Cientistas apontam medidas de redução dos efeitos da mudança do clima
Planeta COPPE / Engenharia de Transportes / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 27/04/2007
Se houver vontade política, os governos já dispõem hoje de tecnologias e informações para adotar, no curto e médio prazos, ações eficazes para reduzir as conseqüências das mudanças do clima. São medidas que vão da adoção de práticas de eficiência energética a mudanças no comportamento em relação ao consumo. Além de políticas públicas adequadas, também no plano individual é possível agir no sentido de contribuir para reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Essa opinião é compartilhada pelos três pesquisadores brasileiros que participaram do Grupo de Trabalho III do Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC), da ONU: Suzana Kahn Ribeiro, Emílio la Rovere e Roberto Schaeffer, todos professores da COPPE (Coordenação dos Programas de Pós-graduação de Engenharia) da UFRJ. Os pesquisadores colaboraram na elaboração do Quarto Relatório de Avaliação do IPCC que será divulgado, no próximo dia 4 de maio, em Bangcoc, Tailândia, cujo tema central é Mitigação das Mudanças do Clima.
Os três pesquisadores da COPPE convergem ao enfatizar que o adiamento de medidas com relação à redução das emissões comprometerá cada vez mais as possibilidades de se atingir metas de estabilização da temperatura global do planeta. Quando maior o adiamento, mais caro será. Neste contexto, medidas de mitigação e adaptação são decisões importantes para se proteger de um risco futuro e incerto. Esta é a principal mensagem do capítulo 3 do relatório, que trata dos cenários de mitigação no longo prazo (2100).
O texto do relatório da ONU adverte que o mundo teria que reduzir substancialmente suas emissões de gases do efeito estufa até 2050 para evitar que o aquecimento da superfície terrestre passasse dos 2 graus Celsius se comparado à era pré-industrial. Este corte poderia custar até 3% do PIB mundial.
Uma das grandes novidades é o novo foco sobre a relação entre desenvolvimento e mudanças climáticas. Se, no passado recente, investir para se precaver contra as mudanças climáticas era visto como barreira ao desenvolvimento, hoje prevalece a opinião de que não lidar com mitigação sai bem mais caro, diz o capítulo 12, que teve como um dos autores o pesquisador Roberto Schaeffer, professor do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ. Segundo afirmação recente do ex-presidente da ONU, Kofi Annan, as conseqüências das mudanças climáticas estão se tornando um dos principais entraves ao desenvolvimento e à erradicação da pobreza.
No caso do setor de transportes, que responde mundialmente por 23% das emissões de CO2 e é o que mais cresce (2% ao ano), o maior problema para a redução das emissões é o alto custo político das medidas a serem tomadas. Todas as soluções logísticas e tecnológicas para mitigar o problema no curto prazo já existem e não precisam ser reinventadas, sustenta o capítulo 5 do relatório, coordenado pela pesquisadora Suzana Kahn Ribeiro, do Programa de Engenharia Transportes da COPPE/UFRJ, junto com o cientista japonês Shigeki Kobayashi, ligado ao setor automobilístico.
O pesquisador Emílio la Rovere, do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ, , é também autor do capítulo 3 e integra o chamado Grupo de Trabalho sobre Dados para Cenários de Impacto e Análise Climática (Task Group on Data Scenario Input for Impact and Climate Analysis). O Grupo é responsável por reunir e filtrar os dados usados para a construção dos cenários do IPCC, fazendo uma análise crítica daquilo que é publicado no mundo todo, agrupando e dando homogeneidade aos dados usados pelos integrantes do IPCC.
“Parece cada vez mais claro que o que induz ao progresso tecnológico são as restrições. Quanto mais caro ficar determinada tecnologia (ou combustível), mais se partirá para outras alternativas”, afirma Emílio, que é membro convidado do IPCC desde 1992, quando participou da preparação do Grupo III do Segundo Relatório de Avaliação.
Segundo o secretário-geral do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa, que foi um dos autores do III Relatório do IPCC, o governo brasileiro deve adotar um plano de ação de mitigação e adaptação das regiões do país afetadas pelas mudanças climáticas. “ Para adotar medidas de mitigação e adaptação, é preciso caracterizar as conseqüências do fenômeno no hemisfério Sul e envolver toda a sociedade”, afirma Pinguelli, que também é Coordenador do Programa de Planejamento Energético da COPPE.
Com o objetivo de debater os principais pontos do relatório sobre mitigação e discutir as sugestões do Fórum para o Plano Nacional de Ação de Enfrentamento das Mudanças Climáticas a ser adotado pelo governo do presidente Lula, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas realizará, no dia 8 de maio, às 10 horas, na COPPE, um seminário que contará com a presença dos três pesquisadores brasileiros que participam do Grupo III do IPCC.