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/Perlingeiro: escolhas difíceis em favor da Coppe
Em 1961, prestes a se formar em Engenharia Química, o jovem Carlos Augusto Perlingeiro aceitou o convite do professor de quem era monitor, Alberto Luiz Coimbra, para fazer parte da primeira turma do curso de mestrado que Coimbra ainda iria criar. Perlingeiro tinha sido chamado pela Petrobras para participar de um curso que formava os engenheiros da empresa. Abriu mão do emprego certo pela aventura proposta por Coimbra. Não sabia ele que uma década depois teria que fazer nova e difícil escolha – e mais uma vez optaria pela Coppe (confira depoimento em VIDEO).
O mestrado só começaria mesmo em 1963 – mas Perlingeiro não perdeu tempo. Passava os dias se preparando para o curso, com uma bolsa de iniciação científica, quando Coimbra lhe perguntou: “Você quer estudar cérebro eletrônico nos Estados Unidos?” Computador era ficção científica para a maioria dos estudantes brasileiros na época. Perlingeiro passou dois meses em Houston, no Texas, aprendendo programação em um burroughs do tamanho de uma geladeira.
Ao voltar, passou a dar aulas como auxiliar de um professor da graduação em Química e sugeriu incluir a Computação como disciplina obrigatória. Encarregado de ensinar a matéria, escreveu o que é, provavelmente, o primeiro texto didático brasileiro sobre o assunto, intitulado Introdução à comunicação com os computadores digitais. “Não podia escrever ‘programação’ porque ninguém entenderia o que era”, explica ele.
Sua dissertação de mestrado foi a primeira na Coppe a utilizar computador. Em 1968, foi também o primeiro do grupo inicial de alunos a concluir o doutorado, nos EUA. Em 1969, assumiu a coordenação do mestrado em Engenharia Química, cargo que manteria até 1973. Nesse ano, com a saída de Coimbra, ele se tornou vice-diretor da Coppe.
O nomeado para substituir Coimbra, o professor Sidney Santos, docente da Escola de Engenharia, sabia pouco do cotidiano da Coppe, embora também lecionasse ali. Perlingeiro se encarregou do dia a dia, da folha de pagamentos e das negociações com a Finep, que então financiava a instituição. A Finep quis excluir dois programas da Coppe de sua lista de financiados. “Foi uma saia justa. Eu acabei convencendo-os a manterem o financiamento da Coppe como um todo.”
Mas colegas daquela época acreditam que Perlingeiro fez muito mais que isso. Conquistando a confiança de Sidney Santos, teria conseguido transmitir ao novo diretor os princípios que orientaram a criação da instituição, convencendo-o da validade das ideias introduzidas pelo fundador Coimbra. Contribuiu, assim, para a sobrevivência da Coppe e a permanência de seus ideais, num período muito conturbado de sua história.
Na época, lembra Perlingeiro, pela segunda vez abriu mão de uma oportunidade na iniciativa privada: “A Promon queria criar um Centro de Tecnologia e Pesquisa e me convidou. Mas eu não podia abandonar a Coppe naquela hora.”
Confira o vídeo com depoimento dos professores pioneiros da Coppe: Perlingeiro, Bevilacqua e Massarani.
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Publicado em - 26/10/2017
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Atualizado em - 26/10/2017