Relatório do Pnuma revela que Brasil é o único país do G-20 a retroceder em proposta de cortes de emissões de gases de efeito estufa

Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias

Data: 28/10/2021

O Brasil é o único país do G-20 que, ao invés de propor diminuição de emissão de gases de efeito estufa, propõe um aumento na ordem de 307 milhões de toneladas de CO2 equivalente. Esta é uma das constatações do Relatório de Lacuna de Emissões 2021, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), divulgado na terça-feira, 26 de outubro, que tem como coautora a professora Joana Portugal Pereira, do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ.

De acordo com o levantamento, o México também havia ido na contramão, porém o governo anunciou que sua meta está suspensa e será reavaliada. “Se todos os países propusessem o que o Brasil propõe sobre as emissões de CO2, o planeta sofreria um aumento de 4 graus célsius até o final do século, comparativamente com níveis pré-industriais, sendo que os níveis considerados seguros pela ciência são entre 1.5 a 2 graus. Felizmente o país tem todo potencial e conhecimento científico para mudar essa realidade”, analisa a Joana Portugal Pereira.

Divulgado às vésperas da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP26), que começará no próximo dia 31, em Glasgow (Escócia), o relatório mostra que as atualizações das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) de 120 países para 2030, são muito aquém do necessário para que as metas do Acordo de Paris sejam alcançadas, condenando o planeta a um aumento de temperatura de pelo menos 2,7°C até o final do século. Apesar desses novos acordos adicionarem uma redução de 7,5% das emissões anuais de gases de efeito estufa em relação aos acordos anteriores, o relatório mostra que é necessária uma redução de 30% para limitar o aquecimento em 2°C, e redução de 55% para limita-lo em 1,5°C.

“É necessário que aumentemos as ambições em 7 vezes para que consigamos limitar o aquecimento ao que é considerado seguro pelos pesquisadores. Temos apenas oito anos para retirarmos 28 gigatoneladas anuais de CO2, para além do prometido pelas NDCs”, explica a professora da Coppe.

O relatório aponta ainda que os compromissos de zerar a emissão líquida de carbono (quando emissões e sequestro de carbono se compensam) podem fazer uma grande diferença. Uma vez totalmente implementadas, essas promessas podem trazer o aumento previsto da temperatura global para 2,2°C, proporcionando a esperança de que outras ações ainda possam evitar os impactos mais catastróficos da mudança climática. Porém, os planos atuais são vagos e não estão presentes nas NDCs. Um total de 49 países, além da União Europeia, tem intenções de zerar a emissão líquida.

Caso se tornem mesmo robustos e sejam totalmente implementados, esses planos poderiam reduzir 0,5°C a mais o nível global de aquecimento, trazendo o aumento de temperatura previsto para 2,2°C. No entanto, de acordo com os autores do relatório, muitos dos planos climáticos atrasam a ação até depois de 2030, levantando dúvidas se essas intenções poderão ser colocadas em prática. Doze membros do G20 prometeram uma meta líquida de zero, mas eles ainda são altamente ambíguos. A ação também precisa ser antecipada para torná-la alinhada com as metas de 2030.

“O mundo precisa acordar para o perigo iminente que estamos enfrentando como espécie. Os países precisam promover políticas para cumprir seus novos compromissos e começar a implementá-las dentro de alguns meses. Eles precisam tornar suas promessas mais concretas, garantindo que esses compromissos sejam incluídos nos NDCs e que as ações sejam apresentadas”, diz Inger Andersen, diretora executiva do Pnuma.

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