Pesquisadores da Coppe estimam que 10 milhões de trabalhadores no país serão afetados em função da Covid-19
Planeta COPPE / Engenharia de Sistemas e Computação / Notícias
Data: 19/04/2020
Pesquisadores da Coppe/UFRJ estimam que cerca de 10 milhões de trabalhadores que atuam no setor de serviços no Brasil poderão ser afetados em função das medidas necessárias para conter a propagação do Coronavírus. Esses trabalhadores representam 21% do mercado formal de trabalho no país. As empresas dos setores analisadas são micro (94,7%) e pequenas empresas (4,8%). Esses dados fazem parte de um estudo que avaliou o impacto no emprego em seis grandes grupos de atividades econômicas de setores de prestação de serviços, sendo que em quatro deles a média salarial dos trabalhadores é abaixo ou próxima a R$ 1,5mil.
O estudo intitulado “Covid-19 e o emprego: estimativas iniciais de impacto no setor de serviços” foi liderado pelo pesquisador Yuri Lima, do Laboratório do Futuro (LabFuturo) da Coppe, que é coordenado pelo professor Jano Moreira de Souza.
Quais setores e ocupações tendem a ser mais afetados? Quais ocupações têm mais chance de serem impactadas com essa crise? Essas são algumas das perguntas respondidas nessa pesquisa, cujo objetivo foi avaliar os impactos do Covid-19 no mercado de trabalho.
Variação do PIB brasileiro em 2020: cenários
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que cerca de 25 milhões de pessoas possam perder seus empregos em decorrência da crise causada pelo coronavírus. Com relação ao Brasil, ainda não há estimativas oficiais para o aumento do desemprego, somente prognósticos da redução do PIB. Os pesquisadores do LabFuturo, tendo como base o estudo da OIT para calcular o impacto do vírus sobre o emprego mundial, trabalharam com sete cenários para a variação do PIB brasileiro em 2020, todos com retração entre -0,3% e -8%.
Considerando um cenário onde 10% dos trabalhadores dos setores analisados sejam demitidos, haveria 990 mil trabalhadores a mais sem emprego. A taxa de desemprego no país passaria de 11,2% para 12%. Caso o número de trabalhadores desempregados nos grandes grupos analisados chegasse a 30% ou 2,97 milhões de pessoas, a taxa de desemprego atingiria 14%; no caso de 50%, resultaria em 4,95 milhões de trabalhadores desempregados e a taxa de desemprego passaria de
11,2% para 15,9%, uma variação de 4,7%.
Segundo o relatório, diversas soluções foram propostas para o desemprego causado pela crise com o Covid-19, desde a renda mínima universal até incentivos fiscais para as empresas, passando pelo abono de aluguéis e hipotecas e pelo pagamento total ou parcial do salário dos trabalhadores mantidos na folha salarial pelas empresas.
De acordo com Yuri Lima, o relatório não incluiu, em um primeiro momento, uma avaliação do impacto da Renda Básica Emergencial, devido às “idas e vindas” do governo federal para a implementação de uma política de amparo social aos afetados pelas consequências econômicas da pandemia e da quarentena. Por essa razão, os pesquisadores optaram por avaliar duas propostas: o projeto de lei 662/2020, de autoria do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), e a outra chamada de “solução dinamarquesa”, avaliando as medidas adotadas pelo país escandinavo, que agiu com rapidez e serviu de referência para outros países europeus.
“Escolhemos a Dinamarca por ser um país com tradição nessa política de bem-estar social, e que teve uma proposta mais favorável aos trabalhadores. Sabendo que muitos não poderão trabalhar home office e dependerão do auxílio do governo”, explica o pesquisador da Coppe.
Solução dinamarquesa adaptada à realidade brasileira
A proposta feita pelo governo dinamarquês envolve o pagamento de até 75% do salário dos trabalhadores de empresas que precisariam demitir mais de 30% dos seus trabalhadores ou mais de 50 trabalhadores. Na proposta dinamarquesa, os trabalhadores que tem seus salários parcialmente pagos pelo governo não podem trabalhar, devem ficar em casa. O pagamento é limitado a 23 mil coroas dinamarquesas, por trabalhador, em período de até 3 meses, o que equivale à 1,43 vezes o salário mínimo.
Trazendo este modelo para a realidade brasileira, o governo pagaria até R$ 1,5 mil para arcar com 75% do salário dos trabalhadores que seriam demitidos, ou seja, trabalhadores que recebem até R$ 2 mil teriam seu salário mantido na parceria entre governo e empresas. Dos seis grandes setores de prestação de serviços avaliados pelos pesquisadores da Coppe, quatro deles têm média salarial abaixo ou próxima a R$ 1,5 mil.
Considerando os três cenários propostos, os gastos do governo em três meses caso adotasse solução similar à dinamarquesa seria de R$4,45 bilhões no primeiro cenário, R$13,36 bilhões no segundo cenário e R$22,27 bilhões no terceiro.
Projeto de Lei 662/20 – Salário mínimo para desempregados
O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ) propôs um projeto de lei que prevê um conjunto de iniciativas para conter o impacto da crise, dentre elas está o pagamento de um salário mínimo (R$1.045) para os trabalhadores que ficarem desempregados e não tiverem outra fonte de renda.
Levando em consideração os grupos de atividades analisados no relatório, isto representa uma perda de pelo menos 32% da renda do setor com o menor salário médio que é o de Alimentação (R$ 1.545). Com relação aos custos para o Estado, a adoção do projeto custaria, por três meses, R$ 3,1 bilhões no primeiro cenário, R$ 9,3 bilhões no segundo cenário e R$ 15,5 bilhões no terceiro.
O Projeto de Lei 662/20 ainda prevê outras medidas, como a concessão de seguro-desemprego a microempreendedores individuais (MEI) e a proibição do corte do fornecimento de água, luz e gás dos inadimplentes.
Dentre os grandes grupos de prestação de serviços analisados no relatório, estão o Comércio Varejista com mais de 6,5 milhões de trabalhadores, o setor de Alimentação com mais de 1,5 milhões de trabalhadores e o setor de Transporte de Passageiros (Terrestre e Aéreo) com quase 1 milhão de trabalhadores. Além destes, foram analisados os setores do Turismo & Hotelaria e de Recreação; Atividades Esportivas e de Recreação; e da Cultura.
“Todas as propostas preveem algum grau de redução na renda, algo esperado devido à contração da atividade econômica”, complementa Yuri Lima, pesquisador do LabFuturo, do Programa de Engenharia de Sistema e Computação da Coppe. O estudo está disponível na página do laboratório: http://labfuturo.cos.ufrj.br/covid-19.
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