Alunas da Coppe e da Poli/UFRJ apresentam projeto na Rio+20
Planeta COPPE / Engenharia de Produção / Notícias
Data: 13/06/2012
O que pode haver em comum entre a necessidade de reduzir o consumo de energia em favelas cariocas e resolver o problema da falta de água em Londres e da escassez de energia em áreas densamente povoadas da China? A resposta pode estar no talento de alunos de cinco universidades, de quatro continentes, na busca por soluções para questões locais referentes à sustentabilidade. As propostas desses estudantes serão apresentadas no encontro da programação paralela da Rio+20, que será realizado no sábado, 16 de junho, das 16h às 18h30, no estande do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), no Parque dos Atletas, na Barra da Tijuca.
O Brasil será representado por um grupo formado por alunas de mestrado e doutorado da Coppe/UFRJ e da Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Poli/UFRJ). As outras equipes vêm das universidades de Tsinghua (China), de Cambridge (Inglaterra), de Stellenbosch (África do Sul) e da Universidade Técnica de Munique (Alemanha), além da comunidade Siemens Future Influencers (multinacional).
As equipes vão apresentar soluções para desafios de sustentabilidade das regiões onde vivem e, com o apoio de especialistas, debater e identificar meios para que suas propostas locais contribuam para enfrentar problemas globais. A Siemens vai oferecer 10 mil euros para financiar os projetos especialmente promissores e o seu futuro desenvolvimento.
O evento Students for Sustainability (Estudantes para a Sustentabilidade) é promovido pela Siemens, em parceria com o Pnuma e com o apoio da Coppe/UFRJ.
Morro Santa Marta foi objeto de estudo do grupo brasileiro
O trabalho do grupo brasileiro visa à redução dos gastos com energia elétrica e foi situado no morro Santa Marta, em Botafogo, onde moram cerca de 4 mil pessoas, em aproximadamente 1.200 residências. A comunidade foi a primeira do Rio de Janeiro a receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
Com a implantação das UPPs em áreas que anteriormente eram dominadas pelo tráfico de drogas, vários moradores dessas comunidades, que utilizavam ligações elétricas clandestinas, passaram a pagar contas de energia.
“Nossa proposta foi estudar a realidade das comunidades que receberam as UPPs. Com a formalização do fornecimento de energia, as pessoas ganharam mais segurança, mas também um custo, que começou baixo e se tornou alto”, explica a estudante Victória Santos. Mestranda do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ, ela integra o grupo ao lado de Beatriz Watanabe, doutoranda do Programa de Engenharia de Produção da Coppe/UFRJ; Ana Carolina Deveza, graduanda de Engenharia Ambiental da UFRJ; e Ana Laura Moreira de Souza, graduanda de Engenharia Civil da UFRJ.
Sob orientação do professor André Lucena, do Programa de Planejamento Energético da Coppe, as estudantes elaboraram o projeto Waste management and energy supply in Rio’s favelas: the integration of different approaches, que propõe diferentes alternativas para redução do consumo de energia, como a implantação de coletores solares para aquecimento da água do banho; a instalação de sistemas fotovoltaicos para geração de energia a partir do sol; a construção de telhados verdes; e a implantação da coleta seletiva de lixo associada à instalação de biodigestores para produção de energia a partir de biogás.
Estudo projeta cenários até 2030
As estudantes consideraram aspectos como a previsão de crescimento da população e do consumo de energia no período 2013–2030. De acordo com Victória, o projeto contempla um conjunto de medidas que começa pela coleta e seleção do lixo. “O reciclável seria vendido, e o lixo orgânico iria para a compostagem ou poderia gerar biogás através de biodigestores. O estudo dimensionou quanto de lixo orgânico seria produzido, qual a capacidade de um biodigestor, quanto estes gerariam de eletricidade e qual a redução do custo que esses biodigestores provocariam na conta de luz convencional dos moradores”, explica Victória. A adoção do biodigestor resultaria em uma economia no consumo de energia da ordem de 43 MWh ao ano até 2030.
Todas as projeções feitas no trabalho consideram o período de 18 anos, partindo da premissa de que as ações sejam implantadas a partir de 2013. Para desenvolver o estudo, o grupo da UFRJ utilizou dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Levando em conta os custos de implantação, os coletores solares para aquecimento de água se revelaram bem vantajosos para os moradores do Santa Marta. O investimento necessário para instalação e manutenção dos sistemas se paga ao longo dos anos de utilização e é o menos oneroso se comparado ao das outras alternativas. O aquecimento solar da água para banho reduziria o consumo de energia elétrica em 372 MWh ao ano até 2030. Isso, por sua vez, aliviaria o orçamento das famílias, uma vez que o gasto com chuveiro elétrico é um dos principais itens das contas de energia das moradias do local.
O projeto das estudantes, elaborado ao longo de dois meses, também aponta que construção de telhados verdes traria uma redução anual de 317 MWh no consumo de energia no período 2013–2030. A iniciativa, que tem um impacto muito grande no microclima, resultaria na diminuição do uso de condicionadores de ar.
A instalação de sistemas fotovoltaicos para a geração de energia, apesar de mais cara do que a implementação dos coletores solares para aquecimento de água, reduziria o consumo de energia em cerca de 1280 MWh até 2030, representando a maior economia.
Esses sistemas, que transformam energia solar em elétrica, podem, inclusive, virar uma nova fonte de renda para seus proprietários, com a perspectiva de implantação pelas concessionárias de distribuição de energia, nos próximos anos, das chamadas smart grids. As redes inteligentes, que viabilizarão a troca de informações entre as empresas e os consumidores, permitirão que estes possam vender a energia excedente produzida por eles para outros consumidores.
Para chegar até esses números, a equipe brasileira fez um levantamento de dados minucioso. Foi avaliado, por exemplo, o espaço necessário para instalação dos coletores solares e dos painéis fotovoltaicos nas lajes, e o espaço para a criação dos telhados verdes. Tudo isso levou em conta que, nos próximos anos, boa parte das moradias da Santa Marta estará distribuída em construções mais altas, em prédios com três pavimentos em média.
Foi considerado o custo para a implantação de cada uma dessas alternativas, como o gasto para aquisição e manutenção dos biodigestores, e até mesmo o número de pessoas necessárias para gerar resíduos orgânicos até 2030. Finalmente, as estudantes calcularam quais seriam os impactos das soluções propostas e a redução dos gastos com energia ao longo dos próximos 18 anos.
Na avaliação do grupo brasileiro, os temas abordados no projeto têm relevância em todo o mundo e as soluções propostas podem ser aplicadas em comunidades pobres e ricas. O estudo fornece uma visão sustentável das favelas e mostra que é possível viver nelas com menores custos de energia e melhor qualidade de vida.
Para o orientador do grupo, projetos como esse resultariam em uma série de vantagens para as comunidades. “São benefícios diretos como a redução das contas de luz e ganhos adicionais como a implantação da coleta seletiva de lixo e a melhoria da qualidade de vida dos moradores”, explica o professor André Lucena. Mais limpeza, mais saúde e geração de renda.
Com a pacificação de outras comunidades, o projeto poderia ser uma espécie de piloto para ser replicado em novas áreas, ou seja, um protótipo para políticas maiores. Mas tudo depende, é claro, de financiamento para implantação.
Concluídos os projetos, o próximo desafio de cada grupo será defender suas propostas em apenas 8 minutos, conciliando aspectos ambientais e sociais. Projetos que, se implantados, podem representar uma notável contribuição para comunidades de baixa renda de vários continentes. E um legado concreto da Rio+20 para a saúde do planeta.