Projeto da COPPE recupera aterro de lixo na área urbana de São Paulo
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Data: 02/05/2002
Pesquisadores da COPPE – Coordenação dos Programas de Pós – Graduação de Engenharia da UFRJ – estão desenvolvendo um projeto pioneiro no Brasil para recuperação ambiental de aterros de resíduos sólidos urbanos. A primeira experiência foi realizada com sucesso no aterro de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo. Após cinco anos de trabalho, o aterro, que por mais de 18 anos recebeu cerca de 16,2 milhões de toneladas de lixo, ostenta, hoje, centenas de árvores de espécies tropicais, algumas com mais de 8 metros de altura. Como resultado deste trabalho, já é possível observar no local o aparecimento de outras espécies de plantas, aves e animais de pequeno porte.
O aterro de Santo Amaro ocupa uma área de 300 mil m2 e possui mais de 55 metros de altura. Desativado desde 1995, este é um dos primeiros aterros florestados, em nível mundial, cuja implementação e acompanhamento vem sendo realizado de forma controlada, com base em conhecimento científico. O projeto começou a ser desenvolvido em 1999, com o plantio de 2.416 mudas de 24 espécies diferentes, a maioria de espécie inoculadas com microrganismos que facilitam a colonização nos solos de áreas degradadas. Este trabalho é fruto de pesquisa desenvolvida na COPPE pelo agrônomo Júlio César da Matta e Andrade que sob a orientação do professor Cláudio Fernando Mahler defendeu dissertação de Mestrado sobre o tema em março de 2000. Atualmente Júlio cursa o doutorado na COPPE, onde vem dando continuidade a pesquisa sobre vegetação em áreas de aterro, que será o tema de sua tese. A pesquisa vem sendo desenvolvida com o apoio da Enterpa Ambiental S.A, EMBRAPA CNPq, FAPERJ, Prefeitura Municipal de São Paulo e a partir deste ano contará com a participação da Universidade Federal de Viçosa.
Aterro: a sina do vizinho indesejável
Os aterros localizados próximos a centros urbanos são hoje um dos maiores desafios enfrentados pelas prefeituras. Uma espécie de vizinho indesejável que todos querem ver pelas costas e não sabem o que fazer com ele. Segundo Julio da Matta, esses locais precisam ser monitorados constantemente pelo risco ambiental que representam, seja a partir da produção de gases e chorume, seja originando deslizamentos, entre outros fatores. O professor Cláudio Mahler alerta para a importância de se realizar pesquisas em aterros, em atividade ou desativados, tendo em vista que até hoje sabe-se muito pouco sobre os efeitos e danos à saúde humana provenientes do contato direto ou indireto com os resíduos sólidos dispostos nesses locais. “É importante destacar que este trabalho foi desenvolvido em uma área de aterro localizada em pleno centro urbano, onde habitam ou circulam mais de 500 mil pessoas diariamente”, enfatiza Mahler.
Além de melhorar a situação ambiental do aterro, transformando, inclusive, o aspecto visual do local, o projeto implementado pelos pesquisadores da COPPE em São Paulo abre ainda outras perspectivas para a utilização deste espaço. Segundo o pesquisador Júlio da Matta, com um trabalho técnico adequado é possível transformar um aterro em espaço de lazer e esporte, reserva vegetal ou até mesmo em local destinado a fins econômicos, viabilizando, por exemplo, produção de madeira, fibras ou óleo vegetal. “Para isso basta realizar pesquisas que possam assegurar a situação ambiental do local em relação ao projeto”.
Antes de iniciar o plantio das mudas no aterro de Santo Amaro, o pesquisador da COPPE aplicou inúmeros testes, em diferentes profundidades, para avaliar as condições de fertilidade do solo, cujas características dificultam o cultivo vegetal. Entre os principais problemas, destacam-se o alto grau de compactação, baixa fertilidade, presença de gases tóxicos, chorume e possibilidade de transporte de metais pesados, entre outros. “No caso específico do aterro de Santo Amaro, verificamos pela correlação de diversos fatores determinados em análises de solo, ser pequena a possibilidade de transporte de metais tóxicos pelas plantas”, afirma o pesquisador.
Satisfeito com o resultado do trabalho, Júlio da Matta pretende continuar pesquisando aterros. O pesquisador está avaliando a adaptabilidade das árvores e arbustos aos diferentes fatores ambientais existentes e a monitorar o transporte de metais tóxicos associado a cada espécie. Este é foco da pesquisa que Júlio já está desenvolvendo para elaborar sua tese de doutorado que será defendida dentro dos próximos dois anos.