Estudo da Coppe aponta oportunidades e obstáculos para energia eólica offshore no Brasil

Planeta COPPE / Energia / Planejamento Enérgico / Notícias

Data: 09/02/2023

Um estudo elaborado por pesquisadores da Coppe/UFRJ, e da Essenz Soluções, mostrou que nenhum porto brasileiro está preparado para a operação plena da montagem de parques eólicos offshore. Por outro lado, todos podem ser adaptados, não há necessidade da construção de novos portos, a regulamentação do setor está adequada à sua expansão, podendo gerar mais de 100 mil novos empregos. Essas são algumas conclusões do “Estudo de cadeia de valor: energia eólica offshore”, coordenado pelo professor Maurício Tolmasquim, do Programa de Planejamento Energético da Coppe, e patrocinado pela Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEeólica), que teve como objetivo mapear o estágio atual do segmento de energia eólica offshore no Brasil.

Os pesquisadores enumeraram desafios como a localização dos projetos eólicos offshore; o desalinhamento entre cronogramas de geração e transmissão e propriedade e obrigações referentes à infraestrutura de transmissão marítima. No entanto, os autores ressaltam que a regulação brasileira já incorpora ferramentas suficientes para fornecer os incentivos adequados aos empreendedores. O estudo é composto por 11 notas técnicas, abordando temas variados. “É mais amplo do que o título sugere, é mais do que o estudo da cadeia de valor”, avalia Maurício Tolmasquim.

Segundo o professor da Coppe, um dos desafios a serem enfrentados é a infraestrutura de transmissão. “É um gargalo que ainda existe para a indústria eólica onshore e é ainda maior para offshore. Há 70 projetos para offshore que estão em licenciamento ambiental e o investidor quer ter certeza de que haverá linha de transmissão e o planejador quer ter certeza de que haverá geração. O que vem primeiro, o ovo ou a galinha, a linha de transmissão ou a energia a ser transmitida? É um desafio alinhar essas expectativas e os respectivos cronogramas e o poder público deve resolver este desafio e garantir concatenação”, explicou o professor.

De acordo com o estudo, além da importância do investimento em linhas de transmissão, a infraestrutura portuária e logística é fundamental para o desenvolvimento dessa indústria no Brasil. A análise feita pelos pesquisadores da Coppe e da Essenz indicou que nenhum porto brasileiro, pela falta de histórico de plantas eólicas offshore no país, está completamente pronto para a operação plena e imediata na montagem de parques eólicos offshore, mas não há necessidade de construção de novos portos ou terminais. “Os portos existentes, com obras e modificações, dão conta do recado. É uma situação do tipo copo meio cheio, meio vazio. Não é a situação ideal, mas é razoável”, avaliou Tolmasquim.

“Além disso, há uma série de possíveis ganhos sociais e ambientais, como o grande potencial de geração de emprego, de 11 a 34 postos de trabalho por megawatt/h, podendo gerar de 72 e 163 mil empregos em 2050. Há também a possibilidade de criação de recifes artificiais, trazendo incentivos à aquicultura. Outro ganho é o forte abatimento nas emissões de carbono (CO2e) pela adoção de uma alternativa tecnológica menos poluente”, acrescentou.

Apesar da aprovação de um projeto de lei ser o mecanismo mais seguro para estabelecer um marco regulatório para o setor, o caminho escolhido por meio da publicação do Decreto nº 10.946/202 e suas portarias complementares foi considerado adequados para a efetivação dos investimentos necessários ao desenvolvimento da fonte eólica offshore e de sua cadeia de valor no Brasil. O professor lamentou que não tenha sido aprovada uma lei para a regulação do setor, “como deveria ter sido feito”. “Teria mais robusteza jurídica, mas é melhor manter como está para que não sejam feitas modificações ruins. A regulação já se mostra suficientemente adequada”.

Ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Tolmasquim acredita que o custo, atualmente pouco competitivo da energia eólica offshore, cairá gradualmente, tornando-a mais competitiva face a outras fontes de energia, como ocorreu com a eólica onshore. “Haverá curva de aprendizado e ganho de maturidade tecnológica, reduzindo o LCOE (custo nivelado de energia), como na época. Quando firmamos o primeiro leilão de eólica onshore, o custo era 85 dólares por megawatt/h, hoje é 30 e já foi 17. A offshore hoje está perto de 70, ou seja, é mais barata do que a onshore era naquela época”, afirmou.

O estudo foi apresentado pela ABEeólica, no dia 17 de janeiro, o seu sumário executivo encontra-se disponível na página da Associação.

  • ABEeólica
  • offshore