Pesquisadores estudam impactos recíprocos entre Covid-19 e tuberculose
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Data: 17/03/2021
A evolução da Covid-19 em vítimas da tuberculose e o impacto do novo coronavírus no tratamento desses pacientes estão sendo estudados por um grupo de pesquisadores de várias áreas. O objetivo é compreender a relação entre as doenças em quatro dos cinco países do Brics: Brasil, Rússia, Índia, e África do Sul. Pesquisadores da Coppe/UFRJ e de empresas startups nativas da instituição participam deste projeto liderado pela professora Anete Trajman, da Faculdade de Medicina da UFRJ e do Instituto de Medicina Social da Uerj, que é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O trabalho foi considerado pela revista médica inglesa Lancet como “vital”, uma vez que a Organização Mundial de Saúde (OMS) prevê que até 1,5 milhão de pessoas morram a mais de tuberculose até 2025 devido à pandemia de Covid-19.
De acordo com a professora Anete Trajman, até o advento da Covid-19 a tuberculose era a doença infecciosa que mais matava no mundo, e já se sabe de experiência pandêmica anterior (a gripe espanhola, em 1918), que mais pessoas morriam de tuberculose com a interseção das epidemias.
“No atual momento, já notamos interferências diretas e indiretas entre estas doenças. Os sistemas de saúde tiveram que alocar seus recursos prioritariamente para o enfrentamento da Covid. Em maio, houve uma redução de 40% na realização de testes moleculares rápidos para tuberculose. Em outubro, com a diminuição de casos de Covid, a redução foi menor, 20%”, relata Anete.
Segundo o professor José Manoel de Seixas, do Programa de Engenharia Elétrica da Coppe, os modelos matemáticos podem ajudar a mostrar o horizonte apresentado para as duas infecções, uma virótica e outra bacteriana. “Começamos em julho o desenvolvimento de um sistema que usa inteligência computacional para otimizar a triagem e tornar mais eficiente o diagnóstico da tuberculose ativa, contribuindo para a tomada de decisão. O objetivo é ter qualidade de dados e sistema reproduzível para ser compartilhado com os sistemas públicos de saúde”, explica o professor da Coppe.
Cerca de 1/4 da população mundial tem tuberculose latente. “É necessário identificar para diminuir a infecção, tendo em vista que se trata de uma doença transmissível. Estudos da OMS sinalizam que é preciso tratar a tuberculose ativa, mas também a latente, pois em situações de baixa imunidade a chance da doença se desenvolver é grande”, ressalta Seixas.
No Brasil, o projeto é liderado pelo Instituto de Medicina Social (IMS) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e conta com a participação da Coppe, do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva (Iesc) da UFRJ, a Fundação de Medicina Tropical – Dr. Heitor Vieira Dourado (AM) e a Universidade Federal de Lavras (MG).
O projeto contará também com a participação de diversas instituições dos quatro países citados e também da Suíça: Desmond Tutu Centre, Stellenbosch University (África do Sul); All India Institute of Medical Sciences, National TB Elimination Program (Índia); St. Petersburg Pasteur Institute e Novosibirsk Tuberculosis Research Institute (Rússia), Idiap Research Institute (Suíça).
Modelos desenvolvidos na Coppe podem indicar impactos da Covid
A professora Anete Trajman, recém-aprovada como Professora Titular de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFRJ, ressalta a importância da pesquisa e afirma que é possível que a Covid-19 tenha efeitos diretos no desenvolvimento da tuberculose no paciente.
“Além das potenciais interações diretas clínicas entre as duas doenças, o impacto indireto da Covid-19 na tuberculose, como resultado das restrições de movimento da população, e o funcionamento alterado dos sistemas de saúde, com foco e recursos reduzidos para tuberculose, também é de grande preocupação. A redução da coleta de amostras respiratórias devido ao medo da transmissão de Covid-19 pode impactar ainda mais o número de casos de tuberculose diagnosticados. Nos hospitais, deveriam ser feitos os dois exames na mesma oportunidade. A mesma máquina, Xpert, faz os dois exames em menos de duas horas”, avalia.
“Corroborando essas preocupações, modelos recentes (elaborados em uma colaboração internacional que reuniu instituições de prestígio como o Imperial College e a Johns Hopkins University) sugerem que o advento da Covid pode resultar em um retrocesso de cinco a oito anos nos esforços globais para eliminar a tuberculose”, enfatiza a professora Anete.
“Trabalhamos com modelos de aprendizado de máquina que podem indicar se há evolução preponderante nos pacientes de tuberculose, caso sejam contaminados pelo Sars-CoV 2, e quais os impactos da Covid-19 no tratamento de pacientes de tuberculose”, explica Seixas.
Boa parte do time de pesquisadores envolvidos nesse estudo já atua em outro projeto que pesquisa tuberculose latente – quando o paciente é contaminado, mas não desenvolve a doença. Nesse projeto, mais avançado, também liderado pela Prof. Anete Trajman em parceria com a Coppe, os pesquisadores também utilizam modelos baseados em Inteligência Artificial (IA) para identificar as vítimas de tuberculose a partir da análise de Raios-X. Esse projeto é realizado em parceria com a Stellenbosch University, da África do Sul.
Segundo o professor da Coppe, 30 países respondem por mais de 80% da carga de tuberculose mundial. Brasil, China, Índia, Paquistão, estão entre eles. No Brasil, os locais com o maior número de casos são Rio de Janeiro e Manaus. “É muito difícil não ter contato com a tuberculose nos países que apresentam alta carga da doença”, afirma.
O projeto conta ainda com a participação de pesquisadores de três startups, nativas da Coppe: Twist, Nemesys, Murabei.
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