Sustentável para quem? Pesquisadores da UFRJ apresentam o olhar do Sul sobre alimentação sustentável

Planeta COPPE / Engenharia de Produção / Notícias

Data: 23/02/2021

Pesquisadores da Coppe/UFRJ e da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (Facc/UFRJ) apresentarão o “olhar do Sul” sobre o consumo sustentável de alimentos nas classes médias em workshop que será realizado, online, no dia 25 de fevereiro, quinta-feira, às 15h. “Sustentável pra quem?” é resultado de um estudo realizado em 2018 e 2019, concomitantemente, no Brasil, na China e na África do Sul, sobre o que influencia o consumo sustentável de alimentos nas classes médias do Sul global.

Financiado pelo conselho britânico de pesquisa (ESRC), o projeto “Sustainable Consumption, the middle classes and AgriFood Ethics in the Global South (SCArFEthics)” foi implementado no Brasil pela UFRJ, sob a coordenação dos professores Roberto Bartholo, da Coppe/UFRJ, e Rita Afonso, da Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC/UFRJ). Também participam do estudo as pesquisadoras Luiza Farnese Sarayed-Din e Cristine Carvalho, do Laboratório de Tecnologia, Diálogos e Sítios (LTDS) da Coppe. 

A pesquisa contempla 61 entrevistas com pessoas-chaves de instituições da área de alimentação sustentável no Brasil (Fase 1) e consumidores de classe média do Rio de Janeiro (Fase 2). Na primeira fase, foram entrevistadas 30 pessoas-chaves de instituições da área de alimentação sustentável no Brasil, tais como governo, sociedade civil, restaurantes, atacado/varejo e mídia/influenciadores. Na segunda fase, os pesquisadores entrevistaram 31 consumidores de três bairros do Rio de Janeiro (Tijuca, Botafogo e Maré). Também foi traçada uma etnografia de dez desses consumidores que consentiram em ser acompanhados com maior detalhe.

O workshop será transmitido pelo YouTube em: https://www.youtube.com/watch?v=jUYL04Tk06g&feature=youtu.be. O evento terá início às 15h, com uma breve apresentação de representantes do projeto no Reino Unido, Alexandra Hughes e Dorothea Kleine, e do representante no Brasil, professor Roberto Bartholo.

Pesquisa confere contradição entre discurso e prática

A professora Rita Afonso ressalta o rigor da metodologia. “Algumas vezes o que a pessoa responde no questionário não corresponder à realidade. Discursos alinhados com a alimentação sustentável não se comprovaram na prática. Então, acompanhamos dez pessoas em compra de supermercado, em jantar em família… Pessoas que diziam não consumir ou consumir poucos alimentos processados tinham o armário cheio de biscoitos. Outros, que diziam incentivar os produtores locais, compravam alimentos processados de grandes marcas internacionais”, exemplifica Rita.

Rita explica que os pesquisadores trabalharam com o conceito de classes médias (no plural). “Não se trata apenas de renda, mas de rede, capital social. Quem é de classe média quando perde emprego não cai imediatamente na pobreza, mantém plano de saúde, continua a frequentar eventos culturais, a classe média tem um amortecedor social quando perde fonte de renda”, explica a professora.

Segundo Rita, uma das características positivas do projeto é que o ESRC não permite que o design do projeto seja todo feito por quem pede o financiamento e sim que ele seja feito de maneira colaborativa por todos os participantes desta parceria internacional. “Inicialmente, a gente tinha várias questões que seguiam o olhar do Norte. Na Inglaterra, há cerca de vinte certificados que são exigidos para alimentação sustentável. Qual o nosso contexto no Brasil? Para os atores-chave que entrevistamos na primeira fase, sustentável é colocar comida viva, fresca, todo dia na mesa do trabalhador e que não comprometa suas despesas com saúde e educação”.

“Em 2020, 10,3 milhões de pessoas passaram fome no Brasil, segundo o IBGE. Você chega à rua principal da Maré, a Teixeira Ribeiro, e é um deserto alimentar. Há várias barraquinhas, mas não vendem frutas, verduras, legumes, elas vendem biscoitos salgados a 50 centavos. A agricultura orgânica é mais cara porque não tem escala, os incentivos, as subvenções, como tem o agronegócio. Os atores que trouxemos estão há anos discutindo isso. É preciso ressignificar o conceito a partir do olhar do Sul”.

Programação do workshop

15:00 – Abertura
Alex Hughes e Dorothea Kleine – representantes Scarfe-UK
Roberto Bartholo – professor da Coppe/UFRJ, representante Scarfe-BR

15:15 – EXISTE CONSUMO SUSTENTÁVEL NO BRASIL?

Luiza Farnese Sarayed-Din – Apresentação resultado Fase 1 Scarfe-BR
Palestrantes:
Elisabetta Recine, integrante do Observatório de Políticas de Segurança Alimentar e Nutricional
Márcio Mendonça, coordenador do programa de agricultura Urbana da AS-PTA
Debatedor: Eduardo Augusto Fernandes, pesquisador do Nupens/USP
Moderadora: Rita Afonso
INTERVALO (10 minutos)

16:05 – SUSTENTABILIDADE NA PRÁTICA: CLASSES MÉDIAS E CONSUMO DE ALIMENTOS

Cristine Carvalho – Apresentação do resultado Fase 2 Scarfe-BR
Palestrantes:
Hamilton Silva – Saladorama
Ana Santos – Centro de Integração na Serra da Misericórdia (CEM)
Luana Carvalho – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST)
Tati Lund – Org bistrô
Thomás Ferreira – Cooperativa de Alimentos Saudáveis (Coopas)
Debatedor: Ivan Bursztyn, professor do Instituto de Nutrição Josué de Castro (INJC/UFRJ)
Moderadora: Rita Afonso

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