/Professor Willy Lacerda recebe título de professor emérito
Entre familiares, amigos, alunos e companheiros de toda uma vida dedicada à área de geotecnia, o professor do Programa de Engenharia Civil da Coppe, Willy Alvarenga Lacerda, recebeu, dia 6 de outubro, o título de professor emérito da UFRJ, o mais importante reconhecimento concedido pela universidade a um docente. Em clima de confraternização e camaradagem, o título foi entregue pelo reitor Aloísio Teixeira em sessão solene do Conselho Universitário.
A cerimônia contou com a presença do fundador da Coppe, Alberto Luiz Coimbra, do diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, da pró-reitora de Pós-graduação e Pesquisa da UFRJ, Angela Uller, do decano do Centro de Tecnologia da UFRJ, Walter Suemitsu, do coordenador do Programa de Engenharia Civil da Coppe, Fernando Ribeiro, do Professor Emérito da UFRJ, Fernando Emannuel Barata, do diretor do Clube de Engenharia, Francis Bogossian.
Ficou a cargo do Professor Emérito da UFRJ, Jacques de Medina, fazer a saudação ao amigo que conheceu, em 1964, no Departamento de Estradas de Rodagem (DER) e que mais tarde viria a ser seu colega de programa na Coppe. Medina destacou a personalidade marcante e o convívio sempre prazeroso que Willy mantém com todos aqueles que o rodeiam. “Não é sisudo, hermético ou presunçoso, mas um ser espontâneo, dotado de uma verve cativante, com um trocadilho brincalhão sempre na ponta da língua”, descreveu. Medina ressaltou também a perspicácia do fundador da Coppe, Alberto Luiz Coimbra, ao convidar Willy Lacerda, por indicação do professor Luiz Bevilacqua, a fazer parte do corpo docente da instituição, trazendo na bagagem a experiência com mecânica dos solos, o conhecimento profundo em solos tropicais e em estabilidade de encostas.
Ao iniciar seu discurso, Willy agradeceu a todos aqueles que contribuíram para a trajetória profissional tão vitoriosa, a começar pelos pais, Augusto e Esmeralda, que sempre o estimularam nos estudos. “Minha mãe referia-se a mim como ‘meu filho doutor’”. Na infância, leu toda a coleção de Monteiro Lobato. Em uma de suas estórias, Lobato fala que o país não tinha estradas de rodagem, mas estradas de “atolagem”. Na escola, Willy gostava de imaginar e desenhar no atlas estradas ligando os pontos mais distantes do país. “Mal sabia que anos mais tarde estaria trabalhando justamente no Departamento de Estradas de Rodagem (DER), onde fui chefe da seção de solos”. Entre as leituras de formação, outra grande referência foi a vida de Galileu Galilei. “Li três vezes a biografia de Galileu, o que me influenciou muito na escolha pela carreira na área técnica”, conta Willy.
Ao longo de 42 anos de vida acadêmica, Willy tornou-se uma referência na pesquisa e no ensino de geotecnia no Brasil, formando uma geração de professores e pesquisadores no Brasil e no exterior. Foi na área de reabilitação de encostas que sua atuação se fez e ainda se faz mais presente. “Quando em 1966 o Rio de Janeiro sofreu centenas de escorregamentos em apenas três dias, aprendi uma lição do Feng Shui que nunca mais esqueci. Segundo essa antiga arte chinesa de criar ambientes harmoniosos, a montanha é simbolizada pelo dragão, e a regra é nunca construir aos pés de um dragão ferido”.
O professor Willy possui uma vasta ficha de serviços prestados, tanto no setor público como no privado. Ao concluir a universidade, foi admitido na empresa Tecnosolo, onde ganhou experiência enfrentando os problemas do dia a dia na área de mecânica dos solos. Depois dessa experiência, foi convidado a trabalhar no Departamento de Estradas de Rodagem (DER) da Guanabara, onde chefiava a seção de solos. Em seguida, integrou o corpo técnico do Instituto de Geotécnica do Rio de janeiro. No Instituto de Pesquisa Rodoviário (IPR/DNER), coordenou também um grupo de pesquisas em argilas moles, auxiliando os projetos de aterros sobre solos moles na Baixada Fluminense. Foi ainda responsável pelo monitoramento das obras geotécnicas das escavações do Metrô do Rio.
Muito requisitado, prestou uma quantidade incontável de serviços para órgãos públicos, no intuito de prevenir ou conter impactos em locais de encostas que sofreram grandes escorregamentos. Como bem lembrou o diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, o professor Willy Lacerda, com sua competência técnica e solicitude sempre atendeu prontamente às solicitações, contribuindo de forma decisiva em momentos difíceis. “Foi dessa maneira que atendeu em tempo recorde ao pedido feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para avaliar os estragos decorrentes das chuvas que atingiram o estado de Santa Catarina, há dois anos, e sugerir soluções de prevenção", diz Pinguelli. Da mesma forma colaborou, liderando equipe de professores e pesquisadores na avaliação dos impactos dos deslizamentos ocorridos no Rio de Janeiro – em Niterói, Angra dos Reis e Ilha Grande – que vitimaram centenas de pessoas.
“É nesse cenário desafiador em que a sociedade exige ações concretas que reduzam o impacto sobre o meio ambiente, proporcionando a recuperação de áreas degradadas que sobressai a importância do trabalho de Willy Lacerda”, elogia Pinguelli.
O dia de confraternização também contou com o espírito crítico característico de sua personalidade. Willy defendeu a revisão das regras de avaliação da Capes e mais oportunidades de ingresso de professores nas universidades públicas. “No caso da geotecnia, o conhecimento não se dá apenas pelos livros, a vivência e a prática são muito importantes, por isso, faço questão de levar meus alunos a visitas de campo. Isso não é levado em conta pela avaliação da Capes, um engenheiro experimentado não conseguiria preencher os requisitos hoje exigidos”, lamenta.
Da graduação na Escola Nacional de Engenharia da Universidade do Brasil, passando pelo mestrado e pelo doutorado na Universidade de Berkeley, na Califórnia, até a chegada à Coppe como docente, Willy teve uma vida dedicada ao magistério e à pesquisa. Muitas pessoas testemunharam suas conquistas, mas ninguém mais importante que os quatro filhos e a esposa, Maria Luiza, “uma companheira vibrante e entusiasmada, a qual devo muito da minha carreira”, reconhece.
O professor encerrou seu discurso agradecendo a todos que participaram de sua trajetória. “Quero agradecer a todos com o mais profundo sentimento de gratidão. Em 42 anos de convívio na Coppe viajei, ganhei prêmios, orientei alunos, mas o que mais me emocionou foi a oportunidade de desfrutar do convívio de pessoas que acreditam no trabalho sem medo de enfrentar os desafios”.
Discurso de Emerência do professor Willy Lacerda
- Publicado em - 07/10/2010