Biomateriais e biomassa são destaques no Simpósio Mundial de Bioenergia promovido pela Coppe e Universidade de Tsinghua

Planeta COPPE / Notícias

Data: 03/07/2018

O papel da biomassa no combate às mudanças climáticas e a expertise da Coppe/UFRJ no desenvolvimento de biomateriais foram temas de destaque no 11º Simpósio Mundial de Bioenergia (WBS, na sigla em inglês), um dos principais eventos técnico-científicos internacionais sobre bioenergia e biocombustíveis. Promovido pela Coppe e Universidade de Tsinghua (China), de 17 a 22 de junho, no Rio de Janeiro, o WBS reuniu cerca de setenta pesquisadores, brasileiros e chineses, para debater os avanços tecnológicos no uso da biomassa e de biomateriais em alguns setores. O evento foi copresidido pelo vice-diretor da Coppe, professor Romildo Toledo, e pelo professor Dehua Liu, da Universidade de Tsinghua.

Segundo o professor Toledo, os biomateriais podem dar uma importante contribuição na luta contra o aquecimento global. Em sua palestra, o vice-diretor da Coppe falou sobre o potencial de uso de fibras vegetais, bioconcreto e bambu na construção civil. De acordo com Toledo, há uma mudança de paradigma em curso no mundo: de economia linear para uma economia circular, onde os resíduos são insumos para a produção de novos produtos.

A primeira palestra do evento foi proferida pelo professor, Luiz Pinguelli Rosa, diretor de Relações Internacionais da Coppe, que apresentou o panorama do setor energético brasileiro, cujo conhecimento é o ponto de partida para o debate acerca dos rumos que o país pode seguir para promover desenvolvimento econômico e inclusão social, sem descuidar da responsabilidade ambiental e dos compromissos internacionalmente assumidos.

Esta edição do WBS contou com o apoio do Centro China Brasil de Mudanças Climáticas e Tecnologias Inovadoras para Energia, o China-Latin America Joint Laboratory for Clean Energy and Climate Change, e a Universidade Federal do Ceará.

Biomateriais: potenciais e desafios

O professor Romildo Toledo falou em sua apresentação sobre as pesquisas com biomateriais em andamento no Núcleo de Materiais e Tecnologias Sustentáveis (Numats) da Coppe, sob sua coordenação.

“As emissões de gases causadores de efeito estufa (GEE) por m³ ou tonelada são muito maiores nos materiais tradicionais do que nos biomateriais. Então é preciso repensar completamente essa cadeia de negócios. Podemos usar plantas, em telhados verdes ou fachadas, fibras vegetais podem ser usadas para reforço (juta, sisal). Cinzas ricas em sílica de bagaço de cana podem ser empregadas como substituto de cimento. Podemos usar resíduos da indústria, de laminados de bambu, por exemplo, como agregados em concreto, reduzindo emissões, controlando umidade e beneficiando a saúde”, explicou o professor Romildo Toledo, que falou sobre os desafios.

“Embora a indústria de biomateriais seja promissora, ainda há questões de engenharia a resolver. As fibras vegetais têm boas propriedades? São duradouras? Como evitar e resistir ao ataque biológico? São materiais que a natureza criou para determinadas condições. Como reagem fora dessas condições, em meio alcalino, como o cimento, rico em hidróxido de cálcio? Também é preciso investigar as interfaces com outros materiais cimentícios e poliméricos”, ponderou o professor da Coppe.

Nos testes realizados até o momento no laboratório da Coppe – quanto à condutividade e resistência térmica, força, elasticidade, envelhecimento acelerado, dentre outros aspectos-, as fibras vegetais demonstraram enorme potencial para a sua aplicação na construção civil.

“Os biomateriais têm alto potencial, não apenas para mitigação como para adaptação às mudanças climáticas, devido a sua performance térmica, que resulta em maior conforto térmico. Têm capacidades mecânicas tão boas quanto principais fibras sintéticas, como fibra de vidro. São materiais leves, com baixa densidade: 700 ou 400 kg por metro cúbico, com baixa condutividade de calor e frio, o que pode aprimorar a eficiência térmica das construções. Essa é uma indústria que o Brasil ainda não tem, então há muito espaço para usar esses materiais”, afirmou o vice-diretor da Coppe.

Desenvolvimento com responsabilidade ambiental e inclusão social

O diretor de Relações Institucionais da Coppe, professor Luiz Pinguelli Rosa, apresentou o panorama do setor energético brasileiro, segundo ele um ponto de partida para o debate acerca dos rumos que o país pode seguir para promover desenvolvimento econômico e inclusão social, sem descuidar da responsabilidade ambiental e dos compromissos internacionalmente assumidos.

Segundo o professor, em 2014 a oferta doméstica de energia do Brasil chegou a 624.6 TW, sendo 74,5 % dessa oferta gerada a partir de fontes renováveis. A previsão é que o país se aproxime dos mil terawatts em 2023 (933,8 TW), com 86% dessa oferta sendo produzida por fontes renováveis.

No entanto, adverte que os derivados do petróleo ainda respondem por 36,5% do consumo de energia do país (dados de 2016) em uma década na qual os preços da commodity variaram muito, de 70 dólares o barril, em 2006, para 140 dólares em 2008, e de volta para 70 dólares em 2018.

“A forte variação de preço do petróleo e o contraste entre a limitação das reservas já conhecidas e a descoberta, nos EUA, do shale oil (óleo de xisto betuminoso, obtido por fracionamento hidráulico) e, no Brasil, das reservas do pré-sal, compõem o cenário no qual deverão ser feitas escolhas tecnológicas para responder às mudanças climáticas: eficiência energética, combate à pobreza, uso de biocombustíveis, aumento do uso de energia solar e eólica, carros elétricos e smart grid”, ressaltou Pinguelli, que é professor de Planejamento Energético da Coppe.

Segundo o professor, a essas escolhas se somam as decisões de cunho político, representadas pelo movimento pendular, entre livre mercado e planejamento público, ocorrido no país entre nos anos 1990, marcados pelas privatizações, e nos anos 2000, onde o papel governamental assumiu, em variados níveis, maior centralidade.

Descarbonização da geração de energia

A professora Suzana Kahn Ribeiro destacou que entre os desafios do século XXI as mudanças climáticas estão entre os mais urgentes, devido ao progressivo aumento das emissões antropogênicas de gases causadores de efeito estufa. Como o desenvolvimento econômico e a mitigação da pobreza não são possíveis sem o aumento na oferta de energia, a solução, segundo Suzana, é promover sua descarbonização.

“O Painel Intergovernamental para as Mudanças Climáticas (IPCC), no seu último report, apontou que a estabilização das emissões em níveis pré-industriais implica na descarbonização da geração de energia. É muito mais eficiente que a descarbonização do uso final. Medidas de eficiência energética, mudança de padrão de consumo, são tudo bem-vindas, mas o foco deve ser o setor da geração de energia”, afirmou a professora da Coppe, explicando que tais medidas representam uma mudança de paradigma, com mais investimentos em energias renováveis e menos em combustíveis fósseis.

“A internalização dos custos ambientais contribuirá para isso, a precificação do carbono. Esta conscientização já começou e vai tornar as fontes renováveis muito mais competitivas. “Em Davos, o Fórum Econômico Mundial apontou a precificação do carbono como um fundamento lógico para qualquer política para energia limpa.“É algo que está para acontecer e devemos estar alertas e preparados para essa nova forma de fazer negócios”, alertou.

Segundo Suzana, o enfrentamento das mudanças climáticas requer um extenso portfólio tecnológico, políticas de mitigação e mudanças no padrão de consumo. “Há uma inércia das instituições que deveriam regular novas tecnologias. O Brasil tem as condições naturais e tecnológicas para impulsionar a bioenergia. Precisamos eleger um bom presidente, bons governadores e deputados, pois são eles que decidirão o cenário no qual os investimentos serão feitos. O governo tem um papel importante”, alertou a professora da Coppe.

  • Simpósio Mundial de Bioenergia