Com protagonismo da Coppe, estudo projeta queda de 42% nas emissões marítimas em apenas uma década
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Data: 09/07/2025

Responsável por cerca de 3% das emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) — volume comparável ao de um país como a Alemanha —, o transporte marítimo é um dos setores mais desafiadores na corrida global pela descarbonização. Classificado como um setor de difícil descarbonização (hard to abate), ele enfrenta limitações tecnológicas, econômicas e regulatórias que tornam mais complexa a transição para combustíveis e operações de baixo carbono. Para enfrentar esse cenário, a Organização Marítima Internacional (IMO) estabeleceu como meta zerar as emissões líquidas do setor até 2050.
A Coppe/UFRJ se destaca como uma das protagonistas na construção de soluções científicas voltadas para esse objetivo. Coordenado pela professora Paula Pereda, da USP, e com liderança técnica na Coppe do professor Jean-David Caprace, do Programa de Engenharia Oceânica (PEnO), um estudo inédito desenvolveu um modelo de avaliação integrada para apoiar a descarbonização do transporte marítimo internacional. A pesquisa combina Análise de Decisão Multicritério (MCDA) e simulações tecnoeconômicas, oferecendo uma estrutura robusta para orientar políticas públicas e decisões estratégicas rumo a uma navegação de zero emissões.
Os resultados indicam que medidas técnicas e operacionais — como otimização de rotas, melhorias na eficiência energética e tecnologias embarcadas — podem reduzir em até 42% as emissões do setor até 2035. Já medidas de mercado, como taxas e subsídios, são fundamentais para impulsionar o uso de combustíveis sustentáveis e ampliar a adoção de soluções mais inovadoras.
A pesquisa foi publicada em dois artigos complementares na revista Sustainability e contou com a coautoria de Paula Pereda (USP), Andrea Lucchesi (USP), Luiz Felipe Assis (Poli-UFRJ), Crístofer Hood Marques (FURG), Thais Diniz Oliveira (USP) e Rayan Wolf (USP). O trabalho contribui diretamente para o cumprimento das metas climáticas internacionais, posicionando o Brasil na vanguarda dos estudos sobre descarbonização do transporte marítimo.
O estudo também identificou uma preferência atual dos armadores por biocombustíveis de menor custo, como o biofuel intermediate straight vegetable oil (BISVO) e o biofuel intermediate fatty acid methyl ester (BIFAME). Já alternativas mais ambiciosas, como hidrogênio verde, biometanol e amônia, ainda enfrentam barreiras econômicas importantes, o que evidencia a necessidade de incentivos políticos para sua viabilização em escala comercial.
Além disso, a equipe analisou os possíveis impactos de um imposto global sobre emissões no setor marítimo. As simulações indicam que taxas entre US$ 100/t em 2028 e US$ 250/t em 2035 poderiam reduzir as exportações globais em até 1,38% (cerca de US$ 339 bilhões) e elevar os preços de alimentos, com efeitos negativos sobre economias emergentes e agravamento da insegurança alimentar — com potencial de 1,9 milhão de pessoas a mais em situação de fome até 2035.
Leia os artigos: “Sustainable Shipping: Modeling Technological Pathways Toward Net-Zero Emissions in Maritime Transport (Part I)” e “Sustainable Shipping: Modeling Economic and Greenhouse Gas Impacts of Decarbonization Policies (Part II)”.
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