/Coppe presta homenagem ao seu criador, Alberto Luiz Coimbra
A homenagem prestada pela Coppe/UFRJ ao seu criador, professor Alberto Luiz Coimbra (1923-2018), dia 14 de novembro, foi marcada pela emoção. As histórias relatadas por colegas que com ele conviveram comoveram a plateia. Ousado, determinado e avesso à burocracia, Coimbra literalmente ‘moveu montanhas’ para criar a Coppe e instituir um modelo arrojado de pós-graduação no Brasil. Sua contribuição à Universidade é comparada a de educadores a frente do seu tempo, como Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro. Como eles, Coimbra também foi duramente combatido por suas ideias e independência.
O sonho de Coimbra contribuir para o desenvolvimento e soberania do Brasil, a partir da ciência e da tecnologia, foi ressaltado pelos participantes como um fato motivador para vencer os desafios já previstos para 2019. A cerimônia reuniu dirigentes de várias unidades da UFRJ, de institutos de pesquisas, e de órgãos ligados à área de ciência e tecnologia, além de familiares do fundador da Coppe. Entre eles, os filhos Felipe Coimbra e Carlos Alberto Coimbra, e a esposa Marlene Coimbra.
Participaram da mesa de abertura a vice-reitora da UFRJ, professora Denise Nascimento; o decano do Centro de Tecnologia da UFRJ, professor Walter Suemitsu; o presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), professor Luiz Davidovich; o presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), professor Ildeu de Castro; o diretor de Tecnologia da Faperj, Maurício Guedes; e o professor de Engenharia Química da Coppe, Claudio Habert.
Após a cerimônia, foi inaugurada uma escultura com a imagem de Coimbra, na entrada do Bloco G, prédio no qual dirigiu a instituição desde que a Coppe se instalou, em 1967, na Cidade Universitária. O evento, que integra a programação que comemora os 55 anos da Coppe, foi encerrado com a apresentação do coral da instituição.
Revolução no ensino
“Aprendi muito sobre o homem e a lenda Coimbra. Um homem que deflagrou uma revolução no ensino, integrando o grupo de grandes educadores brasileiros, como Darcy Ribeiro e Paulo Freire”, afirmou o professor Claudio Habert, destacando entre os legados deixados por Coimbra a implantação no Brasil do modelo de pós-graduação e de dedicação exclusiva, incluindo a participação dos docentes da pós-graduação nos cursos de graduação, “o que foi uma verdadeira revolução”, ressaltou. Segundo Habert, “Coimbra tinha três paixões: a Coppe, o botafogo, e os destilados. Seus últimos momentos foram vividos com uma alegria quase infantil, nos momentos em que a saúde permitia. Como diz Marlene, sua esposa, aqui presente, ele alcançou tal estágio porque não guardava rancores”.
“Coimbra é um vulto da ciência e da tecnologia brasileira, assim como Leite Lopes. São pessoas que veem longe, como se fossem profetas”, declarou o presidente da ABC, Luiz Davidovich, lembrando que, como educador, foi contemplado com o prêmio Anísio Teixeira, em 1981, concedido pelo Ministério da Educação. Segundo Davidovich, o fundador da Coppe já alertava para vários problemas que viriam a se confirmar mais tarde, e citou como exemplo sua incansável defesa pelo tempo integral na educação básica. “A mensagem que Coimbra deixou é importante para os jovens e também para os velhos”, concluiu o professor.
Segundo Aquilino Senra, Coimbra não foi importante somente para a Coppe, mas para todo o país. “Ele implementou preceitos que foram replicados por outras instituições e que estão presentes até os dias atuais. Antes, os professores costumavam dar aula e seguiam para os escritórios de engenharia. Ao quebrar essa rotina, o fundador da Coppe deve ter gerado conflitos, afirmou Aquilino, que ao logo da vida se tornou amigo de Coimbra. “Ele tinha curiosidade científica como poucos e paixão pela soberania nacional. Duas coisas o deixavam triste: a derrota do Botafogo e um programa da Coppe mal avaliado pela Capes”, contou Aquilino.
Empreendedorismo e compromisso com a sociedade
Maurício Guedes, diretor de Tecnologia da Faperj, destacou o talento empreendedor do professor Coimbra. “Com certeza são netos dele a Incubadora de Empresas da Coppe e o Parque Tecnológico da UFRJ. Coimbra sabia assumir riscos, como o de criar a Coppetec, e de fazer parcerias, a exemplo da firmada com a Finep, por meio do José Pelúcio”, destacou Guedes ressaltando seu compromisso com a sociedade, “uma marca muito forte de sua trajetória”, afirmou.
A determinação de Coimbra para o desenvolvimento de uma ciência voltada para a sociedade também foi destacada pelo presidente da SBPC, Ildeu de Castro, o que, segundo ele, “se tornou um compromisso da instituição e resultou em uma coletânea de discípulos.” Ildeu disse que a ciência brasileira emplacou o pré-sal e que muitos que contribuíram para que isso acontecesse foram formados pela Coppe, destacando o a liderança do professor Lobo Carneiro neste processo, incluindo a criação da Petrobras.
O Decano do Centro de Tecnologia da UFRJ, Walter Suemitsu, ressaltou a contribuição de Coimbra para a pós-graduação em todo o Brasil, acrescentando que em meados dos anos 70, a Coppe já tinha um nome forte fora do Rio de Janeiro. “Precisamos ter o espírito e a coragem do professor Coimbra”, concluiu.
A vice-reitora da UFRJ, Denise Nascimento, disse ter certeza de que a família de Coimbra propiciou o equilíbrio para que o professor trabalhasse dessa forma, e que ele tinha um olhar especial. “Coimbra aglutinou ideias e pessoas. Temos que celebrar a memória desse grande idealizador, cuja presença nos faz muita falta em tempos como esse, com tantos desafios a superar. Sinto a falta dele como orientador.”
O professor e ex-diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, destacou que apesar de ter seguido o modelo americano de pós-graduação, ao implantar a Coppe, o professor Coimbra chamou russos para lecionar na instituição. Por isso, acabou pagando um preço caro, tendo que enfrentar três coordenadores de programas, entre eles um general do exército. Acabou sendo preso e afastado, o que para Pinguelli foi uma injustiça imensa. Ao encerrar seus dizeres, Pinguelli disse ter saudades das reuniões com Coimbra e sua esposa Marlene, em sua residência, e outros colegas. “Era impressionante como ele sabia de tudo o que acontecia no Brasil. Muita saudade!”
Ao falar do “espírito” de Coimbra, a professora e ex-diretora da Coppe, Angela Uller, disse que quando ingressou na instituição, como aluna de Engenharia Química, em 1971, se deparou com a placa “Deus abençoe a pesquisa aos sábados”. Contou que a prisão de Coimbra nos anos 1970 trouxe muita comoção, e lembrou que, na época, sua irmã, a pesquisadora Beatriz Uller, havia chegado em casa chorando, dizendo que a Coppe iria acabar.
Angela relembrou também que, em 1984, todos os integrantes do Programa de Engenharia Química foram ao bairro do Leblon para trazer o professor de volta para a Coppe. Em sua opinião, uma das muitas ações emblemáticas de Coimbra foi à criação da Coppetec, que passou a dar aos docentes a possibilidade de fazer consultorias, sem deixar de dar aulas. “Coimbra influenciou a implantação da pesquisa no Nordeste. Hoje, há muitas ‘Coppes’ por aí”, concluiu.
Pioneiros da Coppe também prestam homenagem a Coimbra
O professor da Coppe, Willy Lacerda, destacou que Coimbra era idealista e que queria libertar o Brasil. “Ele percebeu que o primeiro passo para alcançar tal independência era mudar o modelo das universidades do país. Tinha horror à burocracia, e resolvia os problemas de modo simples e direto. O seu lugar na história está garantido”.
Companheiro de Coimbra desde o ginásio e do clube Botafogo, o professor da Coppe aposentado, Jacques de Medina, comoveu a plateia ao falar da amizade entre eles. “Tenho lembranças muito fortes do amigo que tive”, afirmou, para em seguir convidar à plateia para uma reflexão sobre o Brasil: “deixo aqui um lembrete: Coimbra me deu um livro sobre a revolução francesa. Acho que estamos precisando, já, de uma revolução francesa aqui”.
O professor da Coppe, Luiz Bevilacqua, que colaborou na criação de alguns programas da Coppe e no recrutamento de docentes, disse que Coimbra fazia a pré-seleção de professores pelo brilho do “olho branco”. Bevilacqua, que no início era do Programa de Engenharia Mecânica, teve papel também na estruturação do Programa de Engenharia Civil. Coimbra, que havia lhe pedido para convidar Willy Lacerda e Jacques de Medida para lecionar na Coppe, foi por ele convencido a também trazer Lobo Carneiro. Segundo ele, na Escola de Engenharia da UFRJ houve uma enorme rejeição para que a Coppe fosse criada porque os professores eram contra a pós-graduação no Brasil. “Mas Coimbra não teve medo dessa reação e foi adiante, pois amava o país. Cabe a nós não deixar a peteca cair. Coimbra, valeu a pena!”.
Sônia Maria, ex-secretária do professor Coimbra, relembrou os primeiros anos da Coppe, no campus da Praia Vermelha, quando a instituição contava com apenas quatro funcionários. Entre as lembranças, destacou a aquisição de uma Kombi cinza, como doação. O próprio Coimbra assumiu o volante e deu uma volta pelos arredores do prédio com alguns funcionários. “Ao retornar, disse: está inaugurado o setor de transportes da Coppe”, relatou Sônia, que também ressaltou o lado social e humano do professor, lembrando à assistência que dava a quem com ele trabalhava. “Ele era realmente muito generoso. Deve estar no céu fundando outra Coppe”, concluiu emocionada a secretária e amiga do fundador da Coppe, citada por todos como um dos braços direitos de Coimbra, ao lado do motorista Laerte Xavier, também presente e homenageado durante a cerimônia.
Saiba mais sobre o professor Alberto Luiz Coimbra
- Publicado em - 16/11/2018
- Atualizado em - 08/01/2019