Portal coordenado pela COPPE ensina a calcular impacto no tráfego
Planeta COPPE / Engenharia de Transportes / Notícias
Data: 08/07/2005
Agora vai ficar mais fácil identificar os vilões dos atuais e futuros engarrafamentos que infernizam a vida dos moradores nos centros urbanos. Acaba de ser lançado um portal da Rede Ibero-Americana de Estudo em Pólos Geradores de Viagens. Coordenado pelo Programa de Engenharia de Transportes da COPPE/UFRJ, o portal disponibilizará modelos que possibilitam estabelecer previamente uma estimativa do impacto que um novo empreendimento poderá gerar no tráfego de uma região. O portal poderá ser uma importante ferramenta de apoio para as prefeituras dos mais de dois mil municípios brasileiros que precisam apresentar seus Planos Diretores até outubro de 2006. Também poderá ser utilizado por instituições ou cidadãos interessados em saber até que ponto um novo shopping próximo a sua casa poderá alterar sua qualidade de vida.
O site reunirá informações e dados técnico-científicos na área de transportes e poderá ser uma referência para especialistas, governantes e profissionais que atuam no setor. Segundo Licinio Portugal, professor de engenharia de transportes da COPPE, serão disponibilizados no site modelos de cálculo que possibilitam prever o aumento no tráfego gerado por novos empreendimentos, denominados pólos geradores, como shopping-centers, hipermercados e universidades. O usuário também contará com apoio de um manual que indica os procedimentos a serem seguidos para a realização de estudos de impacto na vizinhança destes estabelecimentos. O professor ressalta, entretanto, a necessidade de se dispor de uma equipe técnica preparada para a realização de tais estudos
“Esses pólos geradores se caracterizam por concentrar espacialmente uma grande quantidade de atividades, gerando significativos contingentes de viagens e veículos nas vias públicas”, afirma Licinio, destacando ainda a importância da Rede em promover a interação entre os grupos de pesquisa dos países ibero-americanos e em desenvolver modelos mais compatíveis com a nossa realidade. .
Segundo o professor da COPPE, o planejamento, a implementação e a localização destes pólos devem estar integrados a infra-estrutura de transportes e a um projeto de desenvolvimento sustentável, que propicie sua viabilidade financeira mas que esteja em sintonia com o interesse social. A cidade do Rio de Janeiro, assim como outras, ainda não concretizou sua regulamentação para a construção e funcionamento de pólos geradores de viagens. O professor cita São Paulo e Curitiba como exemplos de cidade que já possuem legislação específica para esse fim. Nestes municípios, a aprovação da construção de um empreendimento enquadrado como um pólo gerador está condicionada a apresentação à Prefeitura de um estudo de impacto ambiental e nos sistemas viários e de transportes. Na cidade de São Paulo, por exemplo, até mesmo para se construir um ginásio que tenha mais de 300 lugares ou cuja metragem da área construída seja superior a 3 mil m2, é preciso submeter à Prefeitura um estudo de impacto ambiental.
A Rede Ibero-Americana de Estudo em Pólos Geradores de Viagens conta com apoio do CNPq e integra professores e pesquisadores de universidades da Argentina, Colômbia, Equador, Espanha, Peru, Portugal, Uruguai, Venezuela e do Brasil (UFRJ, IME, UnB, UFBa, UFC, UFSC, USC-USP). O endereço do portal, que está em fase de aperfeiçoamento e colhendo sugestões, é: http://redpgv.coppe.ufrj.br.
Professor lamenta falta de estudo de impacto na construção do Engenhão
O professor da COPPE considera inadmissível que um empreendimento como o Estádio Olímpico João Havelange, o Engenhão, que está sendo construído na Zona Norte do Rio de Janeiro, não seja respaldado por um projeto que explicite de forma transparente e com bases científicas as intervenções que estão sendo propostas. “Se estes estudos existem, a Prefeitura deveria disponibilizá-los para apreciação da sociedade e da comunidade técnico-científica. Além disto, a aprovação da lei que libera a construção de prédios de até 18 andares na região, hoje restrita a dois pavimentos, poderá gerar um incremento na demanda por infra-estrutura viária. Na medida em que estas construções são voltadas para as classes com maior poder aquisitivo, que possuem veículos próprios, a tendência é aumentar a demanda por novas vias”, critica o professor.
Licínio diz que um estádio como o Engenhão, com previsão de cerca de 40 mil lugares, exige, de acordo com critérios internacionais, uma reserva de pelo menos 10% da sua lotação máxima para fins de vagas de estacionamento, o que, consequentemente, equivale a mais de 4 mil automóveis nos horários de pico. Segundo o professor, neste caso as leis nacionais e internacionais sugerem um estudo de tráfego e de transportes que sustentem as medidas apropriadas, através de técnicas como a de simulação. O professor afirma, ainda, que além do referido estudo de impacto, deveria se aproveitar a ocasião da construção do Engenhão para aumentar a capacidade ferroviária e a melhoria em sua qualidade de serviço.
“É importante que se promova um programa de revitalização das áreas de entorno das estações, abrangendo todo o ramal, incluindo a construção de moradias para a população, particularmente as de menor poder aquisitivo, que hoje não dispõe de alternativas por falta de uma política habitacional, a não ser às favelas”. Segundo o Licínio, este modelo já é usado com sucesso em cidades como Copenhague, Estocolmo e Cingapura, nas quais entre 80 e 200 mil pessoas, organizadas em núcleos residenciais, moram nas proximidades das estações, com a presença do trem garantindo a interação entre elas.