/Coppe presta homenagem ao seu criador
A Coppe/UFRJ promove, no dia 14 de novembro, a cerimônia de homenagem ao professor Alberto Luiz Galvão Coimbra (1923-2018), criador da Coppe, cuja determinação e ousadia contribuíram na criação da pós-graduação no Brasil, e no comprometimento da atividade de pesquisa com o desenvolvimento do país. A cerimônia será realizada, das 11 às 13 horas, no auditório da Coppe, Bloco G, sala 122, Centro de Tecnologia, Avenida Horário Macedo, 2.030, Cidade Universitária. Aberto ao público, o evento integra o programa de comemoração dos 55 anos da Coppe.
Coimbra: um idealista apaixonado por matemática
Carioca, nascido em Botafogo, em 1923, Alberto Luiz Galvão Coimbra foi um dos 13 alunos aprovados para cursar Química Industrial na Escola Nacional de Química da Universidade do Brasil, atual UFRJ, concluindo a graduação, em 1947. Na universidade, tomou gosto pela matemática, que mais tarde o conduziria à Engenharia Química.
Continuar estudando após a graduação era raríssimo no Brasil de 1947. Mas o botafoguense, apaixonado por Matemática e fã de jazz, gostava de um desafio. Com uma bolsa do CNPq, embarcou para os Estados Unidos, e em 1949 obteve o título de Mestre em Engenharia Química pela Universidade Vanderbilt.
Convidado pelo professor Frank Tiller, seu orientador de mestrado, visitou universidades americanas, em 1960, nas quais os cursos de Engenharia estavam sendo reformulados. Havia uma nova ênfase na pesquisa científica, uma valorização dos fundamentos da física e da matemática. Entusiasmado com o que viu, volta para o Brasil inspirado pela ideia de estabelecer um curso de pós-graduação, em uma época em que era rara tal continuidade nos estudos. Era o que faltava ao Brasil, achava Coimbra, já tomado pelo sonho de ver brotar tecnologia na terra do café.
Com a ajuda de Tiller, conseguiu verbas de fundações americanas para contratar professores estrangeiros e dar bolsas de estudos para alguns estudantes brasileiros fazerem o mestrado nos Estados Unidos. Na volta, os jovens mestres se tornariam docentes do novo curso. Assim, o professor Alberto Luiz Galvão Coimbra apresentou, em março de 1961, à Escola de Química da então Universidade do Brasil (atual UFRJ), onde lecionava, o documento “Oportunidade para a instalação de um curso de pós-graduação de Engenharia Química no Brasil”.
Nasce a Coppe: o sonho materializado
A iniciativa era considerada utópica e inconveniente pela maioria dos colegas, na Escola de Química. A sorte é que ele contava com o apoio de Athos da Silveira Ramos, diretor do Instituto de Química da Universidade do Brasil, que aceitou incluir o novo curso em seu organograma. Athos cedeu a Coimbra duas pequenas salas no campus da Praia Vermelha, e em março de 1963, o curso começou a funcionar. Assim nasceu a Coppe, primeira pós-graduação em Engenharia do Brasil, hoje o maior centro de ensino e pesquisa da América Latina na área. Defendeu energicamente um modelo de ensino baseado em horário integral, com dedicação exclusiva. Em uma época em que ser professor universitário no Brasil era só uma atividade extra, e quando as escolas de Engenharia, então existentes, se preocupavam, basicamente, em formar profissionais para o mercado, ele queria investir em pesquisa.
Baseada em três pilares – excelência acadêmica, dedicação exclusiva de professores e alunos e aproximação com a sociedade –, a pós-graduação criada por Coimbra inspirou e serviu de modelo para outros cursos de pós-graduação criados posteriormente no Brasil, mudando os rumos do sistema universitário no país.
Coimbra e Pelúcio: encontro decisivo para o futuro da pesquisa
No princípio, o curso vivia dos apertados recursos do Instituto de Química e de algumas fundações, da determinação de Coimbra e da dedicação do pequeno grupo de docentes. A sorte mudou quando Coimbra foi apresentado a José Pelúcio Ferreira. Na chefia do Departamento Econômico do BNDE (o atual BNDES), Pelúcio buscava opções para o uso de recursos reservados pelo Banco para treinamento técnico e profissional em empresas. A maioria não utilizava o crédito ou o fazia mal. O recém-criado curso de mestrado em Engenharia Química poderia ser um dos destinatários.
O encontro entre Coimbra e Pelúcio foi decisivo para o futuro das universidades brasileiras e da pesquisa científica no Brasil. Numa sintonia que logo se tornou amizade, os dois discutiram critérios e diretrizes do que seria o Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico (Funtec). A turbulência provocada pelo golpe militar, em março de 1964, não impediu a criação do Fundo. Nos anos seguintes, os recursos do Funtec apoiaram a criação de programas de pós-graduação Brasil afora, lançando as bases de uma política de desenvolvimento tecnológico e científico nacional. O primeiro contrato foi assinado em 21 de dezembro de 1964, com o curso de mestrado em Química, criado por Coimbra, que deu início à Coppe.
Crise e Reinvenção: os anos de chumbo
Por conta de sua atuação em prol de uma ciência independente, foi perseguido durante a ditadura militar, impedido de exercer cargos de chefia na universidade e passou dez anos exilado da vida universitária. Mas as ideias e propostas por ele disseminadas foram perpetuadas por todos que com ele contribuíram para erguer a pós-graduação no país, de forma que as bases do modelo concebido por Coimbra permanecem até hoje.
Sua reabilitação veio em 1981, ainda durante o regime militar, quando recebeu o Prêmio Anísio Teixeira, do Ministério da Educação. De volta à Coppe em 1983, assumiu a coordenação do Programa de Engenharia Química, o primeiro curso da Coppe, no qual permaneceu como pesquisador até se aposentar, em 1993, já com as merecidas honrarias, tornando-se Professor Emérito da UFRJ. Em 2015, tornou-se Pesquisador Emérito do CNPq.
Em 1995, a instituição que Coimbra sonhou e construiu deu-lhe um dos maiores reconhecimentos que se pode receber em vida: passou a se chamar Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia. Manteve-se, porém, a sigla que ele escolhera 30 anos antes: Coppe.
A Coppe prestou várias homenagens ao seu criador, em vida. As mais recentes, em 2013, na ocasião de comemoração dos 50 anos da instituição, que reuniu mais de 1000 pessoas no Pier Mauá; e em 2015, com a inauguração de uma exposição e lançamento de uma revista contando a história da instituição. Na ocasião, no hall lotado do prédio da Coppe, no CT 2, Coimbra deu mais de 200 autógrafos durante o lançamento do livro “Mecânica dos Fluidos”, escrito nos anos 1960, a partir de apontamentos feitos pelo professor para estimular seus alunos no gosto pela matemática e pela engenharia e suprir a carência de material didático. A apostila original se encontra na Biblioteca de Obras Raras, do Centro de Tecnologia. Foi graças a esse original que a obra pode ser revisada e publicada.
“Eu vejo que valeu a pena viver tanto assim. Porque eu pude ver, em vida, o reconhecimento pelo trabalho que nós fizemos na Coppe”, afirmou Coimbra durante a inauguração do evento Coppe em cinco décadas: a arte de antecipar o futuro, em 21 de maio de 2015.
Falecido em 16 de maio de 2018, aos 94 anos, o criador da Coppe será mais uma vez homenageado pela instituição que criou. No próximo dia 14 de novembro, além da cerimônia no auditório da Coppe, será inaugurada uma escultura que perpetuará sua imagem na entrada do Bloco G, no Centro de Tecnologia, a primeira sede da Coppe na Ilha do Fundão.
Saiba mais sobre o professor Coimbra em uma entrevista exclusiva por ele concedida à revista histórica "Engenharia e Inovação: A Arte de Antecipar o Futuro", lançada na comemoração dos 50 anos da Coppe, e confira abaixo o seu depoimento, disponível no Youtube.
- Publicado em - 25/10/2018