/O Brasil e a Construção Civil
Somente três países possuem em comum as duas seguintes características: mais de 200 milhões de habitantes e área maior do que 8 milhões de quilômetros quadrados. São eles Estados Unidos, China e Brasil. Os dois primeiros em termos de PIB já são as maiores potências mundiais. Tendo como premissa esses valores superlativos, a análise do setor da construção brasileira permite uma série de reflexões.
A construção de apartamentos (incorporação imobiliária) poderia viver no Brasil um bom momento, apesar da crise econômica gerada pela pandemia da covid-19. A taxa básica de juros (Selic) está, há alguns anos, em patamar baixo. Nessa condição não faz sentido manter recurso aplicado em banco porque o prêmio do investidor é pequeno e, como a taxa “freia” juros de financiamentos habitacionais à pessoa física, quem necessita de empréstimo para comprar imóvel é estimulado a tomá-lo. O cenário para produzir imóveis seria propício. No entanto, faltam materiais e seus preços dispararam.
As obras de infraestrutura (públicas e de equipamentos urbanos), considerando-se que o país carece muito, por exemplo, de saneamento, de rodovias e ferrovias para escoar a produção, deveriam estar a pleno. Mas obras públicas são um emaranhado burocrático. As dificuldades já se iniciam nas licitações, nas quais as provas de capacidade técnica são negligenciadas em benefício dos valores aviltados dos certames. Resulta disso, por vezes, a não conclusão das obras ou o término a um preço maior do que o inicial da licitação. Criou-se, assim, um mecanismo que gerou e gera maus projetos seguidos de má execução.
Os entraves de obras, no Brasil, são muitos. Impera a “cultura de barrar” ou a “paralisia de canetas”. Estados Unidos e China avançaram em indústria e tecnologia. O Brasil vive uma desindustrialização acelerada. A economia avança por espasmos com ciclos econômicos muito curtos e que impõem picos e vales dificilmente ultrapassáveis por quem empreende. Há, sim, um conforto: uma grande área e uma grande população que, mesmo menores que as da China e dos EUA, indicam um enorme potencial para crescer!
Com a pandemia o país não parou totalmente, como sempre recomendaram especialistas da saúde, pois apenas 1/3 da população cumpre o isolamento. Mas mesmo assim, não avançou. E hoje estamos em décimo lugar entre os países com maior número de mortos por um milhão de habitantes. Nove países europeus estão à nossa frente.
A grande pergunta: como avançar com a construção civil durante a pandemia?
* Ricardo Bidone é aluno de Doutorado do Programa de Engenharia Civil da Coppe/UFRJ
** Claudio Mahler é professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe/UFRJ