Eficiência energética: um desafio mundial
Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 01/05/2007
“Falta ao Brasil continuidade no que diz respeito à adoção de medidas de eficiência energética”. Essa é a opinião do especialista americano em energia e mudanças climáticas, Howard Geller, que nos anos 80 colaborou com a implantação do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel), executado pela Eletrobrás. Na conferência proferida na COPPE, dia 25 de maio, Geller não poupou críticas à ausência de políticas públicas voltadas para o uso racional da energia. “Nos EUA, por exemplo, não há estímulo à criação de programas de eficiência energética”, ressaltou o pesquisador que é Diretor-executivo de uma organização sem fins lucrativos, chamada Sweep (Southwest Energy Efficiency Project) e coordena programas em eficiência energética em seis estados americanos: Arizona, Colorado, Nevada, Novo México, Utah e Wyoming.
Embora os EUA não tenham uma política nacional para o melhor uso da energia, Geller mostrou em sua apresentação que há progressos em termos de políticas estaduais e locais. “Mesmo estados conservadores, como Utah, vêm promovendo medidas de conservação de energia. O estado, por exemplo, tem como meta aumentar a eficiência energética em 20% até 2015. Para alcançar este resultado, estabeleceu regras para novas construções residenciais e comerciais e para o consumo de energia, gás natural, gasolina”, afirma.
Para o professor do Programa de Planejamento Energético da COPPE, Roberto Schaeffer, o Brasil ainda está muito atrasado nesse campo. “Na época do racionamento em energia, o país não aproveitou a oportunidade de estabelecer políticas firmes de eficiência energética. Para socorrer as concessionárias, o governo praticamente estimulou um maior consumo de energia”, critica.
O relatório do IPCC divulgado em maio deste ano, que teve entre seus autores os professores da COPPE Suzana Kahn Ribeiro, Roberto Schaeffer e Emilio La Rovere, recomenda a eficiência energética como uma das medidas mais eficazes, em curto e médio prazo, para o combate ao efeito estufa. De acordo com o relatório, ações voltadas para tornar mais eficiente o uso da energia podem reduzir em cerca de 30% a emissão de gases responsáveis pelo efeito estufa proveniente do uso da energia. No caso do transporte, por exemplo, que responde por 24% do total de emissão de CO2 e é o que mais cresce – 2% ao ano, o relatório mostra que medidas de eficiência energética podem reduzir de 5% a 20% a emissão neste setor.
Energia e mudanças climáticas serão os principais temas abordados na reunião do G8, no próximo mês de junho, na Alemanha, que contará também com a participação dos governantes da China, Índia, Brasil, África do Sul e México (os chamados +5). Na reunião será divulgada uma proposta de eficiência energética que foi elaborada por 20 especialistas de vários países, entre eles o brasileiro Roberto Schaeffer, professor de Planejamento Energético da COPPE. A proposta, que foi coordenada pela UN Foundation, e será apresentada pelo governo da Alemanha, que por ora detém a presidência do G8, durante a reunião, destaca a eficiência energética como uma estratégia imediata para enfrentar o problema das mudanças climáticas e aumentar a segurança energética dos países, com claros ganhos econômicos.
Os EUA e as mudanças climáticas: 300 cidades americanas são favoráveis ao cumprimento do Protocolo de Quioto
Geller surpreendeu a platéia ao revelar que mais de 300 cidades americanas são a favor dos EUA cumprir as medidas de redução estabelecidas pelo Protocolo de Quioto para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Segundo Geller, 23 estados já tomaram a decisão de reduzir as emissões de dióxido de carbono e investir em fontes alternativas de energia. “Em relação a mudanças climáticas, os estados e municípios estão tomando atitudes autônomas, da mesma maneira que já o fizeram com relação à eficiência energética. Independente do governo americano não ter assinado o Protocolo, eles estão adotando medidas por conta própria”, relata.
O especialista americano afirma ser possível os EUA reduzirem em torno de 50% o consumo em combustíveis fósseis até 2050. Mas para isso, segundo ele, é preciso adotar medidas de eficiência energética, substituir combustíveis e alterar padrões de consumo. Por enquanto, os números apontam para aumento no consumo dos combustíveis fósseis, responsáveis pelas mudanças climáticas e pelo aquecimento do planeta. Segundo dados do Energy Outlook, relatório anual do Departamento de Energia americano, o consumo de energia nos EUA, que cresce em média 2% ao ano no país, deverá dobrar até 2050. O consumo de petróleo, que hoje é de 22 milhões de barris por dia, deverá chegar a 32 milhões de barris em 2050.
Durante a conferência, o especialista ressaltou ainda sua preocupação em relação ao futuro quanto à vulnerabilidade da economia e os conflitos internacionais causados pela escassez e alta do preço do petróleo. “A demanda mundial de petróleo cresce em torno 1.5% ao ano. Desde 1985, os EUA consomem mais petróleo do que crescem as reservas. Essa vulnerabilidade é perigosa: Leva o País a apoiar governos antidemocráticos para garantir o abastecimento de petróleo, promove insegurança nas relações internacionais e guerras entre países vizinhos que são fornecedores do combustível”, adverte.