/No Transporte Urbano, a hora é esta
Especialistas e técnicos do setor de transportes já conhecem a sigla BRT, que pode ser traduzida por sistema de transporte rápido, sistema rápido de ônibus ou sistema expresso de ônibus. Trata-se de nova modalidade de transporte coletivo urbano, no qual o ônibus opera com eficácia máxima, em faixas exclusivas e segregadas do restante do tráfego.
Há pouco mais de 40 anos Curitiba desenvolveu um sistema de transportes que operava de forma planejada e em harmonia com o espaço urbano. Esse sistema tinha lógica muito simples: dar prioridade para os ônibus nos principais corredores de tráfego, inclusive nos cruzamentos, promovendo sua integração com sistemas de menor capacidade. O resultado mostrou ao Brasil e ao mundo a viabilidade de um transporte público de qualidade a custos não muito elevados, associado a um ambiente urbano mais humano.
Existem hoje em operação no mundo mais de 140 sistemas deste tipo. Nem todos tão eficientes quanto o de Curitiba, mas todos, com suas adaptações, seguem o modelo pioneiro ali concebido. Alguns se sofisticaram e contam com modernos dispositivos de controle operacional e tarifário. Os veículos são monitorados em tempo real e a bilhetagem eletrônica, além de evitar a evasão de receita, dá suporte à atividade de planejamento. O exemplo mais recente é o Transmilênio, implantado em Bogotá, Colômbia, entre 2000 e 2003, e planejado por brasileiros, que o tornaram mais eficaz.
A adoção desse modelo evidenciou um conjunto de benefícios: redução do tempo de viagem e da espera nos pontos de parada; maior confiabilidade no sistema, pois o usuário sabe, por meio de painéis informativos, em quanto tempo estará disponível o próximo ônibus; maior conforto e menor impacto ambiental (o Transmilênio contribuiu para reduzir em 90% o número de acidentes fatais no trânsito e em 40% o nível de emissão de poluentes); revitalização do espaço público e valorização imobiliária.
Outro aspecto relevante é que o custo de implantação de 1 Km de BRT é 10 vezes menor que o de um sistema metroviário subterrâneo e cai à metade, na comparação com veículos leves sobre trilhos (VLT). Sua capacidade de transporte já é muito próxima à do VLT (25 mil passageiros por hora por sentido, no caso do VLT, e 20 mil, no do BRT), mas o Transmilênio, por exemplo, chega a transportar 40 mil passageiros por hora e por sentido nos horários de pico. O tempo de implantação também é menor quando comparado a sistemas metroviários ou do tipo VLT.
Menor investimento inicial aliado a menor tempo de implantação facilitam a formação de parcerias público-privadas (PPP) e, assim, o BRT vem sendo adotado em todos os continentes. Só nos Estados Unidos são mais de cem cidades. O país de maior número de automóveis por habitante tem como política prioritária de seu departamento de transportes incentivar e dar suporte à implantação desses sistemas.
De forma idêntica a China vem investindo significativamente em BRT. Pequim, que será sede dos Jogos Olímpicos de 2008, contará com uma rede de 300 Km, dos quais 70% já estão operando de forma integrada ao sistema metroviário existente. Seria só coincidência que dois países de características econômicas e sócio-culturais tão distintas tenham adotado uma mesma solução para o transporte público em suas cidades?
E o Brasil? Pioneiro na concepção do BRT, parece hoje a anos-luz dessas potências, que adaptaram o modelo aqui desenvolvido na década de 60. Estamos a menos de um mês da realização dos Jogos Panamericanos e não contaremos com nada similar ao que vem sendo implantado nos EUA, na China e em outros países.
A cidade do Rio de Janeiro e sua Região Metropolitana continuam a se expandir e necessitam estruturar de forma adequada e eficaz seu sistema de transportes. Projetos estão prontos, mas precisam sair das pranchetas. Operadores e investidores sinalizam com a possibilidade de financiar a implantação de BRTs, adotando a fórmula da PPP. A hora é esta. A não ser que prefiramos esperar pela Copa do Mundo de 2014.
*Ronaldo Balassiano é Professor do Programa de Engenharia de Transportes da COPPE/UFRJ