/Debate sobre o futuro do pré-sal reuniu mais de 300 pessoas na Coppe
“O Brasil precisa investir mais em desenvolvimento tecnológico para viabilizar os novos projetos para os campos do pré-sal. É necessário implantar um sistema de produção do século XXI, com alta tecnologia e baixo custo", ressaltou o professor Segen Estefan, do Programa de Engenharia Oceânica da Coppe/UFRJ, durante o seminário “O futuro do pré–sal”, que reuniu mais de 300 pessoas no auditório da Coppe, dia 25 de julho. O evento, patrocinado pela Petrobras, também foi transmitido pela internet.
Palestrante do painel "Tecnologia e conteúdo nacional", Segen acha difícil o pré-sal brasileiro conviver com preços na faixa de U$ 40 a U$ 50, o que considera perigoso para viabilizar os novos projetos voltados para o pré-sal. De acordo com o professor da Coppe, é preciso investir imediatamente na implantação de tecnologias inovadoras voltadas para a produção de baixo custo, as quais propiciarão retorno adequado ao investimento, mesmo com o atual baixo preço do barril de petróleo. Segundo ele, o baixo preço poderá ser compensado pelos ganhos tecnológicos.
"Com base em estudos em andamento na Coppe, estamos convencidos que a produção submarina, minimizando o uso de sistemas flutuantes, poderá ser introduzida com sucesso. Temos que tirar tudo o que temos da prateleira, fazer valer o investimento realizado nos laboratórios nos últimos 20 anos, e tornar este processo viável para implantação nos próximos cinco a dez anos”, afirmou. Segundo o professor da Coppe, várias empresas, incluindo as sediadas no Parque Tecnológico da UFRJ, estão desenvolvendo equipamentos e processos que permitirão a transferência das operações da superfície para o fundo do mar. “Com tecnologias como essas poderemos reduzir os custos, aumentando a viabilidade do investimento necessário para o pré-sal", afirmou Segen.
O professor da Coppe falou sobre a necessidade de maior utilização de técnicas de controle e atividades robotizadas para minimizar os custos de manutenção, inspeção e reparo. Disse também que o conteúdo local deve ser equacionado sob o enfoque tecnológico, buscando-se maior competitividade para as empresas sediadas no País. "A formação de recursos humanos é fundamental para que tenhamos uma base sólida para o avanço da engenharia nacional", comentou o professor. Confira a apresentação: Futuro do Pré-sal: Conteúdo Local e Tecnologia
O gerente geral de P&D em Desenvolvimento de Produção do Cenpes/Petrobras, Gustavo Adolfo Villela de Castro, que participou do mesmo painel, concordou com o professor Segen. Segundo ele, as novas tecnologias é que possibilitarão grandes ganhos de custo de produção para vencer os desafios do pré-sal. “Elas são fundamentais, especialmente em cenários como os atuais, de baixo preço do barril do petróleo. Entre elas, destacaria as que permitem ampliar o diâmetro de um poço, no lugar de aumentar a quantidade de poços explorados. Isso reduziria custos”, ressaltou.
Gustavo também destacou os avanços obtidos pela Petrobras nos últimos anos, como o tempo de perfuração no pré-sal, que em 2010 era de 300 dias e hoje dura apenas 70. "Os resultados obtidos são sem iguais na história. Hoje a Petrobras já tem nove FPSOs atuando no pré-sal, e sua produção média é de 20 mil barris, ao dia, em todos os poços do pré-sal", afirmou o gerente geral de P&D em Desenvolvimento de Produção do Cenpes. Confira a apresentação: O Futuro do Pré-sal: Tecnologia e Conteúdo Local
O vice-diretor da Coppe, Romildo Toledo, que coordenou esse painel, acrescentou que o Brasil tem infraestrutura e formação de mão-de-obra. "Nos últimos 20 anos muito já foi feito no país. Não há dúvida de que a academia e a indústria podem desenvolver novas tecnologias", afirmou.
Pré-sal: perspectivas e riscos
Para o professor Alexandre Szklo, do Programa de Planejamento Energético da Coppe, o Brasil pode atingir e se manter num patamar de produção de petróleo acima de 4 milhões de barris/ dia por mais de 15 anos, a partir de 2025.
“Nossas curvas de custo para a produção por campo no Brasil indicam este resultado, chegando a cerca de 50 bilhões de barris de produção remanescente, no pré-sal e no pós-sal, para campos descobertos. “Poucos são os países que produzem este volume por tanto tempo. Entraremos no clube dos top 10”, destacou o professor, que participou do painel “Perspectivas do Pré-sal”.
Porém, como destacou o professor da Coppe em sua apresentação, os riscos estão nos detalhes. Segundo ele, para aproveitar da melhor forma esse potencial, o Brasil precisa enfrentar alguns desafios. O primeiro é desenvolver a recuperação melhorada nos campos do pós-sal e já introduzir no pré-sal técnicas avançadas de recuperação. “O pós-sal atingiu taxas de declínio de produção consideráveis: maiores do que a média do offshore mundial”, afirmou o professor da Coppe, que também chamou atenção para o fato de que nem todo o pré-sal é excepcional. Há áreas com grande razão gás-óleo e alto teor de CO2 no gás.
O nível de detalhes das regras e a incongruência de algumas cláusulas com a realidade da indústria são questões que, segundo ele, também precisam ser reavaliadas. “Ambas fazem com que nenhuma operadora atenda aos critérios requeridos. A multa é sistêmica e estrutural. Logo, o princípio do conteúdo local é correto, mas sua aplicação e regra ineficazes, excessivos e desfocados”, ressaltou o professor.
O professor da Coppe também apontou como outro desafio a ser vencido, o fato de o Brasil ter hoje três regimes fiscais e, no caso da concessão, diferentes regras e critérios a cada rodada. “A questão da unitização de produção é um aspecto crítico. Na nossa análise, cerca de 23 bilhões de barris seriam candidatos a processos de unitização e estes processos podem retardar e encarecer a produção”, ressaltou Szklo.
“Produzir cerca de 4 milhões de barris por dia e refinar cerca de 2,0 a 2,5 milhões de barris por dia nos coloca na posição de grandes exportadores de óleo e certamente grandes importadores de derivados de petróleo. A decisão por expandir o refino no Brasil se mostrou um enorme fracasso, devido ao viés tributário e político na decisão de localização de refinarias, projetos mal concebidos e sobrecustos expressivos. A política de ICMS acaba determinando o local onde instalar uma refinaria e isto é um drama, pois sediar uma refinaria na região Norte do país acaba gerando mais custos operacionais do que se fosse no Nordeste, sul ou sudeste", lamentou Szklo.
O professor da Coppe alerta ainda para o fato de que o Brasil corre o risco de enfrentar um gargalo logístico para importar derivados no mesmo momento em que se tornará grande exportador de óleo. “Cabe retomar o planejamento do abastecimento com foco em critérios técnicos”, Szklo. Confira a apresentação: Seminário – O futuro do Pré-sal
O professor Luis Eduardo Duque Dutra, da Escola de Química da UFRJ, estima que o preço do barril do petróleo ficará por mais cinco anos na faixa de U$ 40, caso se mantenha a dinâmica que vem prevalecendo neste mercado. Segundo ele, nos últimos 65 anos o preço do barril esteve mais tempo abaixo do valor médio e a última fase de baixa durou 15 anos. "A tendência é que entre 2023 e 2024 o preço do barril esteja bem mais alto e neste período também ocorrerá o pico da produção no pré-sal", afirmou o professor, que participou do mesmo painel.
De acordo com Luis Eduardo Dutra, hoje cinco grandes empresas privadas dominam o petróleo no mundo. Desde 2010, elas estão vendendo os campos pequenos e comprando os grandes. Dessa forma, já acumularam 73 bilhões em vendas de ativos, somente nos últimos cinco anos. Com base neste comportamento e no potencial de caixa acumulado nos últimos anos por estas grandes empresas, o professor da Escola de Química alerta: “essas empresas estão de olho na próxima fronteira do petróleo, que é o ultra-profundo. Somente elas e as estatais têm condições de explorar nesta área, onde as reservas estão em países como Angola, Nigéria, Brasil e México. Elas estão de olho no nosso petróleo. Com certeza!”- afirmou o professor, que também é assessor da diretoria da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). Confira a apresentação: O futuro do pré-sal - Seminário Coppe–UFRJ
Mudança na lei do Petróleo
Para o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor de Relações Institucionais da Coppe, a mudança na lei do petróleo em votação na câmara dos deputados é um tema de caráter imediato. Segundo ele, por trás dessa alteração há o objetivo de vender, se possível, “pedaços da Petrobras”.
"Essa mudança faz parte da política neoliberal do novo governo. Trata-se de uma questão meramente política. Mas a dívida da Petrobras não se resolverá com medidas neoliberais", afirmou Pinguelli, ressaltando ser necessário dar continuidade aos investimentos internos no país. “O Brasil lutou muito para criar sua própria petrolífera”, lembrou o professor, que coordenou o painel “Mudança da Lei do Petróleo no Brasil”.
Debatedor no mesmo painel, o professor Helder Queiroz, do Instituto de Economia da UFRJ, disse que o risco da Petrobras ser operadora única do pré-sal vai depender do ritmo do desenvolvimento e do regime que se pretende adotar na hora da licitação. De acordo Helder, a questão principal não é o fato da Petrobras ficar como operadora única ou atuar em regime compartilhado, já que muitas empresas operam desta forma no mundo. "O que importa é a qualidade do contrato. Se o operador do pré-sal for único, nem precisa fazer leilão. E não podemos achar que o pré-sal não tem riscos. Há riscos distintos e o que está em jogo é o plano de negócios que a Petrobras apresentará em setembro", afirmou Helder, que também alertou para o fato da produção fora do pré-sal estar em declínio.
Helder Queiroz traçou um histórico da Petrobras e disse que foi uma conquista a empresa já ter atingido a marca de 1 milhão de barril de petróleo por dia nos campos do pré-sal. O professor lembrou que os desafios tecnológicos foram muitos, mas foram sendo superados e muitos com a colaboração da Coppe. “Hoje, há cerca de 80 empresas do ramo de petróleo e gás instaladas no Brasil. Em 1999 só havia a Petrobras”, lembrou.
O senador Lindbergh Farias destacou no início de sua palestra que tem atuado em defesa da Petrobras se manter na posição de operadora única. Também revelou estar preocupado com “a ofensiva conservadora que está ocorrendo no Brasil e na América Latina”. Relator do projeto apresentado pelo senador Ricardo Ferraço, que tira da Petrobras o direito de ser a única operadora do pré-sal e seus direitos aos 30% do que for produzido, o senador Lindbergh considera a proposta absurda e defendeu que tudo que envolve o pré-sal tem que estar relacionado ao desenvolvimento social do Brasil.
"Já está tendo ataque sobre a política do conteúdo local. As empresas querem o filé. Se temos as vantagens competitivas, para que abrir mão da Petrobras ser a única operadora? Quem descobriu o pré-sal? Quem fez os investimentos? Se a Petrobras deixar de participar do campo de Libra, teremos 246 bilhões de barris a menos para o país. A Petrobras como operadora única pode controlar o ritmo da extração, preservando os interesses nacionais. Mas, infelizmente, a proposta da retirada da Petrobras como única operadora passará na câmara em agosto. É certo", lamentou o senador.
No encerramento do evento, o diretor da Coppe, professor Edson Watanabe, que coordenou o painel Perspectivas do Pré-sal, disse que a proposta do professor Segen, “de levar tudo para o fundo do mar”, deve ser pensada seriamente. "Esse é um grande objetivo, um desafio enorme que irá mobilizar a engenharia e tocar o país para frente", afirmou. Watanabe também alertou que é necessário continuar a refletir sobre o pré-sal. “Esse seminário confirmou minha opinião em relação à Petrobras. “Ela é um orgulho para o país. Em menos de dez anos descobriu o pré-sal e passou a produzir 1 milhão de barris por dia, o que é extraordinário”, ressaltou o diretor da Coppe.
- Publicado em - 27/07/2016