COPPE propõe mudanças na formação de profissionais que atuam nas indústrias de base
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Data: 02/12/2004
A COPPE/UFRJ acaba de lançar o livro Formação Técnica Geral. A publicação, composta por cinco volumes, é fruto de um estudo realizado por pesquisadores do Laboratório Trabalho e Formação (LTF) da COPPE em onze empresas brasileiras do setor metalmecânico. Os especialistas desenvolveram uma proposta inédita para capacitação dos profissionais que trabalham no chão de fábrica. O trabalho foi desenvolvido em parceria com a CNM (Confederação Nacional dos Metalúrgicos) da CUT e faz parte do programa Formação Profissional Negociada.
A primeira fase da pesquisa envolveu 11 empresas do setor metalmecânico, de vários portes, com sedes nos estados do Amazonas, Pará, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Nesta etapa, os pesquisadores da COPPE identificaram as necessidades de qualificação dos empregados em relação às novas demandas das empresas e do mercado.
Os relatórios-diagnóstico, feitos a partir da pesquisa nas 11 empresas, serviram de base para a publicação que é utilizada como material didático no curso de capacitação, elaborado pelos pesquisadores para requalificar os profissionais. O curso é dividido em três modalidades formativas: Educação Básica para Adultos (em equivalência ao ensino fundamental e médio); Formação Técnica Geral e Formação Técnica Focalizada.
O objetivo deste trabalho é capacitar os profissionais, tornando-os aptos a corresponder as necessidades das empresas em que trabalham e as atuais demandas do mercado. “Como esse setor sofreu grandes mudanças nos últimos anos, as empresas precisam inovar para se manterem competitivas. E é muito difícil fazer isso sem a colaboração dos empregados”, afirma Fábio Zamberlan, coordenador da projeto, que considera fundamental qualificar o empregado para que ele possa atuar de forma participativa. “Mas para participar ele precisa conhecer a empresa de forma integral. O modelo fordista, no qual o operário tinha apenas que executar tarefas determinadas, sem a visão do todo, faz parte de um passado distante”, conclui.
Metodologia testada e aprovada
O programa de requalificação profissional concebida na COPPE foi testada com sucesso na Panex, empresa líder de mercado na fabricação de panelas. Sediada em São Bernardo do Campo, a Pamex possui 600 empregados, dos quais 70 concluíram em dezembro de 2003 o curso, com 360 horas de duração, cuja metodologia foi desenvolvida pelos pesquisadores da COPPE. A empresa produz cerca de 13 milhões de unidades por ano. Atualmente, os produtos de suas quatro marcas (Panex, Clock, Rochedo e Penedo) são exportados para 40 países, incluindo Estados Unidos.
Segundo o Gerente de Manufatura da empresa, o engenheiro Mecânico Martino Neto, o programa da COPPE colaborou para que os funcionários que atuam no chão de fábrica tivessem uma visão mais consciente da empresa e de suas necessidades. “Eles passaram a participar de forma mais efetiva, buscando junto com a gerência soluções para problemas no processo de produção”, afirmou.
Programa exigiu determinação dos pesquisadores
Para concluir o programa os pesquisadores tiveram que ter muita determinação. O estudo inicialmente focou 16 empresas, mas cinco delas não quiseram participar da elaboração dos relatórios. Das onze que prosseguiram, somente a Panex cumpriu todas as etapas da iniciativa, implementando o programa de formação. Para o professor Fabio Zamberlan, os números indicam uma falta de visão dos dirigentes em relação aos benefícios que um programa de requalificação pode trazer tanto para o empregado como para a própria empresa.
“Embora de uma forma geral o empresário esteja mais aberto a esse tipo de proposta, as empresas não investem na requalificação dos seus profissionais. O trabalhador nã requalificação profissional. Elas investem apenas em treinamentos específicos para atender necessidades imediatas”, critica Zamberlan, “O programa que elaboramos leva o empregado a ter uma visão integrada da empresa, de sua atuação no mercado, levando-o a compreender todo o processo produtivo da organização. Isso cria oportunidades de ascenção para esse profissional na organização, o atualiza em relação às necessidades do mercado, possibilitando maior empregabilidade. E também é bom para o empregador que passa a contar com um funcionário mais capacitado”, conclui.
A coleção Formação Técnica Geral foi produzida por uma equipe multidisciplinar. A publicação foi coordenada pelo professor da COPPE, Fabio Zamberlan e pela pesquisadora Carmem Perrota, coordenadora pedagógica do laboratório do LTF. Financiado com recursos da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos, do Ministério da Ciência e Tecnologia), a coleção também contou com a participação de engenheiros, educadores, sociólogos e outros colaboradores.
Segundo Zamberlan, nesse trabalho se reconhece o saber acumulado pelos profissionais da área metalmecânica. “Com ajustes, ele também poderá ser dirigido a trabalhadores de outros segmentos produtivos”, afirma o pesquisador.