Programa em execução na UFRJ visa desenvolver o protagonismo de pessoas pretas e pardas na construção de Cidades Inteligentes
Planeta COPPE / Engenharia de Transportes / Notícias
Data: 27/11/2020
Com a intenção de tornar a cidade do Rio de Janeiro em um lugar mais inclusivo, diverso, tecnológico e digno para a comunidade preta e parda, foi implantado na UFRJ o programa Ubuntu_Labe que já resultou em nove projetos, e conta com a participação do professor Matheus Henrique Oliveira, do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ. Esta iniciativa tem como objetivo desenvolver as políticas públicas de igualdade racial na cidade do Rio de Janeiro e fortalecer e expandir o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial (Sinapir). Depois de seis meses de desenvolvimento, os nove projetos serão apresentados pelos participantes, dias 30 de novembro e 1 e 2 de dezembro, das 18:30 às 20:30, com transmissão pelo canal do U_labe no youtube.
Aberta ao público, a apresentação será direcionada a pessoas avaliadas como capazes de abrir as portas aos integrantes do Ubuntu_Labe, oferecendo mentoria, oportunidades e recursos, incluindo os financeiros, para que possam dar continuidade aos projetos. Além do professor Matheus, participam da organização do programa: Christian Basílio, aluno de Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social da UFRJ; Joana Ribeiro, facilitadora de processos criativos e colaborativos; Lawrence Duarte, aluno de Biblioteconomia da UFRJ: e Rafael Ramires, aluno de Tecnologias Educacionais na Universidade Estácio.
Apoiado pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH) e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o U_labe tem como parceiro de supervisão a prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, por meio do Escritório de Planejamento (EPL), ligado a Subsecretaria de Planejamento e Acompanhamento de Resultados. O programa também tem interação com o Plano de Desenvolvimento Sustentável do Município (PDS) desenvolvido pelo Escritório de Planejamento da Secretaria Municipal da Casa Civil, no âmbito do tema transversal de Igualdade e Equidade, mas com efeitos sobre os outros quatros temas (Cooperação e Paz; Longevidade e Bem-estar; Mudanças Climáticas e Resiliência; e Governança).
Para alcançar seu objetivo, o U_labe deu início, em maio de 2020, ao primeiro ciclo de desenvolvimento e empreendedorismo para estudantes autodeclarados pretos ou pardos da UFRJ em soluções tecnológicas para cidades inteligentes, com foco inicial nos problemas do município do Rio. Tais soluções são pautadas pelo olhar da pessoa preta sobre tecnologia, cultura e cidade, de forma a criar novas oportunidades econômicas e sociais em que ela seja contemplada.
O U_labe começa a partir de uma pergunta central, “Cidades inteligentes para quem?”. Uma abordagem que abre espaço de exploração e questionamento do próprio espaço em que vivem os integrantes do programa sobre a efetiva materialização de um futuro em que haja igualdade racial. Inserido no contexto do Plano de Desenvolvimento sustentável do Rio de Janeiro, a pergunta instiga o questionamento também do papel do protagonismo das pessoas pretas e pardas no processo de territorialização dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Agenda 2030.
O questionamento foi dividido em cinco perguntas e envolve cinco áreas consideradas como prioritárias. A primeira é a de Saúde e Saneamento, na qual a pergunta é como tornar acessível tais bens primários, valorizando saberes ancestrais, quebrando paradigmas, e usando a tecnologia a favor da comunidade preta e parda. A segunda é referente à Educação Popular para saber como quebrar o paradigma de um pensamento eurocêntrico e colonizador para uma pluralidade de conhecimento popular, resgatando a história e a acessibilidade cultural da comunidade preta e parda. A terceira, referente à Vida Urbana, procura descobrir como transformar a vivência distópica da comunidade preta e parda em um território saudável, acessível, tecnológico e digno.
As duas últimas perguntas são focadas no Gênero – de forma a descobrir como tornar as metrópoles como o Rio de Janeiro em lugares mais acolhedores e dignos capazes de celebrar a vida da mulher preta e da comunidade LGBTQI+ preta e parda através da tecnologia –, e na Ética e Privacidade Digital. Nesta, a busca é pela resposta de como abordar a ética e privacidade digital para criar uma cosmovisão Africana, numa realidade tecnológica antirracista, segura e não expropriativa aos mais vulneráveis.
A motivação para uma participação mais expressiva
Em 2016, Tay, o robô digital desenvolvido pela microsoft para interagir no Twitter com jovens de 18 a 24 anos através de um sistema de inteligência artificial, foi retirado do ar em menos de 24 horas por assumir uma postura racista. Tay foi desenvolvido para aprender com as postagens de diversos usuários da rede social e começar a produzir conteúdo direcionado ao seu público alvo. Tay foi um sucesso em seus testes de laboratório por conseguir uma coerência semelhante a um humano, mas falhou absurdamente ao ignorar que o conteúdo da internet pode ser abusivo e reproduzir de forma indiscriminada uma lógica desigual enraizada na história do mundo.
Mas afinal, o que é cidades Inteligentes? Cidades Inteligentes são as ditas cidades do futuro, tem a característica do uso da tecnologia para poder propor uma melhor forma, mais ágil para aplicações de serviços do dia a dia dentro de uma cidade.
O caso do Robô Tay ilustra muito bem o curso atual do mundo tecnológico. Atualmente o cenário tecnológico é majoritariamente de pessoas brancas, isso implica em tecnologias não desenvolvidas para pessoas pretas e possibilitando assim também o Racismo Algorítmico, que ocorre quando o algoritmo cria conceitos raciais que refletem a realidade de um mundo racista dentro das redes.
Numa sociedade que caminha no sentido da sua tecnologia, erros de aprendizado de algoritmos como estes não são apenas ofensivos, mas principalmente, promotores da desigualdade. Isto porque, cada vez mais, os computadores são encarregados de tomar decisões cruciais e muitas vezes com base numa imparcialidade que passa despercebida. Em outras palavras, a inteligência artificial está cada vez mais presente nas nossas vidas cotidianas sendo usada para alimentar políticas de segurança pública, aprovação de empréstimos ou seleções de empregos e, nesse contexto, as falhas derivadas da simples replicação de tecnologias que desconsideram as desigualdades raciais podem implicar em decisões discriminatórias.