ousar sempre, não se conformar com as posições alcançadas.

E por outro lado, o mundo está passando por grandes transformações científicas, tecnológicas e sociais. A sociedade espera da universidade mais do que ensinar e pesquisar. Temos um papel a desempenhar nestas transformações.
Se as instituições são como as espécies vivas, sobrevivem, não as mais fortes ou as mais inteligentes, mas aquelas que se adaptam às transformações do ambiente.

No passado, era grande o tempo entre a geração do conhecimento e sua aplicação para produção de bens de capital e de serviços para a sociedade. Hoje o maior valor é o conhecimento, a produção intelectual. Grandes empresas como a Microsoft, a IBM e a HP já não produzem produtos. Outras empresas o fazem por elas.

As tecnologias da informação mudaram as relações entre as pessoas, entre os países, trazendo efeitos devastadores para a economia, para a política e até para o comportamento da sociedade.

O conhecimento é hoje um ativo, um patrimônio que é preciso proteger. A universidade e a COPPE, em particular, tem uma enorme riqueza em suas mãos, que deve ser revertida para a sociedade brasileira, para geração de trabalho e renda, para solução de seus problemas estruturais e de suas mazelas sociais.

Em primeiro lugar, precisamos continuar na fronteira do conhecimento, mantendo a excelência acadêmica nas ciências da engenharia. Continuar na fronteira do conhecimento significa questionar as linhas de pesquisa existentes, estimular novas áreas e novos grupos, interagir com as ciências básicas: a biologia, a química, a física, a matemática.

Para tal vamos criar um fundo de pesquisa, com recursos institucionais próprios para apoiar duas modalidades de projetos: apoio a nossos jovens pesquisadores em áreas promissoras, com uma bolsa mensal de dois anos e dois projetos de maior envergadura em áreas portadoras de futuro.

Os projetos a serem apoiados e as novas linhas serão definidos por uma câmara de pesquisa a ser implantada imediatamente, composta de alguns pesquisadores seniores da própria COPPE.

Se por um lado estamos nos propondo a fazer um grande esforço interno para fomentar novos grupos e novas áreas na fronteira do conhecimento, o desenvolvimento tecnológico do país pressupõe uma contrapartida governamental bem mais importante em quantidade de recursos, com fluxo de desembolso estável, com financiamentos de longo prazo e com estabelecimento de resultados e metas negociadas.

Um dos instrumentos atuais mais importantes de apoio à ciência, à tecnologia e à inovação são os fundos setoriais, criados como um mecanismo de financiamento, supostamente estável. Entretanto, aproximadamente 45% do orçamento de 2003, foram pré-contingenciados.

Portanto, considero vital que, no orçamento de 2004, a totalidade das receitas provenientes dos Fundos Setoriais seja repassada, evitando assim o contingenciamento dos recursos do FNDCT, cuja conseqüência a longo prazo seria a volta da situação dramática vivida pelo setor na última década.

Além dos aspectos de desembolso, estamos submetendo uma proposta à FINEP, para que os Fundos passem a apoiar programas estruturados de pesquisa e desenvolvimento, a serem submetidos institucionalmente. A pulverização dos Fundos em projetos isolados tem levado à competição predatória entre grupos da mesma instituição ou, ainda, a superposição de temas e de projetos.

No que concerne às atividades tecnológicas, nosso projeto é implantar o que chamamos de “empreendedora do conhecimento”. Queremos agregar às nossas atividades de projetos, que estão mais voltados à solução de problemas empresariais, um núcleo de prospecção e vigilância tecnológica, um núcleo de propriedade intelectual e comercialização de tecnologia e um fundo de capital de risco para apoiar empresas de base tecnológica de alunos da COPPE.

Desta forma o ciclo estaria completo: protegemos nossos resultados, comercializamos a tecnologia para terceiros ou apoiamos a criação de novas empresas que queiram licenciá-las e, com o retorno financeiro, podemos aplicar em novos desenvolvimentos científicos.

Dois temas em que a COPPE é referência nacional, petróleo e energia merecerão atenção especial em termos de organização institucional. Queremos implantar no parque tecnológico, uma incubadora de empresas de base tecnológica, temática, voltada para a área de petróleo e um centro de energias alternativas, reunindo linhas já consolidadas, como o hidrogênio e, outras como a energia das ondas, estendendo o potencial do tanque oceânico.

Mas a COPPE não é só ciência e tecnologia. Nós nos preocupamos com o desenvolvimento social do país e temos feito a nossa parte na medida de nossa vocação. Nossa maior realização nesta área é a incubadora de cooperativas populares, criada em 1995 na administração do Prof. Pinguelli como diretor da COPPE. Este modelo serviu de base para a criação de um programa nacional apoiado pela FINEP.

As atividades deste grupo se expandiram e hoje, um dos projetos mais interessantes em andamento é a realização de um curso pré-vestibular para alunos carentes das comunidades próximas. A escassez de professores nos levou a propor a uma comissão de alunos de pós-graduação a possibilidade de realizarem seu estágios de docência, uma exigência aos bolsistas da CAPES, que o façam neste curso pré-vestibular.

Executar todas estas atividades não depende somente de nossos professores e alunos. Depende igualmente de nossos pesquisadores, técnicos e administrativos. Estou convencida que a COPPE tem o melhor quadro de funcionários que uma instituição universitária poderia ter. Executam atividades de desenvolvimento científico e tecnológico, gestão acadêmica e de projetos com empresas e projetos de desenvolvimento social. Entretanto, a especificidade destas funções não está retratada na carreira dos servidores públicos.

Queremos sensibilizar o governo e a própria universidade sobre a necessidade de estabelecer um plano de carreira específica que reflita as novas funções exercidas por nossos funcionários, que motive a ascensão vertical através do reconhecimento do esforço pela aquisição de novas habilidades e da educação formal.

Temos muitos planos e muita disposição para realizá-los. Nosso entusiasmo é ainda maior por termos um novo presidente e um projeto que pode transformar o país.

Outro dia, lendo sobre a vida de Napoleão vi uma passagem que tem uma analogia com a situação atual. Luis XVI ao ver de sua janela a multidão enlouquecida, pergunta a um nobre da corte: O que é isto, uma revolta? Ouve como resposta: Não majestade, isto é uma revolução!

Nós todos que estamos assumindo a direção da COPPE queremos ser protagonistas desta revolução e ajudar a mudar este país.

Fazemos nossas escolhas mas a obra de uma vida é escrita, também, pelas pessoas importantes que passam por ela.

Se hoje estou aqui, pronta a enfrentar o desafio de dirigir a COPPE, eu devo aos meus pais, Victor e Ruth, que me ensinaram que eu tinha a capacidade de fazer tudo que quisesse, eu precisava só querer e lutar para que acontecesse.

Mas neste caminho outros deixaram sua marca, como Leonardo, meu ex-marido, a quem devo o sobrenome Uller, o doutorado na França e três filhos maravilhosos.

Aos meus filhos, Bianca, Victor e Luisa, agradeço principalmente seu amor e a generosidade por terem me compartilhado com a COPPE e mais do que isto, se orgulhado de minhas vitórias.

Ao meu marido, companheiro e amigo, Ricardo, obrigada por compartilhar comigo esta incrível jornada que é a vida, agora, seguramente, um pouco mais atribulada.

Obrigada a todos.