/Transposição do Rio São Francisco: prós e contras
O projeto da transposição, integrando o Rio São Francisco às bacias do Nordeste Setentrional vai beneficiar cerca de 12 milhões de pessoas. No entanto, para que o projeto se concretize, os estados de Minas Gerais e Bahia, juntos, precisam ceder 2% do volume de água do rio que banha suas regiões. Uma quantidade de água desprezível, segundo o professor Paulo Canedo, coordenador do Laboratório de Hidrologia da COPPE/UFRJ. Na opinião do pesquisador, que integra o grupo de especialistas que assina a elaboração da versão preliminar do Plano Decenal de Recursos Hídricos da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (PBHSF) para a Agência Nacional de Águas (ANA), esse percentual é pequeno, se compararmos o que esses estados perderão em relação ao enorme ganho que significará para o Polígono da Seca. Por outro lado, o especialista considera pertinente a oposição feita pelos representantes de Minas Gerais, Bahia e Sergipe. Antes de mais nada, é preciso deixar claro que a água tem valor e que esses estados precisam receber pela água que será transportada", ressalta o pesquisador.
Segundo Canedo, o principal ponto da discussão não está no percentual de água a ser transferido. A transposição do Rio Paraíba do Sul para o Rio Guandu, no estado do Rio de Janeiro, por exemplo, é de 70% do volume da água. Apesar de o projeto de transposição do rio São Francisco implicar num volume de água pequeno, o pesquisador defende que os estados que vão ceder a água têm todo o direito de reclamar, pois o que se pede deles é uma renúncia hídrica, que deverá significar um futuro sacrifício em termos de desenvolvimento. "Além disso, não estão sendo contempladas na discussão as várias cidades desses estados que também apresentam problemas de abastecimento e são carentes de infra-estrutura hídrica, mesmo estando às margens do Rio São Francisco”, ressalta.
O aproveitamento hídrico do projeto de transposição do Rio São Francisco foi aprovado pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH), ligado ao Ministério do Meio Ambiente, no dia 17 de janeiro de 2005. De acordo com o Plano Decenal, a transposição propiciará aos estados do Nordeste Setentrional um consumo adicional imediato de 25 m3/s (25.000 litros por segundo), podendo chegar a 65m3/s de água em 2025. Segundo o professor, o semi-árido nordestino tem centenas de reservatórios que são capazes de atender a vazões de até 77m3/s. Com a transposição, no futuro essa região poderá ser beneficiada com um volume de água de 180m3/s. Portanto, um total superior a simples soma da capacidade atual dos reservatórios com o volume de água transportado. “Não se trata do milagre da água. O adicional de 38 m3/s deve-se a uma economia gerada pelo fato de que só estará exposto ao tempo o volume suficiente para o consumo, evitando assim, perdas por evaporação e transbordamento nos reservatórios”, explica o professor.
A seca no semi-árido nordestino é causada pela má distribuição do volume de chuva: na região chega a chover 700 mm por ano, durante uma média de apenas três meses. “Como o solo da região é raso, não há retenção e a água da chuva escoa rapidamente. Outro problema é que muitos dos açudes nordestinos são largos e rasos. Para se ter uma idéia, um açude precisa conter quatro litros de água para viabilizar o uso de apenas um litro. A água evapora com facilidade”, explica o professor que defende a transposição como uma boa solução para o semi-árido brasileiro.
A escassez de recursos hídricos em algumas regiões do nordeste está muito abaixo do limite mínimo estabelecido pela ONU, que é de 1.000 metros cúbicos de água por habitante/ano. Atualmente, a disponibilidade em algumas áreas dos sertões do Nordeste Setentrional é de aproximadamente 500 metros cúbicos por habitante/ano. Neste cenário de carência hídrica, que traduz – se em pobreza e baixos índices de desenvolvimento humano, o São Francisco responde por cerca de 70% da água disponível na região, o que o torna o oásis do nordeste brasileiro.
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- Publicado em - 10/10/2005