Relatório do IPCC revela riscos das mudanças climáticas para a segurança alimentar
Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 08/08/2019
Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU divulgado nesta quarta-feira, dia 8 de agosto, em Genebra (Suíça), revela que atividades ligadas a Agricultura, Florestas e Uso do Solo responderam por 23% do total de emissões globais de gases do efeito estufa gerados pela atividade humana, entre 2007 e 2016. De acordo com o Relatório, a América do Sul deverá ser crescentemente afetada por incêndios florestais, os contingentes populacionais da Ásia e da África serão os mais afetados pela desertificação, e as áreas tropicais e subtropicais serão as mais vulneráveis ao declínio na produção agrícola.
Uma das coordenadoras do Relatório do IPCC é a professora da Coppe/UFRJ, Joana Portugal Pereira, que também é uma das autoras do capítulo 5, no qual são abordados estudos sobre bioenergia, impacto da produção de alimentos nas mudanças climáticas e benefícios de alterações de dietas alimentares. Professora do Programa de Planejamento Energético da Coppe, Joana faz parte ainda da unidade técnica do grupo de trabalho III (sobre desertificação), e é coautora do Sumário para Formuladores de Políticas e do Sumário Executivo.
Segundo a professora da Coppe, o sistema integrado de produção e consumo de alimentos – que incluiu não só a fase de produção agrícola, mas também os impactos ao longo da cadeia de processamento e distribuição de alimentos-, representa aproximadamente um terço das emissões totais de Gases de efeito estufa e 70% do uso de água potável no mundo. De acordo com o Relatório, a população mundial já utiliza entre ¼ e 1/3 do potencial de produção primária de alimentos, têxteis, madeira e energia. Cerca de ¼ da superfície terrestre (que não esteja coberta por gelo) está sujeita à degradação ambiental antropogênica (induzida pela ação humana). A erosão do solo, nos campos agrícolas, pode ser estimada entre 10 a 100 vezes acima da taxa de formação do solo. E as mudanças climáticas exacerbam a degradação, sobretudo em áreas costeiras, de baixas altitudes, deltas fluviais, terras áridas e permafrost (onde há gelo permanente no subsolo).
Na avaliação de Joana, a ação humana tem colocado maior pressão sobre o uso do solo, porém, o seu uso sustentável, com práticas produtivas sustentáveis, é uma solução inquestionável para controlar as alterações climáticas. “Temos uma mensagem de esperança, com soluções muito positivas que podem ser implementadas hoje na área da produção agrícola como na vertente do consumidor”, afirma a professora, que integrou a coordenação científica do Relatório.
“A adoção de práticas de manejo sustentáveis é uma solução essencial para proteção de ecossistemas e redução de emissões de GEE. Além disso, a diversificação de dietas alimentares, com base em maior consumo de vegetais, leguminosas e frutos, e redução de produtos processados e consumo moderado de carne tem um elevado potencial para reduzir nossos impactos nos ecossistemas”, recomenda Joana.
Os especialistas expressam no relatório que uma melhor gestão do solo pode contribuir para combater as alterações climáticas, embora não seja a única solução. “Reduzir as emissões de gases de efeito estufa de todos os sectores é essencial, caso se pretenda que o aquecimento global seja mantido a menos de dois graus Celsius, se não mesmo 1,5 graus”, relatam os painelistas em comunicado de imprensa que recorda a meta definida em 2015 no Acordo de Paris.
Segundo a vice-diretora da Coppe e ex-vice-presidente do IPCC (2008-2015), professora Suzana Kahn Ribeiro; o relatório é muito importante para países em desenvolvimento, que têm suas economias baseadas no uso da terra e são mais vulneráveis às mudanças climáticas.
“É o caso do Brasil. Somos o país mais biodiverso do mundo, 20% da água superficial do planeta está no nosso território. Isso tudo pode nos levar a um patamar de potência, mas precisamos ter uma visão mais moderna da bioeconomia. Mas o atual governo desconhece por completo os benefícios competitivos que o País teria se migrasse para uma agricultura de baixo carbono”, avalia a professora da Coppe, que também preside o Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC).
O documento envolveu a contribuição científica de 107 pesquisadores de 52 países. Dedicado ao clima e uso do solo, abrangendo mudança climática, desertificação, degradação dos solos, gestão sustentável das terras, segurança alimentar e os fluxos de gases que provocam o efeito estufa nos ecossistemas terrestres, este é o primeiro relatório do IPCC a reunir mais autores de países em desenvolvimento (53% do total) do que de países desenvolvidos.