Crítica conjuntural do setor elétrico é debatida na Coppe
Planeta COPPE / Notícias
Data: 06/05/2014
Nos dias 29 e 30 de abril a Coppe foi palco de intenso debate sobre o setor elétrico brasileiro. Reunidos no auditório da Coppe para participar do 2º seminário Inserção de novas fontes renováveis no planejamento energético nacional, professores, especialistas, representantes do governo e de empresas do setor elétrico discutiram os pontos críticos e conjunturais do setor e debateram propostas para aumentar a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira.
Na abertura do seminário, dia 29 de abril, o diretor da Coppe/UFRJ, Luiz Pinguelli Rosa, ressaltou a necessidade de ação imediata, por parte do governo, para redução do consumo de energia no Brasil. Pinguelli propõe que sejam tomadas medidas para redução, entre 5 a 10% do consumo de energia, tendo em vista o cenário desfavorável dos reservatórios que, exceto na região norte, estão com níveis relativamente baixos, menores que 40%. A medida foi sugerida pelo diretor da Coppe ao Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão, em carta enviada no último mês de março que, ao responder, se dispôs a promover reunião com este fim.
Pinguelli também alertou que as termoelétricas utilizadas para complementar a geração por hidrelétricas estão levando o setor de energia ao papel de principal vilão das emissões no Brasil, até então atribuído ao desmatamento que vem diminuindo nos últimos anos. “As termoelétricas são mais poluentes e produzem energia mais cara. Elas deveriam servir como segurança para o sistema, sendo acionadas somente em casos especiais”, afirmou Pinguelli, citando ainda a queda da participação do etanol no abastecimento dos automóveis, recentemente superado pela gasolina, como outro ponto desfavorável para o país manter sua matriz energética limpa, próxima do percentual histórico de cerca de 40% da geração proveniente de fontes renováveis.
O primeiro dia do evento contou com a presença do secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME), Altino Ventura Filho, representando o secretário-executivo do MME, Márcio Zimmermann; da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira; do diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Amilcar Guerreiro; do diretor geral do Centro de Pesquisas de Energia Elétrica (Cepel), Albert Melo; e do diretor do Instituto Ilumina Agenor de Oliveira Mattos.
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia, Altino Ventura Filho, reconheceu durante sua apresentação na mesa de abertura que o setor elétrico brasileiro vive um momento conjuntural desfavorável, com relação ao regime hidrológico, e que o aproveitamento do potencial hídrico é no momento uma incerteza. No entanto, o secretário disse em entrevista à imprensa, durante o evento, que o ministério não pretende por em prática campanhas ou medidas oficiais para racionar o consumo de energia no País.
A ministra do Meio Ambiente (MMA), Izabella Teixeira, ressaltou que o Brasil deve debater sem preconceito a importância dos reservatórios das hidrelétricas, levando em conta as vulnerabilidades e incertezas causadas pelas mudanças climáticas. Em resposta as constantes reclamações feitas pelo setor elétrico em relação aos atrasos nas obras, que são atribuídos aos processos de licenciamento ambiental, a ministra destacou que mais de 70% das implicações envolvidas nos licenciamentos são sociais e não ambientais e chamou atenção para a falta de integração entre o planejamento ambiental e os setores, como o elétrico. Segundo a ministra, isso acaba criando problemas para a execução das estratégias propostas para o país. “Não se trata de querer inviabilizar energias limpas e renováveis, mas nem tudo pode ser aprovado”, afirmou Izabella destacando como exemplo a autorização concedida para a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) em Parecis, no Mato Grosso, que é uma área estratégica para a recarga do aqüífero que dá sustentação à Bacia dos Tapajós.
“Não sou contra que se tenha PCHs mas tem que se observar seu impacto cumulativo na capacidade de recarga do Aquífero Parecis”, disse a ministra, alertando que em algum momento poderão aparecer problemas para a região, que é forte produtora de soja e ouro, além de ter uma riquíssima biodiversidade.
Sob a coordenação do professor Amaro Pereira, do Programa de Planejamento Energético, o seminário foi promovido pela Coppe, em parceria com a empresa Wartsila. Durante o evento foram debatidas questões que envolvem mecanismos de promoção de fontes renováveis no Brasil e no mundo, complementaridade com a geração hidráulica e com outras gerações flexíveis, sustentabilidade, integração de tais fontes com smart grids, geração distribuída, e a contribuição para o combate contra as mudanças climáticas.
Pelo que foi apresentado e discutido durante as sete mesas temáticas, o professor Amaro acredita que, com exceção da energia eólica, ainda são necessários incentivos do governo para que novas fontes renováveis sejam viáveis economicamente. “De qualquer forma, tudo leva a crer que, após o sucesso da promoção da eólica no Brasil, haverá uma expansão importante da energia solar fotovoltaica. Tal expansão, entretanto, deverá se dar em complementação com fontes flexíveis, sobretudo, termelétricas, pois as novas fontes renováveis sozinhas não dão conta de garantir a segurança energética”, avalia o professor da Coppe.
Amaro diz que é necessário pensar em mudanças de paradigmas, de forma que se inclua no planejamento energético nacional a integração das novas fontes, por meio de redes inteligentes, os smart grids, de forma que elas entrem na geração distribuída. De acordo com o professor, dessa maneira contribui-se para reduzir a vulnerabilidade do sistema elétrico, devido aos riscos hidrológicos. “Ainda que haja alguma dificuldade no desenvolvimento desses sistemas, a promoção de fontes renováveis é fundamental para a redução das emissões dos gases de efeito estufa no Brasil”, conclui o professor da Coppe.