Candidatos a Reitor apresentam suas propostas na Coppe

Planeta COPPE / Notícias

Data: 29/03/2019

Os candidatos a Reitor Denise Pires de Carvalho, Roberto Bartholo e Oscar Rosa Mattos participaram esta semana dos “Encontros Coppe com candidatos a Reitor da UFRJ”, nos quais tiveram a oportunidade de apresentar suas propostas e debatê-las com a plateia. Os Encontros, realizados dias 25, 26 e 28 de março, no auditório da Coppe, no CT2, foram registrados em vídeos, que estarão disponíveis no site da Coppe, na segunda-feira, 1º de abril. Confira a cobertura dos Encontros.

O primeiro encontro, dia 25/3, foi com os candidatos a Reitor e vice da Chapa 10, Denise Pires de Carvalho, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, e Carlos Frederico Leão Rocha, do Instituto de Economia.

Segundo a professora Denise Pires de Carvalho, a Coppe é o exemplo de universidade almejada pela Chapa 10, com ensino, pesquisa e extensão de muita qualidade. “Fui diretora do Instituto de Biofísica e sei que não é fácil manter o patamar de excelência em um contexto de falta de recursos, de criminalização de gestor público. Temos como meta uma universidade que olhe para o futuro, mas para isso ela tem que entrar no século XXI. Em algumas áreas, ela já adentrou, em outras permanece na primeira metade do século XX”, afirmou a candidata.

Denise antecipou que pretende fortalecer os conselhos superiores para que a UFRJ volte a discutir questões importantes, como o Marco Legal da Ciência e Tecnologia. “Não é possível que a UFRJ não seja mais protagonista dessas discussões. A UFRJ vem se apequenando, não lidera mais o movimento das federais. Precisa voltar a pautar as agendas”, criticou.

Na avaliação de Denise, a questão da formação acadêmica é fundamental. “A graduação tem sido esquecida, não há política adequada e moderna, quais os cursos do futuro, como devemos caminhar no uso das plataformas digitais. Isso levará também a um desinteresse na pós-graduação. A UFRJ já não é mais a primeira escolha em várias carreiras. Temos um corpo docente e técnico-administrativo de excelência, se não somos primeira opção é porque a gestão está atrapalhando e deve ser mudada. Além disso, temos altíssimos índices de evasão. Mas essa questão não é discutida, não sabemos como isso é enfrentado em cada curso”.

Cortes profundos no orçamento

O candidato a vice da Chapa 10, professor Carlos Frederico Leão Rocha, ponderou que embora haja questões externas à universidade que são muito importantes, há problemas internos de gestão que devem ser resolvidos. “Houve cortes no orçamento e foram profundos. Somos cientes. No entanto, existe um problema de gestão com o qual temos de lidar. Fomos líderes nas tecnologias de informação e comunicação (TIC) e hoje enfrentamos problemas devido à infraestrutura de TIC da universidade. A Escola de Educação Física tem a melhor piscina do Brasil, inutilizada, porque não treinaram funcionário para operar um equipamento dessa complexidade”, exemplificou.

Carlos Frederico destacou ainda a necessidade de reduzir os entraves burocráticos, tanto internos quanto externos. “Precisamos aumentar a segurança jurídica das fundações investindo em normatizando, dialogando com o TCU. É fundamental termos operações seguras. Também precisamos reduzir a burocracia dos projetos de pesquisa apresentados pela universidade. Essa universidade vive problemas que não são só de investimentos. Precisamos fazer autocrítica. Por isso somos oposição”, criticou o professor do Instituto de Economia.

Opinião Pública e apoio a jovens docentes

Questionada quanto à política de comunicação institucional, Denise mostrou preocupação com a falta de visibilidade positiva da universidade na mídia, e a repercussão que isso traz junto à opinião pública. A gente precisa fortalecer a área de comunicação. A sociedade não sabe o que a gente faz de bom. Mas sabe que a gente fechou o Canecão. É muito triste que a universidade tenha chegado a esse ponto. É um cartão postal da ineficiência administrativa da nossa casa. ‘O Canecão é nosso’. Mas para fazer o quê? Frase de efeito é muito boa no começo, depois afasta as pessoas”, lamentou a candidata.

Em relação aos jovens docentes, Denise Pires de Carvalho defendeu uma mudança no organograma da Pró-Reitoria de Planejamento (PR-3). “Pensamos na criação de um escritório junto a PR-3, para auxiliar jovens docentes a gerenciar projetos, talvez até o nível da prestação de contas. É uma mudança de paradigma”.

Também demonstrou preocupação em relação aos jovens docentes que não encontram espaço em programas de pós-graduação mais estabelecidos e isso tenha levado a uma elevação considerável na oferta de cursos de Mestrado profissional. “Em algumas áreas é muito bom (o mestrado profissional), mas a oferta (desses cursos) cresceu demais. Muitos cursos recentes estão com grau 3, de acordo com a avaliação da Capes. Isso é preocupante”, avaliou.

Como alternativa, a Chapa propôs o que Denise chamou de “casadinho interno”: uma ajuda de programas acadêmicos com grau de excelência (6 e 7) a cursos avaliados com graus 4 e 5. “De modo que os professores destes programas atuem também no nível 5, consolidando este programa e permitindo a entrada de docentes jovens para estes programas, para alavancar estes programas”, explicou.

Roberto Bartholo e João Felippe Cury – “Minerva 2.0”

No dia 26/03, o Encontro Coppe foi com os candidatos a Reitor e vice da Chapa 20, professores Roberto Bartholo, da Coppe, e João Felippe Cury, do Instituto de Economia.

Segundo o professor Roberto Bartholo, a proposta de trabalho da Chapa 20 parte de um diagnóstico, “no qual identificamos aquilo que chamamos de nó, que emaranhou dois fios e esse emaranhado resulta nos problemas com os quais nos confrontamos”. O primeiro nó é o estrangulamento orçamentário.

“O Orçamento é insuficiente, não apenas para atender aos nossos desejos, porque isso é o que é normal, pois os desejos são infinitos. Mas trata-se de um orçamento inviável para que nossas necessidades caibam nele. Além disso, vem engessado, a parcela livre é diminuta. Não se tem perspectiva de melhora no horizonte de curto-médio prazo, e que se torna ainda mais grave pelo quadro posto pela PEC do Teto de Gastos”, avaliou.

A ineficiência na gestão, segundo Bartholo, representa o segundo fio que emaranhou o “nó”. “A gente identifica a faceta dos anacronismos. O rosário de numerosas instâncias decisórias em processos de papel. Não é razoável que a emissão de diploma possa levar o tempo de uma gestação. Outra faceta é a das desfuncionalidades. Quando interesses de outra ordem (não importa qual: pessoal, corporativo, político, econômico) se misturam aos procedimentos acadêmicos. Este entrelaçamento é indesejável” afirmou.

De acordo com Bartholo, o corolário deste diagnóstico é a sequência de tragédias recentes: os incêndios na capela, no prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (onde também funcionam a Reitoria e a Escola de Belas Artes), no Museu Nacional. “Tudo isso nos remete de alguma forma a este nó não desatado que compromete as nossas possibilidades de uma gestão eficiente. Isso não é renunciar ao embate por mais recursos, mas precisamos estabelecer prioridades de gestão. A prioridade número 1 será o gerenciamento de riscos. Nós não conseguimos dar conta de problemas associados ao gerenciamento de riscos e precisamos dar conta, se quisermos aprender com as tragédias de nosso passado recente”, enfatizou o candidato.

Universidade pública, gratuita, de qualidade e eficiente

O professor João Felippe Cury reconheceu que a universidade não vive um bom momento e, do ponto de vista da imagem externa, isto se tornou óbvio, sobretudo após a sequência de incêndios em suas instalações. “O Canecão é o maior antimarketing que a universidade poderia fazer consigo mesma. Esse passivo incide contra a nossa autoestima. Mas, a gente não pode ficar contra a imprensa e sim sinalizar uma agenda positiva. Quais respostas podemos dar para sinalizar isso? “, ponderou o professor do Instituto de Economia.

Cury destacou que a Chapa defende que a universidade além de pública, gratuita e de qualidade, seja também eficiente, transparente e ética. Neste sentido, fez uma crítica ao processo eleitoral em curso. “Cobra-se muita democracia, mas as práticas são pouco democráticas. As regras do jogo foram estabelecidas três dias antes das aulas começarem. Para que serve isso? Para manter as estruturas de poder existentes. O processo está abaixo do morno, pouco engajamento, em um momento que é crítico para a universidade. Nossa chapa é diferente das construções históricas, não representamos grupos de poder estabelecidos, representamos a maioria silenciosa da universidade, é com ela que dialogamos”, criticou.

Inovações Institucionais

A segunda prioridade da Chapa 20 seria o fomento a inovações institucionais. Como exemplo de tais inovações, Roberto Bartholo e João Felippe Cury pretendem se inspirar no Parque Tecnológico para a criação de um Parque Artístico, um Parque Esportivo e um Parque Patrimonial e Cultural. “A Reitoria apoiaria como instância conectora e não prescritora iniciativas deste tipo. Essas iniciativas podem abrir um leque de possibilidades. Inclusive de interações com a sociedade. Eu acho que conseguir emenda parlamentar é bacana, mas é muito diferente construir um Parque Artístico para UFRJ. Conseguir emenda não é inovação institucional”, afirmou Bartholo.

Em relação à formação acadêmica, Bartholo pretende priorizar a graduação e buscar formas de estreitar o vínculo entre a UFRJ e seus ex-alunos. “Qual a maior contribuição que a universidade dá a sociedade? É a formação de pessoas. E seria importante se pudermos manter esse rede de egressos vinculada à universidade, para contribuições variadas. Há exemplos diversos disso, mundo afora. Sei que é outra cultura, outra economia, outro contexto, mas as universidades americanas são exemplares neste sentido. Além disso, é necessário aperfeiçoar a nossa oferta de percursos formativos em nível de graduação, que a pós atue de modo integrado, colaborativo, parceiro com a graduação, e que os recursos possam ser priorizados aos percursos formativos de graduação”, esclareceu o candidato.

Oscar Rosa Mattos e Maria Fernanda Quintela – “Unidade e diversidade pela universidade pública e gratuita”

O último Encontro Coppe, dia 28/03, foi com os candidatos a Reitor e vice, da Chapa 40, Oscar Rosa Mattos, da Coppe e da Escola Politécnica, e Maria Fernanda Quintela, do Instituto de Biologia.

Segundo o professor Oscar Rosa Mattos, a sua candidatura deriva de uma Frente ampla que se formou na universidade, a qual formalizou um documento de 20 pontos, do qual ele e a professor Maria Fernanda Quintela foram signatários. Para o professor, é importante estabelecer um projeto fraterno, humano, de universidade para não deixar que o ódio e o rancor disseminados em um contexto social mais amplo cheguem à UFRJ.

Rosa Mattos acredita que a comunidade acadêmica precisa esquecer o “Eu” em prol do “Nós” se quiser sobreviver a uma conjuntura externa muito desfavorável, com Emenda Constitucional 95 e o Teto de Gastos, Reforma da Previdência, Lava Jato da Educação. “Diminuir burocracia e otimizar gestão são pontos importantes, mas que não seguram os problemas. E vem um tsunami. E não há projeto de gestão que segure 3 mil aposentadorias sem reposição. Ou essa universidade se salva junto com o sistema federal de ensino ou não há futuro”, enfatizou.

O candidato destacou que a Assistência Estudantil será priorizada. “O perfil dos estudantes mudou e a assistência estudantil precisa ser ampliada. Tem que ser uma das prioridades, pois há situações reais em que sem a assistência, as pessoas não têm como permanecer. Não têm os recursos necessários para ir e vir”.

UFRJ e a Opinião Pública

A professora Maria Fernanda pontuou que a política de comunicação da universidade precisa ser aperfeiçoada, tanto para o público interno quanto para o externo. “Precisamos nos conhecer melhor. Há colegas que não conhecem o trabalho da Coppe. Há colegas que no Instituto de Biologia não sabem que há o Polo de Macaé. Eu penso ‘onde nós falhamos? ’ É um ponto crucial. O fato de não termos essa questão da comunicação bem resolvida, faz com que a mídia envolva a sociedade de forma contrária à universidade”, afirmou a ex-decana do Centro de Ciências da Saúde (CCS).

Professor Rosa Mattos fez coro à colega de chapa. “Levar a universidade para fora e trazer a sociedade para dentro são aspectos fundamentais. Existe desconhecimento e existe má intenção. Acho que na imprensa há uma filosofia externa que é passada intencionalmente para destruir o que é público e no caso da universidade, o que é público, gratuito e de qualidade”, criticou.

Autonomia na gestão dos recursos próprios

Questionado em relação à burocracia, o candidato afirmou que a Reitoria brigaria para mudar as normas que são editadas por outras instâncias, mas que é fundamental acabar com muitas normas internas que seriam desnecessárias. “Tem muita norma interna que eu pergunto e ninguém sabe porque é necessária. O medo do TCU e demais órgãos foi criando mais normas internas desnecessárias. São um tiro no pé. Vamos acabar com elas o mais rápido possível”, prometeu Rosa Mattos.

O professor enfatizou que vai lutar para manter a autonomia universitária sobre recursos próprios que vêm sendo contingenciados. “Ano passado, a UFRJ gerou 30 milhões de recursos próprios e ficou com apenas cinco milhões, o resto foi contingenciado. Temos que ter um debate forte para que os recursos fiquem aqui e sejam geridos à luz da autonomia universitária”.

Rosa Mattos também prometeu empenho na captação desde que eles não venham “carimbados”. “Dinheiro que exija flexibilização de princípios, eu não quero. Flexibilizar gratuidade de ensino, eu não quero. Nesse tipo de abordagem, o mocinho morre no fim com um tiro nas costas. É conversa mole”.

Os candidatos enfatizaram que não tomarão decisões importantes sem consultar a base. “Não vamos tomar nenhuma decisão de cima para baixo. É a partir do diálogo e da participação coletiva, que vamos tomar decisões difíceis. É um compromisso de chapa”, afirmou Rosa Mattos. “Ouvir o que vocês têm a dizer, para que possamos caminhar e defender a universidade pública, gratuita e de excelência, uma questão da qual nós não vamos abrir mão”, garantiu Maria Fernanda.