Tecnologia inédita reduz tempo de combate a incêndio
Planeta COPPE / IVIG / Notícias
Data: 13/02/2014
Uma tecnologia inédita desenvolvida pela Coppe/UFRJ em parceria com a empresa Cdiox Engenharia promete reduzir substancialmente o tempo-resposta de combate a incêndios. O novo sistema, baseado no uso de jatos de CO2 vaporizado, está instalado em um veículo entregue pela Coppe e a Cdiox ao Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro nesta sexta-feira, 14 de fevereiro. Nas próximas semanas, o caminhão será testado em situações reais de combate a incêndio por profissionais do Corpo de Bombeiros treinados para utilizar a nova tecnologia.
A cerimônia de entrega do veículo, realizada no Complexo de Ensino Coronel Sarmento, do Corpo de Bombeiros, em Guadalupe, reuniu civis e militares. Estiveram presentes o coronel Sérgio Simões, secretário de estado de Defesa Civil e comandante geral do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro; o coronel Ronaldo Jorge Brito de Alcântara, subcomandante geral do Corpo de Bombeiros; o coronel Alexandre Luís Belchior dos Santos, coordenador do projeto; o professor Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe; e o pesquisador da Coppe, Moacyr Duarte, coordenador técnico do projeto.
Também participaram da cerimônia, André Cabral, superintendente da área de Inovação, Infraestrutura e Tecnologia da Finep; e os representantes da White Martins, Gustavo Macedo, gerente de Desenvolvimento de Negócios; Anthony Rodrigues, gerente da empresa; e Paulo Costa, gerente de Relacionamento, entre outros.
Desenvolvida ao longo de 16 anos pelo Grupo de Análise de Risco Tecnológico e Ambiental da Coppe/UFRJ (Garta/Ivig/Coppe) e pela Cdiox Engenharia, empresa nascida na universidade, a tecnologia, batizada de Sistema de Descarga Baseado em Gás Liquefeito, se caracteriza pela descarga massiva de dióxido de carbono (CO2) em estado líquido, à baixa temperatura (entre – 72 graus e – 60 graus) e alta pressão.
Inovadora, tecnologia já rendeu pedidos de patentes
Os pesquisadores conseguiram desenvolver um sistema pelo qual o CO2, armazenado em estado líquido, é lançado nas chamas sob forma de vapor sem se solidificar. Ou seja, o CO2 não congela a linha por onde ele é lançado. A inovação já rendeu pedidos de patentes para a tecnologia no Brasil e nos Estados Unidos. “Vamos ser os primeiros do mundo nessa tecnologia”, explica o coordenador técnico do projeto, Moacyr Duarte.
A nova tecnologia começará a ser testada nos próximos dias e, de acordo com o coordenador geral do projeto, o caminhão já deverá estar nas ruas em três meses. Segundo o coronel Alexandre Belchior, só ao final dos ensaios é que será possível afirmar com precisão em quanto o tempo de combate ao fogo será reduzido com o uso do CO2 no lugar da água.
Informalmente, a expectativa é que o caminhão, com capacidade para transportar 12 toneladas de CO2, consiga debelar chamas em uma área de 100 metros quadrados em apenas 4 minutos. Comparando o uso da água com a nova tecnologia, o tempo-resposta a um incêndio, do início do combate às chamas até o rescaldo final, deverá cair de 4 horas para cerca de 20 minutos. “Essa tecnologia é, sem dúvida, uma inovação e poderá ser utilizada em incêndios de diferentes proporções e em espaços abertos e confinados”, explicou o coronel Belchior.
“O Corpo de Bombeiros sempre trabalha no sentido da aproximação da academia, da universidade, para que o conhecimento científico possa ser transformado em ações práticas e é isso que estamos vendo aqui. Essa é uma primeira demonstração, mas a gente já percebe os aspectos da segurança do bombeiro no combate ao incêndio na relação direta com a eficácia do sistema. Vem à mente situações reais de incêndio, em que se tivéssemos utilizado esse equipamento, teríamos sido muito mais eficientes no que diz respeito à segurança do homem, mas também na eficácia do combate.
É um equipamento fantástico. Acho que nós estamos mudando a história do combate a incêndio no Brasil e no mundo, por ser um projeto pioneiro, e ficamos muito felizes pelo Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro ter sido distinguido para ser protagonista do desenvolvimento desse projeto”, afirmou o comandante geral do Corpo de Bombeiros, coronel Sérgio Simões.
O diretor da Coppe também destacou a importância do projeto. “Esse é o dever da universidade pública. A Coppe pertence à Universidade Federal do Rio de Janeiro e desenvolver um produto com essa finalidade é um orgulho para nós que os bombeiros possam usá-la. O Bombeiro se destina a salvar vidas, que é a coisa mais nobre, e esse equipamento ajuda a salvar vidas. É uma tecnologia com uma capacidade de aplicação que tem um alcance social enorme”, afirmou Luiz Pinguelli Rosa.
Projeto muda o conceito de combate a incêndio
Usado como agente extintor, o CO2 diminui o oxigênio, abafando as chamas. Como é lançado em baixa temperatura, ele dificulta o aparecimento de novos focos de incêndio e quebra a reação em cadeia da combustão. “Esse projeto muda o conceito de combate a incêndio”, destacou o coronel Sérgio Simões.
O projeto recebeu financiamento de R$ 5,5 milhões da Finep e conta com o apoio da White Martins, fornecedora do CO2 e responsável pela customização do veículo para o uso do sistema.
O uso de jatos de CO2 em lugar da água pode ser fundamental para conter incêndios em comunidades situadas em morros e em locais onde não há redes adequadas de distribuição de água, como a Baixada Fluminense e bairros da Zona Oeste do Rio de Janeiro. “A tecnologia é também uma alternativa eficaz para o combate a incêndios em locais sensíveis ao uso da água, como museus, bibliotecas e igrejas, que abrigam obras de arte e patrimônio histórico”, explica Moacyr Duarte. Também pode ser uma solução para ambientes como centros de processamento de dados e centrais de telefonia, que utilizam equipamentos vulneráveis à ação da água.
Tecnologia tem diferentes aplicações
A tecnologia pode ser aplicada ainda em áreas sujeitas a terremotos e que por conta disso podem ter suas redes de hidrantes comprometidas, bem como ambientes com temperatura abaixo de zero, como na base do Brasil na Antártica, onde é preciso aquecer a água destinada ao combate de um eventual incêndio.
Além dessas aplicações, no caso de uma catástrofe como a ocorrida na região serrana do Rio de Janeiro, o CO2 pode ser utilizado para resfriar uma sala improvisada como necrotério. “O jato de CO2 produz um efeito de resfriamento violento”, explica Moacyr Duarte, coordenador do Garta/Coppe.
Na cerimônia de apresentação do caminhão, a White Martins entregou certificados a 14 bombeiros militares e a dois civis que participaram de treinamento para operação do veículo. O curso foi ministrado pelo consultor da empresa, o engenheiro Reinaldo Marques. Na sequência, o Comando do Corpo de Bombeiros entregou a oficiais e praças a Medalha do Mérito Bombeiro e a Medalha do Mérito Avante Bombeiro, maior honraria concedida pela corporação. Civis também receberam essa última condecoração, entre eles o diretor da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa, e o pesquisador Moacyr Duarte.