Coppe coordena projeto para mitigar problemas de deslizamentos em encostas brasileiras
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Data: 06/07/2022
Professores da Coppe/UFRJ estão coordenando um projeto de cooperação técnica entre os governos do Brasil e do Japão, voltado para solucionar problemas relacionados a deslizamentos em encostas brasileiras. Como parte do projeto, denominado SABO, estão sendo realizadas pesquisas de campo e laboratoriais visando a elaboração de um manual de diretrizes técnicas para projetos de engenharia, plano de gestão de obras e de manutenção das estruturas de retenção para fluxos de detritos.
O projeto, com investimento de R$1,86 milhões e com previsão de 60 meses de duração, é executado por meio de uma parceria com a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), com o Departamento de Obras de Proteção de Defesa Civil (DOP), com a Coordenação Geral de Prevenção e Projetos Estratégicos (CGPP) do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).
As pesquisas aplicadas e a elaboração do manual técnico, que serão coordenadas pelo professor de Engenharia Geotécnica da Coppe, Maurício Ehrlich, serão a base referencial para o desenvolvimento dos projetos de engenharia e implantação de obras de prevenção para redução do risco de desastres relacionados ao fenômeno de fluxos de detritos nos diversos cenários geológico-geotécnicos brasileiros. A cooperação prevê ainda o desenvolvimento de dois projetos executivos voltados para a implantação de obras de prevenção, utilizando barreiras de retenção de fluxo de detritos, em localidades dos municípios de Nova Friburgo e Teresópolis, no estado do Rio de Janeiro, que já foram bastante afetados por tragédias climáticas.
O eixo principal do projeto é a experiência japonesa na utilização de Barreiras Sabo (de Retenção de Fluxo de Detrito). Maurício Ehrlich explica que, no mundo, o Japão se destaca por apresentar relevo predominantemente montanhoso e frequentemente ser acometido por fenômenos relacionados a movimentos gravitacionais de massa – os debris flow – de grande vulto. De acordo com o professor da Coppe, a solução que mais se destaca no cenário japonês neste quesito é a utilização de Barreiras Sabo, cuja aplicação vem sendo atualizada há mais de um século, por meio de constantes pesquisas que geram execuções de obras de prevenção para redução do risco de desastres.
Mauricio Ehrlich diz que as ocupações urbanas em encostas, sob condições de chuvas intensas e prolongadas, estão sujeitas a consequências trágicas causadas por movimentos gravitacionais de massa, como os deslizamentos de solos, solapamento de margens de rios e processos correlatos. Tais movimentos, de acordo com o professor da Coppe, têm grande potencial destrutivo e têm causado de forma recorrente danos materiais e perdas humanas no Brasil, sobretudo nos assentamentos precários, onde a vulnerabilidade é característica e evidentemente maior.
“O fenômeno de migração acelerado da população das áreas rurais em direção às urbanas, ocorrido em várias cidades do Brasil no século passado, promoveu o crescimento urbano desordenado e exponencial. Um fato agravado pela incapacidade do estado brasileiro de garantir condições dignas de acesso à moradia, o que levou a população menos favorecida a ocupar áreas ambientalmente frágeis, como as encostas e as margens de rios”, avalia Maurício Ehrlich.
Os fluxos de detritos, incluindo a lama, como explica o professor da Coppe, correspondem a fenômenos de transporte de massas que geralmente ocorrem em altas velocidades, na faixa de 5 a 20 m/s. Com isso, tais detritos têm alta capacidade erosiva e grande poder de destruição devido às grandes forças de impacto que podem variar de 30 a 1.000 kN (de 3.000 a 100.000 quilograma força) por m², além do transporte de árvores, blocos de rocha, pedregulhos, areia e lama. Tudo isso pode ocorrer em longas distâncias, mesmo em declividades baixas, de 5° a 15°, e em curtos períodos de tempo, de alguns segundos a poucos minutos.
Apesar dos grandes avanços no desenvolvimento de sistemas de monitoramento, de alerta, mapeamento e adoção de obras para o controle de inundações e prevenção de deslizamentos em encostas ou taludes, Maurício Ehrlich alerta que os fluxos de detritos ainda se constituem em um desafio para a Engenharia Geotécnica. “A compressão do fenômeno, sua previsibilidade e ações de mitigação ainda carecem de estudos e pesquisas na área que fortaleçam o estágio atual de conhecimento no país. Nesse sentido, este projeto se justifica por permitir o desenvolvimento de estudos aprimorados sobre esse processo destrutivo que considere a identificação das áreas suscetíveis a sua ocorrência, além de concepções de projetos e obras necessárias ao seu controle”, explica o professor da Coppe.
No Brasil, os registros de ocorrências de debris flow têm indicado a recorrência do fenômeno nas últimas décadas. De acordo com Maurício Ehrlich, esta recorrência está associada, de fato, ao regime pluviométrico intenso, típico do país; ao relevo montanhoso e à ocupação antrópica. O professor explica que, apesar dos grandes avanços ocorridos nos últimos anos voltados para a prevenção de riscos e resposta a desastres ambientais, bem como no desenvolvimento científico no campo geotécnico, o país ainda carece de pesquisa e referências no que tange a aplicação de tecnologias de prevenção do risco aos eventos extremos de debris flow, como compreensão do fenômeno e a possível solução.
“Nesse sentido, a assimilação da ampla experiência japonesa em retenção de debris flow será muito importante, a fim de permitir ao Brasil o desenvolvimento de métodos próprios de investigações, modelos de concepção de projetos e de obras para controle de fluxo de detritos, baseados em casos de sucessos dos japoneses”, conclui o professor da Coppe.
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