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/Geraldo Lippel: do jornalismo à engenharia química

Árduo torcedor do São Paulo Futebol Clube, o professor da COPPE, Geraldo Lippel Sant’Anna, queria ser jornalista. No entanto, às vésperas do vestibular, acabou optando pela Engenharia. Lippel formou-se na USP, onde já no primeiro ano de faculdade descobriu que não tinha muito talento para o desenho e resolver investir na Engenharia Química. Uma escolha que com o tempo se revelou acertada. Basta conferir o currículo profissional e acadêmico do professor, que é pesquisador 1A do CNPq na área de Engenharia Química, agraciado em 2002 com o Prêmio COPPE Mérito Acadêmico e membro da Academia Brasileira de Ciências.

Ainda cursando a faculdade, com 23 anos, Lippel conheceu Maria Josefina Gabriel, com quem se casou e em seguida veio morar, em 74, no Rio de Janeiro. Estimulado pelos amigos e atuais colegas, os professores Claudio Habert e Ronaldo Nóbrega, chegou ao Rio para cursar na COPPE o Mestrado de Engenharia Química. “Desde a faculdade desejava seguir a carreira acadêmica. Muitos de meus colegas da universidade sabiam disso, incluindo os que eram do meu grupo no movimento estudantil. Os que vieram para o Rio fizeram uma pressão tão grande para que eu ingressasse no Mestrado da COPPE, que acabei não resistindo. Hoje agradeço muito a eles”, declara.

No decorrer de sua carreira, Lippel orientou mais de 50 alunos de mestrado e 21 de doutorado, tendo publicado mais de 50 trabalhos em periódicos e mais de 70 em anais de congressos técnicos e científicos. O professor, que destaca a importância da interface entre universidade e setor produtivo, tem coordenado vários projetos e estudos tecnológicos voltados para grandes empresas, como Nortec, Klabin, Petrobrás, Petroflex, Bayer, White Martins e Rhodia, onde participou do Conselho Técnico Científico, de 1992 a 1998. Também está à frente de estudos voltados para o Rio de Janeiro que foram agraciados com a bolsa Cientista do Nosso Estado, concedida pela FAPERJ.

Antecipando tendências

Começou cedo a destacar-se na academia. Ainda no Mestrado, foi contratado como professor auxiliar de ensino. Antecipando o que mais tarde se tornaria uma atividade importante para indústrias e essencial para o meio ambiente, deu início à linha de pesquisa sobre tratamento de efluentes, por meio de bioprocessos, desenvolvida no Laboratório de Controle de Poluição de Águas (LabPol), onde até hoje realiza seus estudos. Após concluir o Mestrado na COPPE, em 1977, Lippel cursou o Doutorado no INSA de Toulouse, na França. Três anos depois, de volta à COPPE, retoma suas atividades no LabPol, dando prosseguimento à sua carreira, com ênfase na área de tecnologia ambiental.

Desde então, passou a se dedicar a estudos voltados para esta área. Em 84 iniciou um novo estudo voltado para a produção de enzimas para a obtenção de bioprodutos, de grande interesse industrial, cujo resultado levou à COPPE a solicitar patente no European Patent Office, no ano de 2003. Já na época, Lippel antecipava uma tendência, que mais tarde tornou-se regra: a adaptação das empresas ao conceito de desenvolvimento limpo.

“O Brasil caracteriza-se pela grande diversidade de matérias-primas ainda pouco exploradas. Considero encantador a possibilidade do uso de enzimas para transformar estes recursos básicos em produtos de maior valor agregado”, declara Lippel, orgulhoso de ter formado pessoas com ênfase nesse campo de atuação, a exemplo da atual professora do Instituto de Química da UFRJ, Denise Freire, hoje reconhecida como uma das lideranças na área.

O professor Lippel também teve importante participação no desenvolvimento do processo de produção de etanol, a partir de amido de babaçu. O projeto foi implantado pela empresa Tocantins Bio Industrial – Tobasa S.A, dirigida pelo engenheiro Edmond Baruque Filho, não por acaso seu ex-aluno. “Hoje, por exemplo, já se faz carvão ativo de alta qualidade a partir do babaçu. A proposta é possibilitar o desenvolvimento de produtos de alto valor utilizando também o óleo do babaçu. O babaçu é a nossa vaca vegetal,” diz.

Trabalho em ritmo frenético não exclui o horário do cinema

À exemplo de muitos de seus colegas da COPPE, Lippel às vezes chega a dedicar mais de 10 horas diárias a seus alunos e projetos e, apesar de receber apoio da família, são muitas as reclamações. “Apesar de já terem se acostumado com o ritmo frenético da casa, a filhas Marina, de 25 anos, e Carmen, com 27, se queixam de nossa ausência. É o preço de ter um pai engenheiro químico, que é professor da COPPE, e uma mãe cientista social, que é professora da UERJ. Mas em compensação, têm pais felizes em casa. É o que digo a elas”, brinca Lippel,

Para compensar a ausência, o professor usa parte do seu tempo de descanso para sair com a esposa e com Marina, que fez licenciatura em artes. As atividades de sua filha caçula podem ter influenciado Lippel que diz amar a arte que envolve o cinema. “Não gosto de assistir filmes em DVD, prefiro as salas de projeção. O cinema é algo mágico, e quando as produções são européias e, em especial, italianas, melhor ainda”, declara o professor que também não dispensa um bom restaurante e adora uma feijoada. Não perde a que é servida toda a sexta - feira no famoso “burguesão”.

Para manter a boa forma física, costuma caminhar pelo menos uma vez por semana, cerca de 5 a 7 km, e há 20 anos pratica RPG (Reeducação Postural Global) com a mesma professora numa academia em Laranjeiras. E no final das contas, também não abandonou de todo o antigo desejo de seguir o jornalismo. Como editor associado do Brazilian Journal of Chemical Engineering, desde 2001, Lippel pratica a atividade da profissão que pretendeu seguir aos 16 anos.

  • Publicado em - 10/10/2006