Mudanças nos hábitos alimentares são essenciais para mitigar as mudanças climáticas
Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 18/02/2020
O combate às mudanças climáticas será mais eficaz com a implementação de uma cadeia global de produção de alimentos sustentável: da produção às mudanças no padrão do consumo e redução de perdas e desperdício alimentar. Esta é a conclusão de artigo publicado nesta terça-feira, 18 de fevereiro, na revista Nature Food, por cientistas colaboradores do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), dentre os quais a professora Joana Portugal Pereira, da Coppe/UFRJ.
Os especialistas defendem que um novo método para a avaliação da cadeia agropecuária apresentaria novos caminhos para uma solução integrada ao desafio das mudanças climáticas, da produção de alimentos ao consumo, passando pela logística de armazenamento e transporte. Quando essas atividades são consideradas em seu conjunto, elas representam uma fatia considerável (entre 21 e 37%) do total de emissões de gases de efeito estufa (GEE) relacionadas à atividade humana. A nova abordagem contribui para um entendimento mais amplo da vulnerabilidade da cadeia global de alimentos às mudanças do clima, como secas mais prolongadas, chuvas mais intensas e inundações mais frequentes em regiões costeiras.
O artigo foi escrito por 14 pesquisadores e Joana Portugal Pereira foi a única cientista de instituição brasileira a participar da pesquisa. Segundo a professora do Programa de Planejamento Energético da Coppe, as metodologias de inventário de emissões de gases de efeito estufa propostas pelo IPCC, tradicionalmente, não avaliam os sistemas alimentares de forma integrada, se limitando a considerar as emissões em nível setorial: setor agrícola, mudança de uso do solo, depois processamento industrial e transporte.
Autora do capítulo dedicado à segurança alimentar e do sumário para formuladores políticos do relatório especial do IPCC sobre mudanças climáticas e terra, publicado em agosto de 2019, Joana explica que adotar dietas de baixo carbono se traduz em benefícios para a saúde pública e traz várias consequências positivas para o meio ambiente. Por isso, “os formuladores de políticas públicas têm de expandir as suas estratégicas de mitigação além da esfera dos produtores agrícolas no ‘portão da fazenda’ e incluir os consumidores”.
“Para garantir segurança alimentar a toda população é essencial repensarmos os nossos padrões de consumo e adotarmos dietas sustentáveis, equilibradas e saudáveis. Ou seja, os países e franjas da sociedade que têm um sobreconsumo de carne e seus derivados necessitam reequacionar as suas dietas e, os países que enfrentam desafios de subnutrição e déficits proteicos necessitam aumentar o consumo de alimentos de origem animal. Neste artigo mostramos que uma postura moderada e dietas equilibradas são essenciais para a sustentabilidade planetária, segurança alimentar da população mundial e saúde pública”, avalia a professora da Coppe, que é autora líder do Sexto Relatório de Avaliação (AR6) do IPCC a ser publicado em 2021.
“O que foi feito pela primeira vez no relatório especial e agora neste artigo em que cita seus autores, é que temos de avaliar as emissões dos sistemas alimentares de maneira integrada, ou seja, cruzando os impactos de todos os setores ao longo do ciclo de vida da produção de alimentos, desde a fazenda ao consumidor, passando pela logística de armazenamento e transporte, incluindo as perdas e desperdícios ao longo da cadeia”, explica Joana Portugal Pereira.
Segundo a pesquisadora, as emissões de gases de efeito estufa não se restringem à fase do produtor rural, portanto investir em eficiência nesta etapa da cadeia produtiva é importante, não suficientemente ambicioso para estabilizarmos o aquecimento global em até 1,5C. “O potencial de redução na ótica do produtor é equivalente a da esfera do consumidor. Precisamos também pensar pelo lado do consumidor, aí entra também a questão dos hábitos alimentares. Repensar nossos padrões de consumo e ter equilíbrio na questão dos alimentos traduz-se não só na redução de GEE, mas também em benefícios para os ecossistemas, como redução do desmatamento, e para saúde pública”, ressalta.
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