Estudo da COPPE Indica Solução para os Problemas da Lagoa

Planeta COPPE / Engenharia Oceânica / Notícias

Data: 09/03/2000

A natureza é sábia, mas nem sempre se importa com o conforto, bem-estar ou interesse do homem. Que o diga os moradores da Lagoa, sempre na incerteza de mais uma mortandade de peixes provocada, tanto pelos caprichos da natureza como pela negligência dos órgãos públicos. Mas ver a Lagoa Rodrigo de Freitas com águas cristalinas, um habitat de vida e não a morte, não é um sonho impossível. Basta colocar idéias e projetos em prática. Em 1992 a COPPE entregou à Prefeitura as conclusões de um estudo aprofundado do sistema praia-canal-lagoa, coordenado pelo Professor do Programa de Engenharia Oceânica, Paulo César Rosman.

Em 1997 a Prefeitura enviou o projeto concebido pela COPPE ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), de Portugal, para este elaborar um projeto executivo, detalhando a implantação das soluções sugeridas pelos pesquisadores brasileiros. A primeira fase do projeto contou, inclusive, com a supervisão técnica da equipe da COPPE.

O problema crucial da Lagoa, segundo Rosman, é a sua divisão em camadas. Em outras palavras, na Lagoa, a camada de água doce fica sobre a camada de água salgada, sem se misturar, impedindo que o oxigênio penetre até o fundo. Por isso os peixes se mantém na parte de cima, enquanto na camada inferior fica o lodo, que consome o oxigênio da água salgada durante a decomposição de matéria orgânica. Quando acaba o oxigênio, a decomposição continua, gerando nesta fase gases malcheirosos e venenosos. Uma chuva ou ventania mais forte leva as camadas a se misturarem, provocando a mortandade de peixes e o mau cheiro. Mas são problemas que, segundo o pesquisador, têm solução. “A Lagoa pode deixar de ser um sistema estagnado. ” Os rios dos Macacos e Cabeças, desviados da Lagoa há 70 anos, poderão voltar ao seu leito de origem e dar fim, inclusive, às habituais inundações no Jóquei e no Jardim Botânico, restabelecendo a complexidade ambiental deste rico ecossistema estuarino (mistura de água doce e salgada)”- afirma.

O projeto da COPPE não foi elaborado apenas para solucionar os problemas da lagoa mas também para impedir a erosão das praias do Arpoador, Ipanema e Leblon, que volta e meia, vêm à tona. O estudo da COPPE recomenda a construção de um novo canal do Jardim de Alá, mais largo, longo e profundo, que permita maior entrada da água do mar, possibilitando que as marés façam a circulação das águas na Lagoa e impedindo a formação de camadas. O resultado seria a oxigenação de toda a água da Lagoa, águas mais limpas, peixes e pequenos organismos em maior quantidade, sem o perigo do lodo provocar a morte da fauna lacustre. Esse novo sistema também impediria que as areias da praia entupissem o canal, e resolveria o problema das inundações das margens da Lagoa.

A migração da areia entre o Arpoador e o Leblon seria minorado com a construção de um canal mais longo. “Não há nada mais eficiente do que praia para proteger o litoral”- afirma Rosman O estudo recomenda a engorda da praia do Leblon em várias etapas, o que tem sido feito, e a reforma na entrada do canal na rua Visconde de Albuquerque.

“A nossa parte foi elaborar o projeto conceitual e um estudo de viabilidade e depois disso supervisionar a execução do projeto do LNEC na fase de projeto básico”, explica o professor Rosman. O laboratório português é um velho conhecido da área de obras públicas do Rio: participou dos projetos do Aterro do Flamengo, e do aumento da faixa de areia de Copacabana em 1966. Também caberá a outras firmas de engenharia o estudo de impacto ambiental, projeto de engenharia hidráulica e projeto de arquitetura urbana. A estimativa é de que em abril deste ano o LNEC entregue o projeto para dar início as obras. Os cariocas aguardam ansiosamente.