Terceira geração do Ônibus a Hidrogênio da Coppe aproxima veículo do mercado

Planeta COPPE / Engenharia Metalúrgica e de Materiais / Notícias

Data: 26/04/2017

A terceira geração do ônibus híbrido elétrico-hidrogênio da Coppe/UFRJ está mais eficiente, do ponto de vista energético, e mais adequado aos métodos industriais de fabricação, visando à produção em série. Com a atual configuração, o ônibus híbrido elétrico-hidrogênio da Coppe tem autonomia de 330 km e atende às exigências para veículos de uso urbano no Rio de Janeiro. Os resultados dos últimos testes realizados no veículo foram apresentados na primeira semana de abril, durante o evento “Energia do Hidrogênio e Mobilidade”, promovido pela Coppe e por Furnas.

As novas tecnologias foram desenvolvidas e testadas pela equipe do Laboratório de Hidrogênio (LabH2) da Coppe, em parceria com as empresas Tracel e Furnas, através de projeto Aneel. Segundo o professor Paulo Emílio de Miranda, coordenador do LabH2, o novo ônibus possui desempenho energético superior aos veículos congêneres e convencionais. “Isso foi conseguido com desenvolvimentos e arranjos inovadores de engenharia de hibridização da energia a bordo. Entre outras iniciativas, desenvolvemos um conversor de energia seguidor de eficiência com pilha a combustível para a geração de energia elétrica a bordo, o que diminuiu o peso, o custo e o consumo de combustível”, ressaltou.

Os equipamentos desenvolvidos especialmente para uso em tração elétrica tornaram-se mais compactos, mais leves, mais eficientes, e também ganharam novas funções. “Os equipamentos foram arranjados sob nova topologia. Os modos de comunicação, monitoração, aquisição de dados e controle foram modernizados, automatizados e ganharam redundâncias, garantindo a continuidade de operação”, explica o professor.

Furnas e Coppe lançarão em breve mais dois veículos

Os testes com passageiros foram intensificados em 2014 e realizados durante dois anos. Nesse período, enquanto as novas tecnologias eram implementadas e testadas em etapas, o ônibus circulou com frequência, na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão. Nessa fase, o veículo transportou mais de 30 mil passageiros entre funcionários, visitantes e principalmente alunos. Foram percorridos aproximadamente 8 mil km e o consumo de hidrogênio foi de 6,7 kg a cada 100 km, com o ar-condicionado ligado. Como parte dos testes, além de circular na Cidade Universitária, o ônibus também transportou atletas na Vila Olímpica, durante os Jogos Olímpicos 2016.

Nelson, de Furnas, faz sua apresentação acompanhado por Jacinto também da instituição

“O índice de consumo de hidrogênio por quilômetro foi o de melhor aproveitamento até o momento”, afirmou o engenheiro Jacinto Maia Pimentel, da Gerência de Serviços Tecnológicos de Furnas, durante apresentação no evento dos resultados dos testes. Segundo Jacinto, o projeto da Coppe com Furnas prevê o desenvolvimento de mais dois veículos: o ônibus híbrido elétrico-etanol, e o ônibus 100% elétrico, que já se encontra em fase final de testes e poderá ser usado tanto no transporte convencional como escolar. O total de investimento de Furnas no projeto foi de cerca de R$ 10 milhões, sendo R$ 5,5 milhões no desenvolvimento e construção dos ônibus, parte na Estação de Abastecimento de Hidrogênio e na capacitação de profissionais e alunos.

O gerente de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica de Furnas, Nelson de Araujo dos Santos, destacou que houve uma mudança de foco dentro da instituição. “A necessidade hoje é gerar novos negócios para Furnas. Dentro desse projeto há vários desenvolvimentos tecnológicos. Grande parte da tecnologia embarcada e usada para armazenamento de energia poderá ser usada por Furnas no futuro, principalmente a parte eletrônica. A mobilidade elétrica é uma realidade e a sociedade exige veículos eficientes e modernos. As técnicas desenvolvidas para os três veículos estão gerando patentes”, destacou Nelson.

Hidrogênio como combustível: o futuro chegou

Segundo Paulo Emilio, o futuro é promissor para o uso de hidrogênio. As grandes empresas automobilísticas já possuem veículos em testes usando pilhas a combustível e a maioria já tem data marcada para o lançamento de seus veículos. Um exemplo é a Toyota, que anunciou lançamento para este ano de 2017. “O hidrogênio é o combustível de maior potencial energético e a tendência é que ele passe a ser utilizado plenamente pela sociedade nos próximos 60 anos, substituindo parcial e gradativamente os derivados de petróleo, para os quais 53,1% da produção nacional é usada no abastecimento do transporte”, antecipou o professor.

Paulo Emílio fala da estação de abastecimento de hidrogênio que está em construção

Para abastecer o ônibus da Coppe, já está sendo construída uma Estação de Abastecimento de Hidrogênio, na Cidade Universitária. Segundo Paulo Emilio, a estação contará com uma usina fotovoltaica de 100 kW de potência, que será responsável pela geração da carga elétrica necessária para a eletrólise dá água na produção do hidrogênio.

“Por ser experimental, a quantidade de hidrogênio a ser produzida será suficiente para abastecer seis ônibus diariamente. A tecnologia para a segurança da produção e armazenamento do hidrogênio já está totalmente desenvolvida e estabelecida”, garante Paulo Emilio. Também adiantou que se encontram em fase de fabricação duas embarcações que mimetizam as tecnologias desenvolvidas para os ônibus, sendo uma delas movida a hidrogênio. Uma será utilizada no Lago de Furnas, em Minas Gerais, para o transporte de veículos e passageiros, e a outra na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro com capacidade para transportar 100 pessoas.

O diretor da Coppe, professor Edson Watanabe, sugeriu à diretoria de Furnas que ampliasse os investimentos em pesquisas voltadas para armazenamento de energia, pois, segundo ele, trata-se de um elemento importante para a geração elétrica em grandes quantidades. Watanabe, que também participou do evento, ressaltou que o hidrogênio será uma solução para transportes sustentáveis e citou outros projetos na Coppe que também contribuem para a sustentabilidade, como o Trem de Levitação Magnética (Maglev-Cobra) e a Usina de Ondas, cujo protótipo a ser instalado no Rio de Janeiro também está sendo construído com o apoio de Furnas.

Público presente ao evento também participa da inauguração da ABH2

Paulo Emílio destacou que o hidrogênio não é uma fonte primária de energia e para ser produzido por meio da eletrólise da água requer o uso de energia elétrica. Isso abre a possibilidade vantajosa de sinergia com outras fontes renováveis como solar, eólica, oceânica, biomassa e com a própria hidroelétrica. O hidrogênio pode ser usado como armazenador de energia e gerar energia elétrica com pilhas a combustível para compensar a intermitência das renováveis.

Por isso, o professor acha fundamental incentivar  ainda mais o desenvolvimento científico e tecnológico e difundir intensamente as informações sobre essa fonte para a sociedade. Inclusive, tais medidas estão entre as principais missões da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2) que, fundada durante o evento, foi organizada pela equipe do Laboratório de Hidrogênio da Coppe e tem o professor Paulo Emílio como primeiro presidente. A ABH2 já nasce integrando a Associação Internacional para a Energia do Hidrogênio (IAHE na sigla em inglês) e com a tarefa de coorganizar com a Coppe a 22ª Conferência mundial de Energia do Hidrogênio, evento internacional que será realizado em junho de 2018, no Rio de Janeiro.

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