Inovação com DNA brasileiro: chip desenvolvido na Coppe oferece solução acessível e disruptiva para a indústria de biotecnologia
Planeta COPPE / Engenharia de Nanotecnologia / Programa / Notícias
Data: 07/08/2025

Em um cenário global em que a inovação científica se torna estratégica para o desenvolvimento soberano e sustentável, uma tecnologia criada na Coppe/UFRJ promete transformar a forma como o Brasil realiza testes farmacêuticos e toxicológicos. O VitaChip, dispositivo do tipo organ-on-chip* desenvolvido pela pesquisadora Letícia Charelli durante seu doutorado no Programa de Engenharia da Nanotecnologia, oferece uma alternativa ética, precisa e economicamente viável aos testes em animais – reduzindo a dependência de equipamentos importados e fortalecendo a autonomia científica nacional.
A tecnologia reproduz, em microescala, funções de órgãos humanos em dispositivos do tamanho de um pendrive. Ao simular estruturas celulares com fluido em movimento e estímulos mecânicos, os organs-on-chips permitem maior previsibilidade sobre o comportamento de fármacos no corpo humano do que os métodos tradicionais com animais ou culturas bidimensionais.

“Nos últimos anos, tem crescido o questionamento sobre a eficácia dos testes com animais. A taxa de correlação entre toxicidade em roedores e humanos é de apenas 43%. Como resultado, cerca de 90% dos fármacos que chegam à fase clínica falham, gerando prejuízos bilionários”, explica o professor Tiago Balbino, orientador da pesquisa.
O VitaChip se destaca por trazer uma proposta ousada: não competir com plataformas internacionais de alta complexidade, mas sim preencher a lacuna entre tecnologias inacessíveis e as necessidades reais de laboratórios e empresas de países em desenvolvimento. O dispositivo tem custo até 60% menor do que similares globais (menos de US$ 8 por unidade), é produzido em menos de duas horas por impressão 3D, e apresenta alta reprodutibilidade biológica – com variação inferior a 5% no tamanho dos esferóides. Conta ainda com reservatório integrado para coleta de amostras sem danificar as células.
“Trata-se de um avanço pragmático, que propõe um novo paradigma de acessibilidade tecnológica. É uma ferramenta funcional, reprodutível e apropriada à realidade latino-americana, permitindo que grupos de pesquisa fora dos grandes centros de inovação tenham acesso à fronteira da ciência”, afirma Letícia Charelli.
A proposta vai ao encontro de tendências globais – como a recente autorização da FDA americana para o uso de métodos alternativos aos testes com animais – e de uma pressão crescente por soluções mais éticas, eficazes e sustentáveis. Para o Brasil, representa um passo importante em direção à independência tecnológica, à valorização da ciência nacional e à construção de uma indústria de biotecnologia mais competitiva e inclusiva.
O que é um organ-on-chip?
Os organs-on-chips são dispositivos do tamanho de um pendrive que reproduzem estruturas celulares que se comportam como um fígado, coração ou tumor humano, por exemplo, em um ambiente controlado. Eles combinam células humanas com fluxo de fluidos e estímulos mecânicos, criando um modelo mais realista do que as tradicionais culturas em placas 2D ou testes em animais utilizados em laboratórios. A tecnologia oferece mais precisão na previsão de como um fármaco se comporta no corpo humano.
- biotecnologia
- Nanotecnologia
- organonchip
- saúde
- vitachip
