Estudo aponta vulnerabilidades na costa brasileira
Planeta COPPE / Engenharia Oceânica / Notícias
Data: 23/06/2010
“Não há dados suficientes para o planejamento adequado de ações para mitigar e adaptar os efeitos das mudanças climáticas, tais como elevação do nível do mar, na região costeira do Brasil.” A afirmação é do professor de Engenharia Costeira da Coppe Paulo Cesar Colonna Rosman, que coordenou um projeto de identificação de vulnerabilidade de regiões costeiras do país às mudanças climáticas. O estudo, que faz um diagnóstico dos problemas e recomenda medidas e ações, foi apresentado a representantes dos poderes públicos federal e estadual. Segundo Rosman, o trabalho prevê o investimento, nos próximos 50 anos, de R$ 3 bilhões em ações para preservar um patrimônio estimado em R$ 200 bilhões na zona costeira do país.
De acordo com o professor, tomar medidas para prevenir o avanço do mar em áreas costeiras vulneráveis requer levantamento de dados de medições de ondas como altura, período e dispersão de propagação, de níveis do mar, entre outros. Também é necessário um levantamento topográfico rigoroso para planejar, definir projetos prioritários para áreas mais propensas a inundação e planejar ações de mitigação e adaptação.
“Infelizmente, no Brasil, os parâmetros oceanográficos ainda não são considerados estratégicos, ao contrário do que ocorre em outros países. Essas informações são fundamentais para apoiar a elaboração de um plano diretor municipal e políticas habitacionais na zona costeira.”
Ocupação irregular e obras que avançam os limites da natureza
O estudo que mapeou as áreas mais prejudicadas ao longo de toda a costa brasileira aponta como principal causa dos problemas a ocupação urbana inadequada de regiões costeiras. Em praias oceânicas, o principal problema é a ocupação da chamada zona dinâmica da praia, onde ocorre o processo natural de recuo e avanço da faixa de areia. Em áreas litorâneas de baías e lagoas costeiras, o principal problema está na ocupação irregular de baixadas em áreas propensas a inundações, muitas vezes em locais que já foram manguezais. Com as mudanças climáticas, as praias precisariam de uma zona dinâmica mais larga; nas baixadas a frequência de inundações aumentará, e o escoamento das águas será mais lento.
“Nas praias, as intervenções urbanas impõem limites físicos, como muros e calçadas construídos em áreas que sazonalmente compõem as zonas dinâmicas, diminuindo a capacidade de acomodação da praia. Em situações de ressaca, com sobrelevação meteorológica no nível do mar, a vulnerabilidade de tais áreas é crítica”, explica.
Segundo Rosman, a praia é a melhor garantia de proteção contra ressacas em zonas costeiras urbanizadas. Ela absorve a energia das ondas e amortiza os seus impactos. Já as construções fazem o efeito contrário: refletem as ondas, aumentando a energia erosiva e consequentemente o poder de destruição das ressacas. “O correto teria sido construir mais distante da linha de costa, deixando espaço para as dunas que servem como estoque de areia e de amortecimento. Praia significa acumulação de sedimentos, é o dissipador de energia mais eficiente que existe para proteção do litoral”, afirma Rosman.
A maior incidência de ressaca é no outono e no inverno. Neste ano, com o fenômeno El Niño, a situação no Estado do Rio de Janeiro se agravou. O El Niño inverte a direção usual de incidências das ondas de ressaca no litoral natural. As ressacas procedentes do sudoeste passam a vir de sul e sueste. As regiões mais críticas, segundo o professor, são as praias do Arpoador, Leblon, Barra da Tijuca, Macumba, Macaé, Piratininga, Itaipu e Rio das Ostras. O problema verificado este ano na praia do Forte, em Cabo Frio, decorre de ressacas de sueste por causa dos efeitos do El Niño na circulação atmosférica.