Amazônia e Nordeste: áreas mais vulneráveis às mudanças do clima
Planeta COPPE / Notícias
Data: 21/06/2012
A quantidade de chuvas pode ser reduzida quase pela metade na Amazônia e no Nordeste brasileiro no final deste século, com temperaturas até 4,5ºC mais altas na Caatinga e 6ºC mais altas na Floresta. Dados preocupantes como esses estão no primeiro relatório do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC), apresentado nesta quinta-feira (21) no estande da Coppe/UFRJ na Rio+20, no Parque dos Atletas. Diante das evidências científicas sobre os efeitos das mudanças climáticas, especialistas apontaram para a necessidade de políticas públicas urgentes.
“Para lidar com esse cenário preocupante são necessárias políticas urgentes de mitigação, através de acordos internacionais, e de adaptação, em nível nacional, que defendam as populações mais vulneráveis. Mas infelizmente, apesar da urgência que temos, o resultado da Rio+20 pode não ser o esperado”, lamentou o diretor da Coppe/UFRJ e secretário do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, Luiz Pinguelli Rosa.
O coordenador do primeiro dos três volumes do Relatório de Avaliação Nacional sobre as Mudanças Climáticas,Tercio Ambrizzi (USP), alertou para o fato de que eventos extremos de chuva e de seca já são percebidos no Brasil e que os impactos na Amazônia podem afetar o país como um todo.
“A área do país onde pode haver maior aumento de temperatura é a Amazônia, o que pode alterar a umidade e o calor de outras regiões. Os efeitos das mudanças climáticas já são evidentes: há 20 anos, por exemplo, não havia chuvas extremas no inverno em São Paulo”, destacou Ambrizzi.
A presidente do Comitê Científico do PBMC e subsecretária de economia verde da Secretaria do Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, Suzana Kahn, lembrou que, desde o início, a ideia é que o Painel possa dar suporte a políticas públicas. Cerca de 300 pesquisadores participaram da elaboração do relatório, que terá mais dois volumes tratando de impactos, mitigação e adaptação e está previsto para ser concluído em outubro.
Este primeiro volume do relatório, com as bases científicas, aponta para a mesma tendência de redução de chuvas no Centro-Oeste e para o aumento destas principalmente de São Paulo ao Rio Grande do Sul, com elevação de temperatura em todas as regiões numa média de 3ºC a 4ºC no final do século.
Mesmo com redução das chuvas em geral, o estudo aponta para a tendência de eventos mais extremos. O documento alerta, por exemplo, para o impacto de chuvas intensas nas áreas urbanas devido também à falta de planejamento e infraestrutura, o que torna as cidades mais sujeitas a enchentes e deslizamentos de encostas.
Mais informações sobre o relatório estão disponíveis no site www.pbmc.coppe.ufrj.br, segue abaixo um resumo das tendências apresentadas no documento para cada bioma:
– Amazônia: redução de 10% na distribuição de chuva e aumento de temperatura de 10C a 1,50C até 2040; redução de 25% a 30% nas chuvas e aumento de 30C a 3,50C na temperatura de 2041 a 2070; e clima ainda mais seco (redução de 40% a 45% nas chuvas) e quente (aumento de 50C a 60C na temperatura) para 2071-2100. Se confirmadas, tais mudanças podem comprometer a Floresta Amazônica.
– Caatinga: a projeção para o período 2011-2040 é de aumento de 0,50C a 10C na temperatura e decréscimo de 10% a 20% na chuva; aumento na temperatura de 1,50C a 2,50C e redução de 25% a 35% nos padrões de chuva entre 2041 e 2070; e aumento significativo do calor (temperaturas mais altas em 3,50C e 4,50C) e agravamento do déficit hídrico do Nordeste, com as chuvas caindo praticamente pela metade no final do século (2071-2100).
– Cerrado: aumento de 10C na temperatura, com redução de 10% a 20% na chuva até 2040; elevação de 30C a 3,50C da temperatura e queda de 20% a 35% na precipitação de 2041 a 2070; e, nas últimas décadas do século (2071-2100), aumento da temperatura entre 50 C e 5,50C e queda na distribuição de chuva possivelmente mais crítica, com redução entre 35% e 45%.
– Pantanal: aumento de 10C na temperatura e queda de 5% a 15% nos padrões de chuva até 2040; redução de chuvas entre 10% e 25% e aumento de 2,50C a 3oC na temperatura no período seguinte (2041 a 2070); e aquecimento mais intenso, com elevação de temperatura entre 3,50C e 4,50C, e redução acentuada nas chuvas, menos 35% a 45%, no final do século (2071 a 2100).
– Mata Atlântica – Porção Nordeste: aumento relativamente baixo nas temperaturas de 0,5oC a 1oC e decréscimo nas chuvas em torno de 10% até 2040; mantendo-se a tendência de aquecimento entre 20C e 30C e redução pluviométrica entre 20% e 25% no período seguinte; esperando-se aquecimento intenso, de mais 30C a 4oC, e redução de 30% a 35% nos padrões de chuva no final do século.
– Mata Atlântica – Porção Sul/Sudeste: aumento relativamente baixo de temperatura, entre 0,50C e 10C, com aumento das chuvas em torno de 5% a 10% até 2040; aumento gradual de 1,50C a 20C na temperatura e de 15% a 20% nas chuvas em seguida (2041-2070); e temperatura entre 2,50C e 30C mais alta e clima fica entre 25% e 30% mais chuvoso nas últimas décadas (2071-2100).
– Pampa: até 2040, prevalecem condições de clima 5% a 10% mais chuvoso e até 10c mais quente; no período seguinte, mantém-se a tendência de aquecimento entre 10C e 1,50C e de intensificação das chuvas entre 15% e 20%; e projeções mais graves no final do século (2071-2100), com aumento de temperatura entre 2,50C e 30C e intensificação das chuvas entre 35% e 40%.