/Cerimônia do Prêmio Coppe Mérito Acadêmico emociona a plateia
A Coppe/UFRJ promoveu no dia 12 de novembro a cerimônia de entrega do Prêmio Coppe Mérito Acadêmico 2018, contemplando três docentes que se destacam pela trajetória profissional e contribuição à instituição. Na entrega do prêmio, em sua 17ª edição, as apresentações sobre as trajetórias profissionais e pessoais dos premiados foram relatadas com humor e emoção. Nesta edição, foram contemplados com o prêmio Coppe Mérito Acadêmico Giulio Massarani os professores Carolina Naveira Cotta e Helcio Rangel Barreto Orlande, do Programa de Engenharia Mecânica; e com o prêmio Coppe Mérito Acadêmico Lobo Carneiro, o professor Segen Farid Estefen, do Programa de Engenharia Oceânica.
A solenidade este ano apresentou duas novidades. Pela primeira vez, um premiado e um padrinho participaram do evento por Skype. No início da premiação, o professor Renato Cotta, que se encontra em Londres, prestou sua homenagem como padrinho ao professor Helcio Orlande, ao lado de sua esposa Carolina Cotta, que também participou da cerimônia virtualmente. Ela teve como padrinho o próprio Helcio, que foi seu orientador no doutorado. A segunda foi a escolha do padrinho, pelo professor Segen Estefen, que convidou seu primeiro aluno na instituição, o professor Theodoro Antoun Netto, hoje seu colega de programa na Coppe.
O diretor da Coppe, Edson Watanabe destacou algumas particularidades dos premiados. Destacou como empreendedor o professor Segen Estefen, por sua trajetória como líder de grandes projetos implantados na instituição. Entre os empreendimentos, mencionou sua participação na implantação do LabOceano, do Centro China-Brasil, do Laboratório de Tecnologia Submarina, da Usina de Ondas, entre outras iniciativas. Ao falar do professor Helcio, ressaltou sua destacada atuação acadêmica e o lado humano do premiado, que segundo ele ajudou a trazer para estudar na Coppe, no final dos anos 2000, alunos de Burkina Faso, país que tem um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH). “A iniciativa, que já beneficiou cinco estudantes, é fruto de uma cooperação iniciada praticamente durante o fim de seu doutorado, quando visitou esse país”, relatou
Para ilustrar a formação de excelência recebida por Carolina Cotta, agora refletida em suas atividades de docente, o professor Watanabe citou os principais professores que a influenciaram na carreira. A lista envolve docentes de diferentes programas, o que segundo ele contribuiu para a destacada atuação da premiada em pesquisas multidisciplinares.
A vice-reitora da UFRJ, professora Denise Nascimento, ressaltou a luta e dedicação de Carolina na academia e ao mesmo tempo no exercício da maternidade, não simbolizada apenas como questão do gênero. Denise frisou que somente as mulheres sabem o quanto é difícil conquistar espaços e ainda traçar uma trajetória belíssima como a de Carolina e dos outros professores contemplados. Uma trajetória como a deles simboliza a instituição que forma o seu quadro.
Helcio Orlande: um craque dos problemas inversos
Durante seu discurso, o professor Renato Cotta falou sobre a trajetória de Helcio, o qual conheceu em 1988, quando este havia concluído a graduação no ano anterior, com excelente desempenho, e cujo projeto final teve foco em Transferência de Calor. Na época, Cotta acabara de ser transferido do ITA para a Coppe e, segundo ele, “teve a felicidade de ser professor de Helcio em três disciplinas durante o mestrado, e honrado com o convite para participar de sua banca”. Helcio o agradeceu no corpo da dissertação, ao lado do professor Chang Lin Tien, da Universidade de Berkeley, em função das sugestões oferecidas.
“Foi uma grande homenagem do Helcio. Chang Lin Tien é um dos grandes nomes da Transferência de Calor de todos os tempos”, declara Cotta, que destacando que desde cedo Hélcio já surpreendia pesquisadores estrangeiros. Cotta acompanhou de perto sua trajetória do colega, com vários estudos conjuntos. Os estudos se multiplicavam na proporção que crescia o grau de amizade que estabeleceram. À convite de Helcio, Cotta coorientou a então aluna Carolina Cotta, hoje sua esposa, cujo tema de tese une duas complexas linhas de pesquisas desenvolvida por ambos. “Helcio foi de grande importância também na época em que perdi minha filha, Bianca. Falar do Helcio, é falar da minha própria vida”, concluiu com emocionado o professor da Coppe.
Helcio disse que a escolha pelo professor Renato Cotta como padrinho foi natural, por ele ter acreditado cegamente no seu trabalho e ajudado muito em seu doutorado. Contou que, por intermédio de Renato, começou sua carreira de docente, em 1994, com alunos brilhantes, o que foi um privilégio e um grande desafio: quatro deles se tornaram professores. Sua ligação com a Coppe teve início em 1985, como bolsista de iniciação científica no Laboratório de Mecânicas dos Fluidos, e no início do mestrado foi incentivado a não deixar a carreira acadêmica pelo Arthur Ripper, considerado por ele o melhor professor que teve.
Helcio também agradeceu aos alunos e colaboradores, segundo ele, sua grande motivação, e em particular a seus familiares. “Finalmente quero dizer que é uma honra receber esse prêmio que leva o nome do professor Giulio Massarani. Tive a honra de conviver com ele, mesmo antes de ser aluno a Coppe. Eu e seu filho, Paulo, estagiamos juntos no Cepel. Quando o conheci, e depois já como professor da Coppe, estava iniciando um trabalho em conjunto quando ele nos deixou”, disse Helcio antes de concluir emocionado o seu discurso.
Confira a trajetória do professor Helcio Orlande.
Carolina Cotta: uma atleta na engenharia
Ao falar de Carolina Cotta, seu padrinho, o professor Orlande, disse que a conheceu quando ela cursava os primeiros períodos da graduação e que teve a felicidade de ser escolhido como orientador de seu doutorado. Disse que, sempre brilhante, focada e determinada, Carolina foi capaz de conduzir suas pesquisas de forma independente, não deixando se perturbar pelas adversidades de qualquer natureza. Ao falar de trajetória acadêmica, ressaltou seu “impressionante”currículo, destacando a repercussão de seus artigos, alguns deles com mais de 100 citações. Também citou as expressivas premiações que ela recebeu, como o prêmio Capes de melhor tese de doutorado na área. “Extremamente ligada à família, Carolina é mãezona. Minha alegria de receber esse prêmio não é maior do que ter minha ex-aluna também recebendo essa homenagem. Parabéns Carol!”, concluiu antes de ler uma carta do professor Luis Bevilacqua em homenagem a professora contemplada.
“Sinto-me honrada em receber essa premiação da Coppe, uma instituição que me recebeu de braços abertos como aluna e professora, sempre oferecendo oportunidades para o meu crescimento intelectual e profissional.”, afirmou Carolina, que fez questão de agradecer a todas as pessoas que foram importantes no seu percurso, em especial aos pais: “a base de tudo. Meu porto seguro”.
Ao falar dos três filhos, contou emocionada que Victor, o mais velho, nasceu quando estava no 7º período da graduação. “Ele acompanhou toda a minha trajetória. Victor e minha mãe vinham comigo para a faculdade, eu o amamentava nos intervalos e minha mãe passeava com ele para que eu pudesse assistir às aulas”, recordou Carolina.
Destacou a contribuição de alguns docentes, destacando o entusiasmo e o dinamismo do professor Átila Pantaleão Freire, que segundo ela foram os ingredientes da poção mágica que a enfeitiçou para seguir a carreira acadêmica. Os professores Helcio Orlande e Renato Cotta tiveram uma menção especial. Carolina disse que eles eram colaboradores de longa data e que montaram um plano secreto para o seu doutoramento, de forma a ter finalmente alguém que estudasse o que cada um deles dominava, ao invés de apenas somar seus conhecimentos. A professora lembrou ainda das dificuldades enfrentadas junto com Renato Cotta, quando ele perdeu sua filha Bianca no acidente do AF 447 quando viajava no dia seguinte do casamento. E foi para Renato a mensagem mais especial: “Gostaria então de fazer um agradecimento especial ao Renato, meu professor, meu orientador, meu mestre, meu colega de departamento, meu colaborador, meu amigo, meu confidente, meu marido, meu amante, meu chão, meu céu, simplesmente meu tudo! Como na música da Vanessa da Mata, Ainda Bem, ‘entre tantas paixões, esse encontro, nós dois, esse amor. Que sorte a minha hein? Obrigada!”.
Confira a trajetória da professora Carolina Cotta.
Segen Estefen: um mineiro em águas profundas
O professor Theodoro Antoun Netto, iniciou dizendo que sua carreira se confunde em muitos momentos com a trajetória do professor Segen Estefen. Relatou com doses de humor muitos detalhes de sua carreira, desde a época em que veio à Coppe com a intenção de cursar o mestrado em Engenharia de Transportes, mas que após conversar apenas 30 minutos com o professor Selasco foi convencido a cursar Engenharia Naval. Theodoro, que foi o primeiro aluno de Iniciação Científica e de mestrado de Segen, disse que já se considera o irmão mais novo dopremiado, “aquele irmão chato”, brincou, revelando que tem muito orgulho de ter contribuído com Segen na implantação do Laboratório de Tecnologia Submarina (LTS) da Coppe, a partir da aquisição da Câmera Hiperbárica.
“Ao participar dessa iniciativa foi conquistado pela carreira acadêmica. Acabou ficando com a responsabilidade de tomar conta do laboratório quando Segen foi fazer pós-doutorado na Noruega. Além de outras atribuições, como a de tomar conta da casa e da conta corrente do professor, se responsabilizando inclusive pelos pagamentos das contas. Ao falar das empreitadas de Segen, destacou que o conjunto de contribuições à instituição o torna quase incomparável e que o professor, independente das posições em que passou a ocupar na própria Coppe e em outras instituições, nunca deixou de estar presente no LTS. “No meu ponto de vista, você é uma pessoa inspiradora. Muitos que trabalham com você têm esse mesmo sentimento. Tenho muito orgulho de trabalhar com você. Muito obrigado pelo que fez por todos nós e pela Coppe”, concluiu.
Segen disse estar extremamente honrado em receber o prêmio que leva o nome do Lobo Carneiro, um de seus professores, logo no início do mestrado na Coppe, na disciplina de Mecânica das Estruturas. Lembrou a importante da atuação de Lobo Carneiro para a criação da Petrobras e de como ele era “certeiro nas suas conclusões técnicas e definições que envolviam engenharia”.
Ao falar do Programa de Engenharia Oceânica, disse ter tido a grata satisfação de ter como colegas professores como Carlos Levi, Floriano Pires e Julio Cyrino, e lembrou da convivência deles, desde o início, com muitos pesquisadores estrangeiros, incluindo latino-americanos, o que dava ao Programa um ar de internacionalização. Segen destacou alguns pontos de sua vida, a exemplo do nascimento do filho Thiago, na Inglaterra, durante o doutorado, dizendo em tom de brincadeira que sua chegada “abalou as estruturas”, mas foi possível caminhar, conciliando tudo. O professor falou de sua trajetória, contextualizando-a com períodos da história do Brasil, a exemplo do apagão de 2001, que o motivou a criar, no LTS, o Grupo de Energia Renovável do Mar, dando assim início ao projeto da Usinas de Ondas, como fonte de geração de energia elétrica no país. Apreensivo com o momento atual do país, ele encerrou deixando uma mensagem: “Obscurantismo na universidade jamais”.
Confira a trajetória do professor Segen Estefen.
Mérito Acadêmico: um prêmio especial para os docentes da Coppe
O diferencial do Prêmio Coppe Mérito Acadêmico foi destacado por quase todos os professores que compuseram a mesa da cerimônia como o mais importante, por ser concedido pelos docentes da própria instituição. Além dos professores Edson Watanabe e Denise Nascimento, também participaram da mesa o decano do Centro de Tecnologia da UFRJ, Walter Suemitsu; a diretora de Assuntos Acadêmicos da Coppe, Claudia Werner, a presidente da Comissão de Avalição de Docentes (CAD), Márcia Dezotti; e o professor Claudio Habert, representando o presidente do Conselho Deliberativo, Carlos Magluta.
A professora Cláudia Werner, que relatou a evolução e modificações do Prêmio, desde sua criação, em 1998, frisou que os homenageados são escolhidos pela diretoria após indicação dos membros da CAD, que fazem uma análise bem criteriosa. Uma análise que segue o mesmo rigor da avalição dos docentes que, inclusive, passou a ser utilizado como modelo por outras instituições. De acordo com a professora Márcia Dezotti, a análise não é fácil, devido à grande lista de docentes com alto padrão de desempenho. Ela diz que a missão da CAD é oferecer um diagnóstico da Coppe, que passa por grande transformação, dando embasamento à diretoria para garantir sempre a excelência acadêmica, o que pode ser refletida nesse prêmio. “Esse é o melhor, e o mais importante, por premiar a carreira de um docente, a partir da avaliação de seus pares. É aquele prêmio que todos colocam na parede de sua sala”, ressaltou Marcia Dezotti, contemplada com o Mérito Acadêmico no ano de 2009.
- Publicado em - 07/12/2018