Projeto da COPPE aponta solução para os problemas da Lagoa
Planeta COPPE / Engenharia Oceânica / Notícias
Data: 28/01/2005
A cena se repete todos os anos, mas o carioca não se resigna com a mortandade de peixes que constantemente presencia na Lagoa Rodrigo de Freitas. Principalmente por saber que a solução para o problema foi dada há mais de uma década e até hoje não saiu do papel. A COPPE concluiu em 1992 um estudo aprofundado do sistema praia-canal-lagoa, que propõe solução para a redução da superpopulação de algas que provocam a mortandade de peixes na Lagoa Rodrigo de Freitas.
Em 1997, o estudo, coordenado pelo Professor do Programa de Engenharia Oceânica, Paulo Cesar Rosman, foi enviado pela Prefeitura do Rio ao Laboratório Nacional de Engenharia Civil, de Portugal, para a elaboração de um projeto executivo que detalhasse a implantação das soluções sugeridas pelos pesquisadores brasileiros. O laboratório português corroborou com o estudo da COPPE e entregou um projeto de engenharia à Prefeitura em 2001.
Segundo Rosman, o problema crucial da lagoa está no grande déficit de oxigênio que ocorre durante a madrugada, em decorrência de uma superpopulação de microalgas em suas águas. Na situação atual da Lagoa, há grande variação na quantidade de oxigênio dissolvido nas águas, tanto no tempo quanto no espaço. Numa perspectiva espacial, verifica-se que as águas mais ao fundo estão sempre com enorme déficit de oxigênio, e por lá os peixes não se aventuram. Os peixes sempre ficam nas águas mais próximas da superfície, onde a disponibilidade de oxigênio varia muito ao longo do dia, o que, diga-se de passagem, não é nada bom. Por exemplo, no fim da tarde há oxigênio de sobra, porque durante o dia, a fotossíntese da superpopulação de algas aumenta a quantidade de oxigênio, chegando a produzir uma supersaturação de até 180% no fim da tarde. No entanto, à noite, além do excedente de oxigênio escapar para a atmosfera, as algas começam a consumi-lo por respiração, resultando em um enorme déficit no fim da madrugada. No verão, o problema se agrava: a água mais quente retém menos gás e o metabolismo das algas é mais acelerado. Durante a madrugada, o déficit de oxigênio na lagoa pode chegar a mais de 80%. A savelha, espécie de peixe de água salgada com pouca tolerância a níveis muito baixos de oxigênio, é uma das principais vítimas.
A solução está no encontro da lagoa com o mar
Na opinião dos pesquisadores, para solucionar o problema de déficit de oxigênio na água é necessário reduzir a superpopulação de algas. “A lagoa se assemelha a uma pessoa obesa que precisa perder gordura. Neste caso, ela precisa perder excesso de nutrientes para voltar a ser um habitat saudável”, compara Rosman. Segundo o professor, a solução está em reduzir drasticamente o estoque de nutrientes acumulados na lagoa, que são trazidos principalmente pelas águas pluviais e eventuais lançamentos de esgoto. Não basta diminuir o aporte de nutrientes através do melhor controle dos esgotos. Isso diminui o depósito de nutrientes, mas não diminui o estoque acumulado. Para diminuir o estoque em excesso de nutrientes, o estudo da COPPE recomenda que seja feita uma reforma no canal do Jardim de Alá, propiciando maior circulação e troca de água entre a lagoa e o mar, hoje praticamente inexistente.
A redução da quantidade de nutrientes resultará na diminuição da população de algas, eliminando assim um ciclo que há décadas se perpetua, causando mortandade de peixes. “As águas da lagoa também perderão o aspecto turvo, e passarão a ter uma coloração mais cristalina”, garante Rosman.
O intuito é fazer com que a lagoa deixe de ser um ambiente estagnado, e recupere sua dinâmica de ambiente estuarino, que foi impedido com desastradas obras passadas. O projeto propõe ainda que os rios Macacos e Cabeças, desviados da lagoa há mais de 80 anos, voltem ao seu leito de origem. Com isso, restaura-se a natureza e dá-se um fim às habituais inundações em áreas marginais, no Jóquei e no Jardim Botânico. Rosman explica que a execução desse projeto dará solução não apenas aos problemas da Lagoa Rodrigues de Freitas. Ele também servirá para evitar grandes erosões nas praias do Arpoador, Ipanema e Leblon, que volta e meia causam transtornos aos banhistas e moradores dos bairros. Esse novo sistema impediria que as areias da praia entupissem o canal, e melhoraria consideravelmente a estabilidade das praias, além de criar novos points de surf.
Algumas das recomendações feitas pelos pesquisadores no estudo já foram efetuadas ao menos em parte, como a reposição de areia na praia do Leblon. A reforma na entrada do canal da Av. Visconde de Albuquerque também terá que ser considerada. Coube aos pesquisadores da COPPE elaborar o projeto conceitual e estudo de viabilidade técnica. O LNEC, que há quatro anos entregou o projeto de engenharia à Prefeitura, é um velho conhecido da área de obras públicas do Rio: participou dos projetos do Aterro do Flamengo, e do aumento da faixa de areia de Copacabana em 1966.