Nelson Maculan fala sobre a criação do PESC durante o seminário que celebrou o cinquentenário do Programa

Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Notícias

Data: 24/11/2020

Promovida pela Coppe/UFRJ, a Semana PESC 50 anos teve seu início, dia 9 de novembro, para celebrar o cinquentenário do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Instituição. Professor do Programa desde 1971, um ano após sua criação, Nelson Maculan contou um pouco sobre a motivação que conduziu o professor Alberto Luiz Coimbra, fundador da Coppe, a impulsionar a criação do PESC, e como foi o crescimento do programa naquela época. Na sequencia Marlon Vieira, ex-aluno de doutorado, relatou sua carreira na Siemens, onde ingressou em 2006 e em pouco tempo passou a exercer cargos de diretor.Promovida pela Coppe/UFRJ, a Semana PESC 50 anos teve seu início, dia 9 de novembro, para celebrar o cinquentenário do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Instituição. Confira o evento na íntegra: Semana PESC 50 anos – dia 09/11

Na abertura, o coordenador do PESC, professor Guilherme Horta Travassos, fez uma breve apresentação do Programa criado em 1970, ressaltando que este se mantém como um dos melhores do país ao longo dos anos, com alto nível de excelência e protagonismo na área de computação. A história do Programa e sua evolução a cada década, Guilherme deixou totalmente a cargo de seus colegas docentes que participaram como palestrantes do evento. Assim como coube aos ex-alunos a missão de contar suas respectivas trajetórias propiciadas pela formação no PESC, que como diz Guilherme, são carreiras construídas e seguidas de forma brilhante. O coordenador do Programa aproveitou para agradecer a toda a equipe, de professores e funcionários técnicos administrativos, que ajudou na organização do evento realizado até o dia 13 de novembro.

Nelson Maculan, que foi o segundo a coordenar o PESC (1973 a 1977), contou durante sua palestra, intitulada Impressões de década de 70, que a ideia de se montar o Programa de Engenharia de Sistemas e Computação começou antes de 1969, quando o professor Coimbra decidiu trazer para a Coppe um computador IBM 1130, que representava a grande computação da época. Neste período foi realizada na Coppe uma palestra do engenheiro da IBM, Jean-Paul Jacob, que tinha doutorado pela Universidade da Califórnia. O tema foi Otimização e, após a palestra, o professor Clóvis Gonzaga, do Programa de Engenharia Elétrica da Coppe, conversou com o Jacob sobre a possibilidade de fundarem um programa de Engenharia de Sistemas. A partir daí, entraram em contato com o professor Coimbra, que ficou interessado pela criação deste programa, e para colaborar na concretização da ideia trouxeram à Coppe o professor Lotfi A. Zadeh, que chefiava o Departamento de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação da Universidade da Califórnia, Berkeley.

Juntos, os professores estruturam a proposta para implantar o novo Programa e, em 1970, o PESC iniciou suas atividades, com colaboração de outros professores da Engenharia Elétrica que para lá migraram, por já atuarem com linhas de pesquisas afins, como Computação Analógica. A ideia dos fundadores foi iniciar um programa já voltado para o doutorado, o que deu certo. Em 1973 já era defendida a primeira tese no PESC. A primeira dissertação foi logo um ano após a fundação, em 1971. De forma rápida, o Programa foi crescendo, com linhas de pesquisas se consolidando, e a ligeira expansão permitiu que, ao mesmo tempo em que o PESC evoluía, alguns de seus integrantes fossem para o Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) da UFRJ que iniciava, de fato, suas atividades no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza (CCMN) da universidade.

A data de fundação do NCE é considerada a mesma de seu embrião, o Departamento de Cálculo Científico (DCC) da Coppe que foi criado, em 1967, para abrigar exatamente o computador IBM 1130, que acabava de chegar à instituição. Para operar a máquina e coordenar o DCC, o professor Coimbra trouxe para a Coppe, um ano antes, o brigadeiro e professor do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), Tércio Pacitti. Mas para atender às necessidades específicas da UFRJ e após articular com Coimbra, Pacitti liderou a criação do NCE para onde levou toda a estrutura do DCC, incluindo o IBM 1130. O novo núcleo passou a funcionar no início da década de 1970 e, em 2011, seu nome foi expandido para Instituto Tércio Pacciti de Aplicações e Pesquisas Computacionais, mantendo a sigla NCE.

Mesmos separados fisicamente, o NCE e a Coppe continuaram mantendo forte integração, por meio do PESC, onde técnicos do NCE cursavam o mestrado em Engenharia de Sistemas e Computação, e com esta capacitação passavam a analistas. A parceria, que dura até hoje, envolve ainda professores em comum, realização de pesquisas, e formação de alunos de graduação da área da Ciência da Computação do Instituto de Matemática da UFRJ, ao qual a parte acadêmica do NCE está ligada “administrativamente”.

O crescimento do PESC já na primeira década

Maculan chegou na Coppe em 1966 para cursar o seu mestrado no Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais. Neste ano, houve pela primeira vez na UFRJ uma disciplina para todos os alunos de mestrado, a de Introdução a Computação, ministrada pelo professor Tércio Pacitti, que trouxe a linguagem computacional para a universidade. Mas em seguida, Maculan teve que ir para a França, onde fez o mestrado e um “tipo de doutorado” em Matemática e Estatística. Retornando para a Coppe em 1971, foi procurar pelo professor Coimbra que o aconselhou a conversar com o professor Celso Renna e Souza, coordenador do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação. Maculan lembra que Celso o recebeu de costa e disse que não gostava de ninguém com formação na França. Com isso, foi lecionar no Programa de Engenharia de Produção, onde conheceu o Miguel Aranha com quem começou a trabalhar em computação. Em 1973, a partir do coleguismo que tinha com os professores Rangel e Demétrio Alonso Ribeiro, foi levado para o PESC, onde assumiu a coordenação e permaneceu como docente até o momento.

No decorrer da década de 1970, O PESC começou a receber alunos que trabalhavam em muitas empresas. De acordo com Maculan, isso só foi possível porque o Programa oferecia curso também em tempo parcial, o que propiciou a vinda destes estudantes e novas linhas de pesquisas. Mas os professores mantinham o regime implantado em toda a Coppe, de dedicação exclusiva em tempo integral, o que considera muito importante. Maculan lembra que os recursos para manter tal dedicação vinham do BNDEs. Entre as linhas implantadas no Programa, destacou a de Informática e Sociedade, que há em poucos lugares, o que considera importante por fazer uma ligação entre a ciência “dura” e as ciências mais sociais e humanas. Já entre os laboratórios, mencionou o de Computação Gráfica, contando um pouco de sua origem, por meio de um trabalho pioneiro de mapa geológico para a Petrobras. O professor também destacou que no PESC, apesar das diferentes áreas de estudos, muitos dos estudantes são obrigados a olhar para outras linhas de pesquisas, não se retendo somente naquela em que participa.

No início do PESC, os contratos de parceria com as empresas eram mais com as estatais como Petrobras, Eletrobrás, e Vale do Rio Doce. Maculan conta que com o passar do tempo é que vieram as companhias privadas, a exemplo de PSR e da Engenho que, inclusive, forneceram bolsas de mestrado e doutorado para estudantes do PESC, que propiciou o a criação e funcionamento de laboratórios. Hoje, com o crescimento, é um dos programas da Coppe com mais defesas de mestrado e doutorado, por ano. Destacou também que muitos de seus docentes são pesquisadores 1A do CNPq, quatro são membros da Academia Brasileira de Ciência (ABC), o que considera um diferencial do PESC, assim como o fato de até hoje manter a avalição do Programa pela Capes com nota 7, a mais alta. Maculan ressaltou ainda a dedicação dos funcionários que sempre estão presentes, “vestem a camisa”, e sabem da dificuldade de se trabalhar neste tipo de ambiente, que é o universitário.

Antes de Maculan iniciar sua fala, a professora Marcia Fampa, moderadora da palestra, destacou que o conheceu quando iniciou o mestrado sob sua orientação, em 1989, um ano antes de o professor assumir como reitor da UFRJ. Marcia contou que, mesmo assim, ocupando o cargo máximo da universidade, Maculan a recebia em sua residência para tirar dúvidas e que jamais ele se negava a ajudar seus alunos e colegas, uma grande característica do professor. “Logo me encantei com as aulas de Otimização Combinatória do Maculan e tive o privilégio de ter sido sua orientada. Um ano depois que iniciei o mestrado, Maculan se tornou o reitor da UFRJ, mas nem por isso deixou de encontrar tempo, nos finais de semana, para me receber em seu apartamento e continuar com a orientação da minha dissertação até o dia da defesa”, revelou a professora Márcia, acrescentado que Maculan teve grande participação, não apenas na consolidação na área de Otimização no Brasil, mas na carreira individual de inúmeros professores que fazem parte desta área.

Da formação no PESC à direção de multinacional

O primeiro dia do evento contou também com a palestra do diretor Senior da Siemens PLM Software, Marlon Righi Vieira, que representou os ex-alunos do PESC que foram trabalhar em uma grande multinacional. A apresentação intitulada Lições aprendidas em desenvolvendo “Large Industrial Software” – reflexões depois de 20 anos no PESC foi moderada pelo professor Guilherme Travassos que falou um pouco da trajetória de Marlon que, por coincidência, foi o seu primeiro orientando de mestrado. Guilherme destacou que o ex-aluno cursou o doutorado em Engenharia de Software na Universidade da California – Irvine, e seguiu uma carreira brilhante, tendo trabalhando constantemente em comitês internacionais de padronização, publicado artigos técnicos em conceituados periódicos, além de ser autor de cinco patentes registradas na área de Computação, e hoje liderar uma equipe com mais de 1 mil pessoas na Siemens.

Marlon, que acumulou mais de 15 anos de experiência, criando e desenvolvendo soluções, produtos e serviços, desde suas concepções até a implementação no mercado, disse no início que o aprendizado que teve na Coppe, com professores como Guilhrme, Cláudia Werner e Ana Regina, “marcou a sua cabeça” para, após o doutorado, continuar a atuar na indústria com o que aprendeu na PESC. O ex-aluno falou sobre a sua visão e trajetória na indústria, com mais ênfase na Siemens, onde está há 17 anos e começou trabalhando com Engenharia de Softwares no laboratório de pesquisa. De acordo com Marlon é um grande espaço que lembra a academia, pois na época em que lá atuava havia alunos de mestrado e doutorado fazendo seu “sanduíche”, incluindo da Coppe, dos quais muitos foram levados por ele. “Chegou uma época que eu liderava 30 doutores fazendo pesquisas, e os professores adoravam ter alunos brasileiros, ter alunos da Coppe, por serem bem competentes. Entediam bem dos fundamentos de Computer Science, e em pouco tempo conseguiam andar para frente sem muita supervisão, sem precisar ensinar o básico”, relatou o ex-aluno do PESC.

Depois de atuar por sete anos neste laboratório de pesquisa, Marlon foi, em 2009, para a Siemens Building Technologies, onde atuou como diretor de Engenharia de Produto. A unidade era responsável pelas Américas e lá Marlon liderou um time que criou 1 mil produtos que hoje são usados no Brasil em todos os países da região como EUA e Canadá. Após cinco anos, foi para a sede internacional da Building Technologies da Siemens, na Suíça, onde assumiu a direção global de P&D e ficou responsável pelas ações mundiais desta unidade, atendendo a diversos países. No passado retornou aos EUA, como diretor sênior da Siemens PLM Software. Marlon destacou que é responsável por uma ferramenta enorme que é utilizada por toda a indústria automobilística, incluindo as que possuem veículos competindo na Fórmula 1, sendo um diferencial para ó título conquistado pela equipe da Red Bull há seis anos.

Confira a cobertura dos outros quatro dias da Semana PESC 50 anos:

2º dia – PESC nos anos 1980: primeiro supercomputador brasileiro e início da parceria com o Cern

3º dia – Década de 1990 foi marcada pela solidificação da abrangência do PESC em todas as áreas da Ciência da Computação

4º dia – PESC nos 2000: “sulear” o olhar da pós-graduação

5º dia – Semana PESC: encerramento é marcado por destaques da última década e retrospectiva