/Tinta anticorrosiva de Nióbio rende à COPPE patente internacional
A COPPE acaba de conquistar nos EUA a patente de uma tinta anticorrosiva, produzida à base de nióbio, metal cujas maiores reservas do mundo encontram-se no Brasil. A patente é resultado de pesquisa desenvolvida pelo professor do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da COPPE, Luiz Roberto Miranda, que há mais de 30 anos estuda revestimentos anticorrosivos. A tinta patenteada poderá reduzir radicalmente os gastos em aços especiais que pesam no orçamento das indústrias, principalmente química e petrolífera. Através da Fundação Coppetec, a COPPE solicitou também duas outras patentes relacionadas a métodos de aplicação do nióbio, todas elas no Brasil, na Europa e nos EUA.
O nióbio é um metal que devido a sua baixíssima reatividade pode ser o revestimento perfeito para a indústria petrolífera, que atualmente luta contra a corrosão através do uso de aços inoxidáveis muito caros e, ainda assim, nem sempre obtendo bons resultados. “Muitos vazamentos de óleo são decorrentes de corrosão” – afirma o professor Miranda.
A tinta à base de nióbio é a primeira patente internacional obtida pela COPPE, que no momento possui 72 patentes solicitadas, sendo 14 em âmbito internacional. De acordo com a Divisão de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia da UFRJ, a tinta é a terceira patente internacional concedida no âmbito da universidade.
Brasil possui reservas de nióbio para 300 anos
Com a chamada “niobização” (aplicação de revestimento anticorrosivo à base de nióbio), a indústria petrolífera poderia utilizar aço comum, que pode chegar a ser até cem vezes mais barato que alguns aços inoxidáveis. Além de propiciar menor custo e melhor resultado, o nióbio é um metal explorado pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), que detém reservas para mais de 300 anos (com o uso atual) e é a maior fornecedora do metal no mundo.
As três patentes propostas pela COPPE dizem respeito a diferentes métodos de “niobização”. A tinta pigmentada com nióbio, que já teve sua patente concedida nos EUA, possui a vantagem de poder ser aplicada a frio. Já o método de aspersão térmica, cuja patente ainda está sendo analisada, consiste em aplicar óxido de nióbio aquecido a 300º C com o chamado thermal spray. Assim como a tinta pigmentada, este método tem como vantagem permitir a aplicação no próprio local de extração ou refino do petróleo, sem custos de transporte de equipamentos. A terceira patente requerida consiste na produção industrial de chapas de aço já revestidas por nióbio. Segundo o professor, este método é o que possibilitaria maior agilidade e redução de custo porque poderá ser implementado em escala industrial.
A tecnologia da niobização foi desenvolvida no laboratório da COPPE, em parceria com a empresa Ecoprotec, responsável por torná-la apta a ser produzida e aplicada em escala industrial. Por isso, o engenheiro Ladimir Carvalho e o técnico Antonio Carlos Gonçalves Pereira, sócios da empresa, são co-titulares da patente. Ladimir é doutor pela COPPE, orientado pelo professor Miranda. “A aprovação de patentes é fundamental para uma instituição de pesquisa. Além de preservar o direito intelectual, a transferência de tecnologia gera recursos. Basta ver o caso da Microsoft, que iniciou numa universidade da Califórnia” – ressalta o professor Miranda, que já detinha uma patente denominada ferrugens protetoras “anticorrosivas”.
Perfil do pesquisador
O engenheiro Luiz Roberto Miranda, 61 anos, é professor do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da COPPE. Doutor em Ciências Politécnicas pela Universidade de Bruxelas, há mais de 30 anos o professor busca soluções para o problema da corrosão. Há mais de 20 anos o professor da COPPE chama a atenção para o descaso do poder público com a manutenção de estruturas, como viadutos e pontes. No final dos anos 80, ao lado do professor Lobo Carneiro, o pesquisador alertou a população do Rio, por meio da imprensa, para o precário estado em que se encontrava a estrutura do viaduto do Joá, devido a problemas de corrosão. O viaduto foi interditado e mais tarde recuperado graças ao alerta dos professores, que chegaram a pedir audiência ao Governador do Estado para explicar a grave situação e advertir que o viaduto poderia desabar a qualquer momento. Um de seus artigos, intitulado “Porque caem os viadutos”, é até hoje citado em jornais e na universidade.
Alguns trabalhos por ele coordenados estão em espaços públicos. É o caso do Cristo Redentor, cuja restauração da estrutura, em 1990, foi feita com base no processo de ferrugens protetoras, desenvolvido em seu laboratório na COPPE. Estátuas e monumentos do Rio de Janeiro também foram objeto de estudo do professor, um dos pioneiros no Brasil a pesquisar e desenvolver métodos científicos para a restauração de objetos de artes, sobretudo os metálicos. Miranda já orientou cerca de cinco teses de mestrado e doutorado sobre o tema. O resultado de alguns dos seus estudos pode ser apreciado em museus, galerias e espaços públicos como o Museu Nacional de Belas Artes, o Museu de Astronomia, o Teatro Municipal, a Câmara dos Vereadores. Os monumentos que ornamentam as praças também não passaram desapercebidos ao olhar atento desse pesquisador. Em 2002, Miranda orientou tese de Doutorado defendida na COPPE, que tinha como objetivo investigar a condição das pátinas de monumentos históricos espalhados pela cidade do Rio de Janeiro. Com base nesta pesquisa, desenvolveu procedimentos de restauro, tendo como base os microclimas de cada lugar. Desenvolveu pátinas especiais, de acordo com as regiões, combatendo assim os principais agentes corrosivos, como a maresia, na Urca, e a umidade, no alto da Boa Vista. A Prefeitura aplicou o método na estátua de Mestre Valentim, que até hoje enfeita a Praça Mahatma Gandhi, na Cinelândia.
Na década de 90, tendo a Amazônia como laboratório, o professor Miranda coordenou uma equipe de dez pesquisadores. A missão era desenvolver técnicas eletroquímicas para identificar agentes corrosivos e definir sistemas de pintura e material que deveriam ser usados nos locais onde seriam instalados os sofisticados radares e equipamentos do recém – criado Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia). Para concluir o trabalho, os pesquisadores estudaram mais de 20 locais da Amazônia Legal, do Maranhão ao Acre.
Patente da COPPE foi notícia no jornal O Estado de S.Paulo. Confira a reportagem através do link abaixo.
COPPE/UFRJ obtém patente de tinta anticorrosiva
- Publicado em - 07/04/2006