Estudo aponta vulnerabilidades e oportunidades do setor energético brasileiro frente às mudanças climáticas
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Data: 28/11/2025

O sistema energético brasileiro, embora reconhecido internacionalmente pela alta participação de fontes renováveis, está cada vez mais vulnerável aos impactos das mudanças climáticas. A conclusão é de um estudo da Coppe/UFRJ que representa a revisão mais abrangente já realizada sobre os efeitos climáticos no setor de energia do Brasil, publicado na Annual Review of Environment and Resources, uma das revistas científicas de maior prestígio no mundo.
A pesquisa, conduzida pelo Cenergia, do Programa de Planejamento Energético (PPE), mostra que as alterações no clima já têm potencial para provocar impactos negativos, profundos e duradouros em vários pilares da matriz energética nacional — com riscos que tendem a crescer ao longo das próximas décadas. Entre os pontos mais críticos estão:
- dependência da hidreletricidade, cada vez mais sensível a estiagens prolongadas;
- crescimento acelerado do consumo de energia para refrigeração, impulsionado pelo aumento da temperatura e maior ocorrência de eventos extremos, como ondas de calor;
- vulnerabilidade da produção de biocombustíveis em regiões suscetíveis à seca.
Há também oportunidades, como o possível aumento do potencial eólico em partes do país, mas os autores alertam: ganhos isolados não compensam os riscos sistêmicos para o setor elétrico. “O Brasil tem uma matriz elétrica majoritariamente renovável, e isso é um ponto muito positivo. Mas, exatamente, por depender do clima, ela é também mais sensível aos impactos do aquecimento global”, explica a pesquisadora Talita Cruz, líder do estudo.
Para aprofundar a análise, a equipe elaborou três mapas inéditos de tendência climática para a segurança do setor energético:
🔹 potencial hidrelétrico por 12 regiões hidrográficas
🔹 potencial solar e eólico por macrorregiões
🔹 demanda de energia para climatização de ambientes por unidades da federação
Os resultados mostram um cenário desigual e preocupante: agravamento das secas e redução do potencial hidrelétrico na Região Norte; algumas tendências positivas para as bacias hidrográficas na Região Sul; ganhos para a energia eólica no Sul e Nordeste; e insegurança científica persistente sobre os impactos na geração solar.
Uma lacuna preocupante também foi identificada: há pouquíssimos estudos sobre impactos climáticos na biomassa e na produção de bioenergia — fontes estratégicas para o Brasil. “Sem clareza sobre onde estão os riscos e as oportunidades, não há planejamento possível. Por isso, mapear essa lacuna de conhecimento é crucial: é o que nos permite enxergar tendências no planejamento energético e ambiental e tomar decisões com base em evidências. Só assim dá para avaliar se estamos, de fato, fortalecendo a segurança e a resiliência energética — ou se seguimos apenas reagindo, de forma improvisada, às emergências climáticas”, afirma Talita.
Entre as recomendações, o estudo destaca:
- planejamento energético adaptativo, preparado para cenários climáticos futuros;
- maior integração entre fontes complementares (solar, eólica e bioenergia);
- investimentos em modelagem climática de alta resolução para orientar decisões do setor elétrico;
- políticas públicas alinhadas às projeções de aquecimento global e eventos extremos.
O trabalho é resultado da análise sistemática de 65 artigos científicos e da colaboração de 19 pesquisadores do Cenergia, laboratório referência em transição energética, descarbonização e sustentabilidade.
O recado central dos autores é direto: o Brasil pode perder segurança energética nos próximos anos — ou pode liderar globalmente a transição energética com planejamento, ciência e inovação. A resposta dependerá das escolhas que começarem a ser feitas agora.
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