/Conferência Mundial Sobre Integridade de Pesquisa
O Rio de Janeiro vai sediar, em junho de 2015, a quarta edição da Conferência Mundial Sobre Integridade na Pesquisa, a 4th WCRI (da sigla em inglês de World Conference on Research Integrity). O evento, que reúne pesquisadores de vários países e pela primeira vez será realizado na América Latina, tem por objetivo discutir questões como integridade e conduta responsável na realização de pesquisas e publicação de artigos, dissertações e teses. O anúncio da escolha do Brasil como sede da próxima conferência foi feito durante a 3rd WCRI, realizada de 5 a 8 de maio, em Montreal, no Canadá.
A Coppe/UFRJ e o Instituto de Bioquímica Médica (IBqM) da UFRJ estão entre as principais instituições que trabalharam para que o Brasil pudesse sediar a WCRI. A Conferência, que deverá reunir cerca de 400 pessoas, proporcionará discussão, troca de ideias e experiências entre todos os envolvidos na área de ciência e tecnologia, como professores, pesquisadores, representantes de órgãos financiadores de pesquisa, dirigentes de sociedades profissionais, editores de revistas científicas, jornalistas da área de C&T, parlamentares, e alunos de graduação e pós-graduação.
“No Brasil o tema da integridade na pesquisa ainda é incipiente, daí a importância de trazer para o país essa conferência mundial. Todo esse esforço tem como objetivo garantir o nível de qualidade e confiabilidade das pesquisas e, consequentemente, das publicações”, afirmou o vice-diretor da Coppe, Edson Watanabe.
Segundo a professora Sonia Vasconcelos, do IBqM/UFRJ, fomentar uma cultura de integridade científica, gerir problemas relacionados às práticas de má conduta em pesquisa e desenvolver ações educacionais para evitá-las estão entre os desafios do Brasil nessa área. “Diversas universidades em países como Estados Unidos, Austrália, Canadá, Inglaterra, Dinamarca e China, entre outros, têm iniciativas em curso para abordar essas questões”, explicou Sonia, que atua na área de educação, gestão e difusão de ciências.
Maiores geradores de conhecimento lideram discussões sobre o tema
A escolha do Brasil para sediar a WCRI também foi destacada pela professora. “Isso tem uma importância enorme no âmbito educacional e de políticas científicas locais e internacionais. Os países que vêm liderando as discussões sobre integridade científica lideram também a geração de conhecimento. Esses países são responsáveis por boa parte da pesquisa mundial e têm voz marcada no cenário de publicações acadêmicas, incluindo tomadas de decisão sobre políticas editoriais”, afirmou Sonia Vasconcelos, que é uma das líderes do grupo de instituições que trabalharam para que o Brasil receba a conferência.
A candidatura do Brasil uniu esforços de pesquisadores da UFRJ, especialmente do IBqM e da Coppe, e também da Fiocruz, CBPF (Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), Unifesp e PUC-RS. A participação do professor Paulo Sérgio Beirão, na época um dos diretores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), no 3rd WCRI foi fundamental para que a quarta edição venha para o Brasil. A iniciativa recebeu cerca de 50 cartas de apoio vindas de instituições como CNPq, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), entre várias outras, inclusive do exterior.
De acordo com o professor Edson Watanabe, desde 2008 a Coppe vem se preocupando formalmente com a questão da integridade na pesquisa. “Desde então, os alunos que concluem mestrado e doutorado no instituto assinam uma declaração de não violação de direitos de terceiros ao entregar suas dissertações e teses”, explicou o vice-diretor da Coppe, que possui mais de 2900 alunos matriculados em seus 12 programas de pós-graduação.
Comissão da Coppe elabora diretrizes de integridade científica
Recentemente, a Coppe formou uma comissão de professores que elaborou um conjunto de diretrizes de integridade científica e responsabilidades éticas, que abrangem questões como autoria e plágio, utilização, adaptação e identificação de textos de terceiros, bem como de materiais de apoio visual, e fidelidade de resultados de pesquisa, entre outras. O documento está sendo discutido nos programas de pós-graduação e deverá ser concluído e aprovado ainda em 2013 pela Comissão de Pós-graduação e Pesquisa (CPGP). Além disso, a Coppe ofereceu a seus alunos, professores e pesquisadores o Curso de Metodologia Científica e Integridade Acadêmica, do dia 10 a 14 de junho. Este minicurso já vem sendo oferecido desde 2011.
Ciente da importância da questão, a Coppe sediou, em 2010, o I Brazilian Meeting on Research Integrity, Science and Publication Ethics (I Brispe), promovido no Rio e em São Paulo em conjunto com o IBqM/UFRJ, o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a Universidade de São Paulo (USP), e que contou com apoio de várias instituições e órgãos de fomento.
No ano passado, durante a realização do II Brispe, cuja sede foi compartilhada entre a Coppe e outras instituições, foi produzida a Declaração Conjunta sobre Integridade em Pesquisa. O documento, redigido em português, espanhol e inglês, traz uma série de recomendações sobre integridade e boas práticas de publicação e está disponível no site da Coppe
“O Brasil vem desempenhando um papel crucial nas contribuições da América Latina sobre integridade científica. Isso vem sendo marcado, por exemplo, pela realização de eventos regulares sobre o tema, como o Brispe”, afirmou Sonia Vasconcelos. “Na verdade, em pouco mais de quatro anos, nosso país deu um salto importante, deixando, aos poucos, de ser um ‘espectador’ para ser um ator na arena internacional de debates na área”, explicou.
- Publicado em - 25/10/2013