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/Webe Mansur: mestre por vocação

Neto de libaneses e italianos, o professor Webe João Mansur nasceu em 1948 na cidade de Conselheiro Pena, estado de Minas Gerais. Aos quatro anos de idade, mudou-se com os pais João José Mansur e Ayde Jório Mansur para Governador Valadares, onde concluiu o antigo primeiro grau e cursou o primeiro ano científico, antes de vir para o Rio de Janeiro, em 1965, morar na Ilha do Governador.

Graduou-se em Engenharia Civil na UFRJ, no ano de 1971, década em que a Engenharia no Brasil passava por um grande momento: era o período das grandes construções como a Ponte Rio-Niterói, a Hidroelétrica de Itaipu e outras novas barragens, túneis, estradas, pontes, e viadutos. O clima de otimismo da época, a facilidade para física e matemática e a habilidade com as ciências exatas, foram os fatores que o direcionaram para o mestrado da COPPE. Webe, quatro anos depois, se tornou professor auxiliar do Programa de Engenharia Civil e iniciou seu doutorado, já inspirado e contagiado pelo espírito acadêmico e inovador do Professor Lobo Carneiro, seu orientador de mestrado, que costumava trazer professores renomados para dar aulas na instituição.

O ano de 1978 marcou um novo período em sua vida: casou-se com Alzira Taquetti Mansur, e detectou novas aplicações para sua pesquisa sobre propagação de ondas elásticas, usando equações integrais. “Este estudo foi desenvolvido visando aplicações na engenharia civil e mecânica. Posteriormente, identifiquei a importância do tema para a área geofísica e incluí, a partir de então, tópicos desta área em minhas linhas de pesquisa, com aplicações voltadas para a indústria do petróleo”, explica o professor. Nesta linha de pesquisa, Webe escreveu em 1981 dois artigos utilizando parte das informações de sua tese de doutorado; o resultado foi inúmeras citações em periódicos internacionais.

“As aplicações de nossa pesquisa se estendem aos vários ramos da física, da engenharia e de outras áreas da ciência, como a medicina e a biologia. As principais que venho realizando junto com alunos e ex-alunos, colegas professores e profissionais da indústria, principalmente da Petrobras, são voltadas para acústica ambiental e submarina, dinâmica das estruturas e indústria da construção civil em geral e para a geofísica, com ênfase em ensaios não-destrutivos e construção de imagens de subsuperficie”, explica o professor.

Doutorado em Southampton

Do período em que foi para a Universidade de Southampton, na Inglaterra, em 1979, para dar continuidade ao doutorado, Webe se lembra da estrutura acadêmica excelente e do tempo suficiente para se dedicar aos estudos e ainda praticar esportes. “Eu era do meio-campo do time de futebol de amigos e ainda jogava tênis, aproveitando que na Inglaterra havia uma quadra em cada esquina. Até na neve cheguei a jogar futebol e, enquanto isso, Alzira, minha esposa, que me acompanhou, desenvolvia suas habilidades artísticas, fazendo um curso de pintura”, recorda.

De volta ao Brasil, em 1996 se tornou Professor Titular da COPPE e deu continuidade aos estudos sobre propagação de ondas elásticas aplicado a estruturas, e meios contínuos, que foi o tema da maioria das teses que orientou. Muitas delas tiveram como co-orientador o professor José Antonio Marques Carrer, “com quem tive a satisfação de trabalhar junto”, ressalta Webe, que é pesquisador 1A do CNPq e até o momento já orientou 27 teses de doutorado, 44 dissertações de mestrado e 23 trabalhos de graduação em iniciação científica e projetos de final de curso.

Ganhador do Prêmio COPPE Mérito Acadêmico 2006, Webe possui extensa produção acadêmica e científica com repercussão internacional. Seus trabalhos já se desdobraram em mais de 500 citações em revistas indexadas. Colaborou, como co-autor, de 60 artigos publicados em periódicos internacionais indexados e seis capítulos de livros, 175 artigos em congressos e 20 artigos em revistas brasileiras. No momento, tem desenvolvido trabalhos em colaboração com grupos de pesquisa da UFRJ e de outras universidades, no Brasil e no exterior, já tendo participado de 322 bancas examinadoras voltadas para concursos de docentes e para dissertações de mestrado, teses de doutorado, exames de qualificação e trabalhos de final de curso de graduação.

No momento, tem atuado no desenvolvimento de sistemas computacionais baseados nos métodos dos elementos finitos, das diferenças finitas e dos elementos de contorno. Tais tecnologias são aplicadas nas áreas de Engenharia de Estruturas, Recursos Hídricos, Geofísica Aplicada, Acústica e Modelagem de Bacias. Webe explica que a pesquisa em geofísica aplicada é voltada para o desenvolvimento e o aprimoramento de algoritmos computacionais que possibilitem a visualização das estruturas geológicas de bacias petrolíferas bem como de camadas superficiais como forma complementar a informações de sondagem geotécnica para a construção civil. Uma ferramenta poderosa que aumenta a segurança dos projetos, como os de fundações de estruturas civis, de obras subterrâneas, a exemplo de construção de metrô, e similares.

Professor por vocação

Aos 58 anos, confessa estar tentando mudar seu ritmo de trabalho, mas sem sucesso. Muito dedicado, passa horas atendendo aos alunos, inclusive em sua residência, aos fins de semana. Um exemplo é o mestrando Bruno Pereira, de 26 anos, que informou ter passado cerca de 20 minutos de uma tarde de domingo tirando dúvidas com Webe, por telefone. Bruno deu esta declaração na sala do professor, enquanto sua tese estava sendo revisada. “Dedico boa parte do meu tempo às atividades de orientação, procurando manter contato constante com os estudantes do laboratório. Procuro organizar projetos de pesquisa de forma a incentivar o trabalho de colaboração entre estudantes e colegas professores. Desta forma o aluno pode perceber desde cedo as vantagens do trabalho em equipe”, explica.

Não foi por acaso que em seu discurso, durante a entrega do Mérito Acadêmico 2006, fez questão de atribuir o prêmio conquistado a seus alunos do laboratório. Para ele, esses estudantes são os grandes vitoriosos porque geram novas idéias e desenvolvem temas que são propostos pelos professores, além de atenderem aos desafios tecnológicos trazidos por empresas parceiras, a exemplo da Petrobras. “Os estudantes se dedicam entre 10 e 12 horas por dia, fora as noites e fins de semana”, disse na ocasião, confessando aos familiares, em público, num misto de orgulho e pedido de desculpas, que tem roubado muito tempo de suas filhas. Não é para menos. Desde 1967, chega à Universidade às 7h30min e sai em torno das 19 horas.

O professor do Programa de Engenharia Civil, José Cláudio de Faria Telles, seu padrinho de casamento, ao entregar o prêmio Mérito Acadêmico a Webe, falou sobre a convivência que teve com o professor homenageado, seu companheiro também no doutorado na Inglaterra. Telles recordou de quando eram alunos da UFRJ e estudavam em salas insalubres no porão do Centro de Tecnologia. Telles contou que, como se fosse uma terapia, Webe ficava no cantinho desenhando aspirais e jogando fora em seguida às folhas de papel. A terapia pode ter mudado de formato, mas parece continuar até hoje, pois durante esta entrevista Webe fez 15 desenhos, em torno de 1 hora e 30 minutos. Ele diz que é apenas mania.

Morador de Copacabana, quando consegue algumas horinhas de descanso assiste a filmes e programas de humor. Caseiro, quando sai para se distrair prefere as caminhadas e as idas ao Maracanã, onde vai torcer pelo Vasco, junto com sua filha Juliana, flamenguista de 17 anos, que pretende fazer Direito ou Psicologia. Mesmo tendo algumas horas de lazer ao lado da família, o professor diz que pretende compensar suas longas ausências cuidando dos futuros netos. Cabe a Juliana e a Samantha, sua outra filha, de 26 anos, formada em Biologia pela UFRJ, cobrarem esta dívida.

  • Publicado em - 17/10/2007