Pesquisa mapeia áreas verdes nos quintais das residências da Zona Norte do Rio de Janeiro
Planeta COPPE / IVIG / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 25/01/2017
Apenas 11,40% das áreas dos quintais de residências do subúrbio da Zona Norte do Rio de Janeiro possuem árvores e 2,47% têm cobertura rasteira, como gramados. A pesquisa, que retrata o percentual de áreas verdes que restou em residências localizadas nessa região, onde residem 38% dos habitantes do município, cerca de 2,4 milhões de pessoas, foi tema da tese de doutorado da pesquisadora Vera Ruffato. A tese foi defendida recentemente no Programa de Planejamento Energético da Coppe, sob a orientação do professor Marcos Freitas e coorientação do geógrafo do IBGE, José Antônio Sena do Nascimento. Trata-se do maior mapeamento de áreas verdes residenciais já realizado no país.
Composta por 79 bairros, distribuídos em 203 km2, essa região, que é a ambientalmente mais degradada da cidade, vem sofrendo grande alteração de sua estrutura de ocupação, principalmente pela substituição de casas por prédios. No entanto, os quintais das residências do subúrbio ainda podem ser considerados verdadeiros redutos de resistência, contribuindo com cerca de 40% de área verde por habitante na Zona Norte.
“A proposta foi estudar a contribuição desses quintais para a manutenção das áreas verdes urbanas no uso e ocupação do solo da cidade, tendo em vista que a Prefeitura só possui o mapeamento das áreas verdes acima de 1 mil m2 (1 hectare)”, explica Vera .
Segundo a pesquisadora, uma forma de amenizar o impacto da urbanização nessa região seria incentivar o plantio de árvores nos chamados espaços permeáveis, que permitem a absorção da água. Essas áreas estão sendo regulamentadas por meio dos Projetos de Estrutura Urbana (PEUs), que vêm sendo discutidos para serem votados na câmara dos vereadores. No caso de novas construções, o Plano Diretor do Município do Rio de Janeiro de 2011 já estabeleceu que todas devem ter um percentual de área permeável, a ser definido por leis complementares.
“O plantio de árvores é uma forma de preservar o meio ambiente e propiciar maior qualidade de vida ao morador e, de forma indireta, aos vizinhos e a população da região”, afirma Vera.
Pesquisadora do Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (Ivig) da Coppe/UFRJ, há mais de 6 anos, Vera Ruffato é Doutora em Planejamento Energético/Ambiental na Coppe. Graduada em Biologia pela UFRJ (2010), estagiou na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e, ainda como aluna de graduação, participou entre 2007 e 2008 das reuniões das discussões para a formulação do atual plano diretor do município. No próximo domingo, dia 22 de janeiro, Vera embarca para Madri, Espanha, onde permanecerá, por pelo menos um ano, para seu pós-doutorado.
Árvores reduzem temperatura, ruídos, poluição e stress
Vera explica que as árvores protegem as residências da incidência do sol, podendo diminuir a conta de energia das residências entre 15 e 35%, devido a redução dos custos com climatização. Suas folhas absorvem parte dos ruídos e o sombreamento nas paredes e no chão resulta na redução de ilhas de calor, podendo reduzir a temperatura do ar em uma cidade em até 5ºC. “As árvores também diminuem a quantidade de poluentes, a exemplo de particulados como monóxido de carbono. Ruas com residências arborizadas propiciam redução de 70% da poluição na área”, afirma Vera Ruffato, acrescentando que a copa da árvore também retém e faz evaporar parte da água da chuva, contribuindo para um volume menor de água a ser escoado, amortizando assim os impactos dos temporais.
Mas as vantagens não param por aí. Segundo Vera, psicólogos e sociólogos defendem que árvores reduzem o stress, aumentando a produtividade, influenciando de forma positiva no aprendizado, além de propiciar maior qualidade de vida.
Pesquisadora propõe IPTU Verde
A pesquisadora da Coppe defende que o governo incentive os moradores a plantarem árvores, seja em futuras ou antigas construções, oferecendo benefícios como, por exemplo, desconto no IPTU. “A perda da receita seria compensada por menores gastos na saúde pública, por exemplo, com redução dos índices de doenças respiratórias e as relacionadas ao calor excessivo e ao estresse”, relatou.
Algumas sugestões apontadas por Vera em sua tese de doutorado, defendida em setembro de 2016, começam a ser implementadas por meio de dois decretos baixados pela prefeitura dia 1º de janeiro. Um deles estipula o prazo de 180 (cento e oitenta) dias para que a Secretaria de Conservação e Meio Ambiente apresente plano para criação de dois viveiros municipais de mudas em Campo Grande e Guaratiba, visando a ampliar a área arborizada da cidade em 300 hectares até o final de 2019. As mudas deverão ser replantadas, com ênfase, nas áreas abordadas pela pesquisadora em sua tese: nos subúrbio da Zona Norte do Rio.
O segundo decreto estipula um prazo de 120 dias para que a Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente e a Secretaria Municipal de Fazenda apresentem um plano para instituir o IPTU Verde na Cidade do Rio de Janeiro, que deverá ter, entre outras medidas, sistemas de aquecimento solar e captação de águas da chuva para reaproveitamento. Com relação a esse decreto, a pesquisadora da Coppe criticou o fato de áreas verdes não ter sido sequer citada no texto entre as medidas recomendadas. “Elas foram relegadas ao item “outros”, quando deveriam estar entre os destaques”, ressaltou.
Ao comparar as áreas verdes das residências com as áreas verdes que a prefeitura mapeia e considera em seu planejamento, Vera identificou que em 60,26% dos bairros, as residências com quintais ainda contribuem com um percentual maior de áreas arborizadas.
“Foi constatado que no levantamento da prefeitura não constam árvores e arbustos em 18 bairros, a cerca de 23% da região. Mas estão presentes nas residências, de acordo com o estudo”, afirmou.
Para realizar seu levantamento, a pesquisadora da Coppe utilizou ferramentas computacionais que possibilitaram identificar pequenos fragmentos nos quintais inseridos nas áreas urbanas e entender como esses estão espalhados pela cidade. Vera Ruffato explica que usou técnicas de sensoriamento remoto, utilizando imagens de satélite de alta resolução e softwares específicos para estudo.
A tese de Vera Ruffato já está disponível na página do Programa de Planejamento Energético, neste link.