Discurso da professora Suzana Kahn Ribeiro
Planeta COPPE / Notícias
Data: 02/08/2019
Eu gostaria de iniciar minha fala, destacando a imensa importância da ciência, tecnologia e inovação para a sociedade, e consequentemente do relevante papel da COPPE nesse contexto.
Nós temos o dever de ajudar a moldar uma sociedade sobre uma base onde: – a ignorância, – o atraso, – a pobreza e a desigualdade, se tornem muito difíceis de prosperarem.
Estamos passando por um período de grande descontentamento, e como Oscar Wilde mencionou certa vez em uma de suas peças teatrais: “- O descontentamento é o primeiro passo para o progresso de um homem ou de uma nação”; sendo assim, acredito que a atual situação possa até ser de alguma serventia.
Nesse período que se corta, contingencia e se questiona investimentos em ciência e tecnologia, é bom lembrar que a ciência e a tecnologia são essenciais para o progresso.
No entanto, cabe aqui uma ressalva sobre a própria definição de progresso, onde não é mais a mera acumulação de bens, onde o PIB não é mais reconhecido como um bom indicador de desenvolvimento, mas sim a qualidade de vida e o bem-estar da população.
A percepção de progresso vem evoluindo com o tempo desde o iluminismo (século 18), que foi uma era exuberante em termos de ideias, ligadas fundamentalmente por quatro temas: razão, ciência, humanismo e progresso.
John Stuart Mill, também no século 18, destacava o papel importante da ciência e tecnologia, em uma época onde havia a preocupação com a insustentabilidade do crescimento populacional vis a vis a disponibilidade de alimentos. A tecnologia no campo fez com que a previsão de Malthus não se concretizasse (aquela que dizia que a taxa de produção de alimentos subia em progressão aritmética enquanto que a população, em progressão geométrica).
O escritor Yuval Harari, em seu livro Homo Sapiens, nos mostra como a ciência e tecnologia foi determinante para redirecionar os rumos da sociedade desde a época da revolução agrícola por volta de 12 mil anos atrás. Segundo ele, a Revolução Científica que começou a apenas 500 anos, tem o potencial de criar uma sociedade completamente diferente da que conhecemos. Tal é a importância da ciência!
A ciência e tecnologia, portanto deveriam desempenhar um papel bem mais importante em nossa história e evolução econômica.
Quando as fundações da economia tradicional foram criadas, não existia uma percepção clara dos limites dos nossos ecossistemas. Na era da economia de Adam Smith e David Ricardo, também século 18, as limitações vistas eram mais tangíveis e óbvias, relacionadas ao consumo de minerais, terra fértil, madeira e outros recursos naturais. Porém hoje, pressões criadas pelo nosso modelo de consumo se tornam cada vez mais evidentes, trazendo à tona realidades que não eram reconhecidas naquele século.
As mudanças climáticas e a perda da biodiversidade, por exemplo, não representavam sinais de estresse. A ciência evoluiu para melhor entender as pressões humanas nos sistemas naturais e seus limites, mas a teoria econômica, mercados financeiros e até mesmo a nossa própria percepção, não acompanhou tal evolução. A de que não existe natureza grátis.
Nos dias de hoje, temos escassez de todos os nossos recursos naturais e a forma de continuarmos um desenvolvimento com maior qualidade e responsabilidade com as gerações futuras, será através do uso eficiente dos mesmos, do reuso, da regeneração do ambiente, ou ainda da substituição dos recursos finitos. Tudo isso com a inclusão, nesse processo de desenvolvimento, de toda a sociedade e não apenas de uma parcela dela.
Ou seja, o atual momento requer uma mudança na trajetória de desenvolvimento, exigindo o uso de soluções tecnológicas e práticas com menor pegada de recursos naturais e emissão de carbono. E instituições acadêmicas, podem e devem ser parceiras fundamentais do setor público, responsável pela definição de políticas de desenvolvimento nacional.
Este assunto tem que ocupar um grande espaço na agenda de todas as esferas de governos, instituições de pesquisa e empresas privadas.
A ciência pode e deve direcionar as decisões políticas de médio e longo prazo. Isto é especialmente verdade no caso de estratégias de desenvolvimento. Não se questiona mais um desenvolvimento que não seja sustentável, e aí vale lembrar que a sustentabilidade vai muito além do quesito ambiental “strito sensu”, trata-se também de aspectos econômicos, sociais, culturais e humanos.
E é nesse ponto que entramos nós da Coppe.
Eu vejo nossa instituição como um importante agente na construção de um País mais desenvolvido, sustentável e menos desigual.
Pretendemos juntos e unidos (slogan de nossa campanha), diretoria e todo o corpo social da COPPE perseguir incessantemente este objetivo.
Walter Isaacson, autor de vários livros, dentre os quais “Os Inovadores”, menciona que a maior parte das inovações da atual era digital foi criada de maneira colaborativa. O livro é uma narrativa de como essas mentes inovadoras colaboraram e por conta da habilidade de trabalhar em equipe, se tornaram ainda mais criativas.
Portanto, nós vemos a colaboração, o trabalho conjunto, a empatia, o altruísmo como elementos essenciais para serem estimulados em nossa instituição. Aliás, estes também eram ideais dos filósofos iluministas. Pois foram eles que começaram a falar de simpatia em relação a seus semelhantes, de direitos humanos, de aspirações legítimas de bem-estar e de justiça equitativa.
Estes filósofos acreditavam que havia um forte elo entre progresso e felicidade. Para os pensadores da época, o processo civilizatório faria o homem feliz, apesar da impossibilidade de se determinar o que faz um ou outro indivíduo feliz. Porém ao se abordar a felicidade de forma coletiva, algumas questões de ordem mais objetivas podem ser consideradas como a qualidade de vida ou ainda o conceito de capital social.
Capital social nada mais é do que a confiança na sociedade, orgulho da própria identidade, prazer em ações voluntárias, altruísmo, honestidade e eficiência das instituições públicas. Portanto, é nossa intenção aumentar nosso capital social.
O prêmio Nobel de economia Amartya Sen dizia que uma teoria econômica que exclui o altruísmo é incompleta e reducionista. Um sistema econômico não produz apenas bens e serviços, produz seres humanos e suas inter-relações. A maneira como a sociedade produz e consome tem uma grande influencia sobre as personalidades, os conhecimentos, os desejos e a felicidade.
Com isso, nossa diretoria pretende promover um ambiente de bem-estar e de colaboração, sobretudo entre os alunos que estão a cada dia mais stressados, com tantas incertezas que os cercam.
Assim, é nosso desejo que nossos alunos saiam preparados para vencer os desafios impostos pela a atual era do compartilhamento e colaboração, do conhecimento múltiplo, interdisciplinar e ultra veloz. É nossa responsabilidade prepara-los para esse mundo mais volátil, que se transforma tão rapidamente.
A COPPE participará da construção de um futuro mais sustentável, ainda que não estejamos em um bom momento. Nesse sentido é bom lembrar o Raul Seixas que dizia: – Não diga que a vitória está perdida, já que é de batalhas que se vive a vida.
Os avanços científicos e do conhecimento significarão geração de riqueza, mais tempo disponível seja para lazer, para o estudo, em resumo, para melhorar a qualidade de vida.
A COPPE reúne muitas das competências necessárias para construir este novo caminho como também competências para identificar, questionar e analisar criticamente as opções a serem trilhadas.
Para tanto ampliar, e não substituir, fontes de financiamento para pesquisa e projetos científicos é uma de nossas prioridades, assim como contribuir ativamente para que a legislação brasileira faça a inovação no Brasil acelerar, evitando que a burocracia excessiva engesse a nossa criatividade e ambição empreendedora.
Finalizando, repito que acho importante resgatar o iluminismo do século 18, quando se reconhecia que o conhecimento científico é a fonte do progresso humano. E quanto mais o homem conhece a ciência, mais progride intelectualmente, sendo capaz de ir ao infinito e além (agora citando o filme Toy Story).
Termino aqui agradecendo a confiança que foi depositada no Romildo e em mim para conduzir a Coppe nesses próximos 4 anos em conjunto com os novos diretores, e me comprometendo com todos a buscar o melhor para nossa instituição e consequentemente para nosso País.