Lista de Notícias

/Piatam: tecnologia previne agressão ao meio ambiente na Amazônia

Quando o rio Solimões transborda, alaga uma área de 140 quilômetros de extensão ao longo de suas margens. Num espaço de três a quatro meses, as águas do Solimões nas proximidades de Coari, 360 quilômetros a oeste de Manaus, podem atingir a espantosa diferença de até 15 metros entre a cheia e a vazante. Ao longo dos séculos, uma população esparsa de caboclos vinha convivendo tranquilamente com esse alagamento sazonal de proporções continentais, transmitindo para as novas gerações os conhecimentos de como lidar com as modificações na natureza e no transporte fluvial. Mas desde 1986, quando a Petrobras descobriu no rio Urucu, afluente do Solimões no coração da região amazônica, a segunda maior reserva de gás e a quarta maior de petróleo do país, tornou-se imperioso o mapeamento de informações desse ecossistema de vital importância para o planeta.

Transportar uma mercadoria tão poluente quanto óleo em meio à sensível vegetação inundada pode ser fatal se faltarem os mecanismos gerenciais necessários em caso de acidente. Quando a atividade petrolífera no meio da selva teve início, eram ainda precários os conhecimentos sobre as particularidades da região. Numa iniciativa pioneira, academia e indústria deram-se as mãos, num projeto batizado de Piatam, para preencher essa lacuna e interligar os estudos de impacto ambiental com decisões de gerenciamento de riscos operacionais. Alguns dos melhores centros de pesquisa do país emprestam hoje seus avançados métodos de coleta de dados e instrumentos de gerência para ampliar os conhecimentos do meio ambiente e construir uma base de dados que sirva de apoio para a Petrobras produzir energia sem sujar a natureza.

A produção de Urucu gira em torno de 55 mil barris diários de petróleo e 7 milhões de metros cúbicos de gás (dos quais a Petrobras processa uma décima parte, reinjetando o restante no solo). Os 2 mil homens que trabalham na província petrolífera e os equipamentos são transportados de avião e helicóptero. Um poliduto (gás e petróleo) de 290 quilómetros de extensão ligando Urucu a Coari foi construído na selva com corte mínimo de vegetação. De Coari a Manaus, o óleo é transportado em navios, e nesse trecho os riscos são maiores.

O Piatam — que, por extenso, significa Monitoramento das áreas de atuação da Petrobras: potenciais impactos e riscos ambientais da indústria do petróleo e gás no Amazonas — começou em 2000 e está hoje em sua segunda fase. Esse projeto une a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Instituto de Tecnologia da Amazônia, a Coordenação de Programas de Pós-Graduação de Engenharia (COPPE), da UFRJ, e a Petrobras em um esforço inédito de mapeamento desse recorte da região amazônica. A parceria da Petrobras com a academia na Amazônia despertou a atenção da Pemex, estatal mexicana de petróleo, que quer basear o monitoramento das partes costeiras de seu país nos mesmos princípios.

Entre os principais produtos elaborados estão os métodos de gestão e monitoramento e mapas de sensibilidade ambiental que contemplam o fenómeno da sazonalidade das inundações. Esses mapas, elaborados com ajuda dos equipamentos do Sistema de Vigilância da Amazónia (SIVAM) e analisados no Inpa, em Manaus, e na COPPE, no Rio de Janeiro, são utilizados pela Ufam e pela própria COPPE para desenhar possíveis cenários de risco. "Assim, a Petrobras poderá escolher sem perda desnecessária de tempo os métodos mais adequados para minimizar os danos em caso de acidente", diz o professor Luiz Landau, da COPPE, que integra o grupo de pesquisadores contemplados no programa Cientistas do Nosso Estado, da FAPERJ.

Além dos mapas, a base de dados ao Piatam oferecerá indicadores de qualidade ambiental baseados em pesquisas de opinião entre a população local, o que permitirá criar um conjunto de referências para adotar medidas compensatórias em caso de acidentes. Fazem parte ainda do Piatam estudos de ecotoxicologia ambiental, faunísticos e botânicos e a monitoração sistemática da qualidade da água em pontos específicos no Lago Coari e nos rios Urucu e Solimões. Outra vertente do projeto é o combate a doenças tropicais, associando o estudo do regime de inundações à expansão de vetores. Em Urucu, onde a malária é endémica, não se registraram casos autóctones da doença nos últimos dez anos — o que para Ronaldo Mannarino, coordenador do projeto pela Petrobras, indica o êxito das medidas preventivas adotadas.

"Nunca houve um projeto com tal abordagem na indústria do petróleo", assegura Mannarino. Ele considera os R$ 2,7 milhões destinados ao Piatam II ao longo de dois anos um investimento com alto grau de retorno. Desse total, mais de 60°/o - R$ 1,6 milhão - vêm dos cofres da Petrobras. O restante vem da Finep e do CNPq.

"O Piatam é uma experiência de calibre internacional", afirma o coordenador setorial de petróleo, gás e petroquímica da Finep, Rogério Medeiros. "É um projeto emblemático de uma nova fase da ciência no Brasil - a ciência em cooperação com o setor produtivo a serviço do bem-estar da população e com dano mínimo ao meio ambiente".

 

Leia mais:

 

Piatam Mar revela o meio ambiente da zona costeira Amazônica

  • Publicado em - 11/10/2005