Correspondências inéditas de Ana C em realidade aumentada

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Data: 27/06/2016

Utilizando técnica de realidade aumentada, pesquisadores da Coppe/UFRJ estão disponibilizando para o público, em formato digital, cartões postais enviados pela escritora Ana Cristina César à amiga Heloísa Buarque de Hollanda, professora da UFRJ. O conteúdo, inédito, que faz parte do acervo pessoal de Heloísa, será lançado durante a Feira Literária Internacional de Paraty (Flip), de 29 de junho a 3de julho.

Os cartões postais, que foram enviados por Ana C. – como era conhecida a poeta- à amiga Heloísa no final dos anos 70 e início dos 80, quando a escritora cursava o mestrado na Inglaterra. Eles serão disponibilizados em marcadores de livro com código QR, que podem ser lidos por smartphones de quaisquer marcas, e que serão distribuídos gratuitamente para os participantes da Flip.

Fruto de uma parceria entre o Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia (Lamce) e o Laboratório de Realidade Virtual (Lab3D) da Coppe/UFRJ, o Programa Avançado de Cultura Contemporânea (PACC) da UFRJ e o Instituto Moreira Salles, o projeto faz parte da homenagem promovida pela Flip à expoente do movimento literário Poesia Marginal.

Aqueles que não forem à Flip também podem ter acesso ao acervo acessando a página do laboratório da Coppe (http://grva.lamce.coppe.ufrj.br/flip), e imprimindo o marcador com o código. Basta direcionar o celular rumo ao código, que este já indica ao usuáriocomo baixar o aplicativo, disponível para Android e iOS.

Sinergia entre arte, tecnologia e memória

Para viabilizar o projeto os pesquisadores da Coppe, coordenados pelos professores Luiz Landau e Claudia Werner, trabalharam em conjunto com a equipe do PAAC, coordenada pela professora Heloisa Buarque de Hollanda. “O momento pede essa sinergia entre competências diferentes. A gente pensa junto e trabalha em coautoria. A tecnologia absorveu como a cultura pensa e age, como é o mercado de livros. Nós também aprendemos. Nesse processo de trabalho, houve muito aprendizado. O processo em si é mais importante que o produto”, afirma Heloísa.

“Optamos por algo simples, como um aplicativo de celular. Então fizemos marcadores de livros e eles serão o guia para a visualização dos cartões. Com o celular, a pessoa pode ver cada um deles, com texto e imagem. Escolhemos como ícone uma foto clássica de Ana Cristina”, explica Claudia Susie, pesquisadora da Coppe.

O projeto contou com o apoio do Instituto Moreira Salles (IMS), que detém o acervo da escritora. Agora, também terão os cartões postais que serão doados pela professora Heloísa. O IMS vai fazer cinco mil marcadores que serão distribuídos gratuitamente.

“Estamos levando a um público maior nossa parceria Coppe e PACC. Juntos, já fizemos a exposição Palavrio, essa homenagem à Ana Cristina César e estamos trabalhando em um livro, intitulado Poesia, que será lançado em breve”, celebra Heloísa.

Realidade aumentada e voyeurismo

A realidade aumentada é muito utilizada em engenharia, sobretudo em processos industriais. Segundo Gerson, embora o foco do Lamce seja trabalhar com a indústria, a equipedo laboratório gosta dessa interação entre tecnologia e arte. “A gente tem que criar soluções para os artistas e não implantar soluções para eles. Os engenheiros querem a tecnologia para um determinado fim. Já os artistas são mais soltos. Os engenheiros me dão trabalho, os artistas me dão desafios”, compara o pesquisador.

Na avaliação de Heloísa a colaboração entre engenharia e arte, que tomou corpo na parceria entre a Coppe e a Faculdade de Letras da UFRJ, é indispensável e urgente. “Nesse momento é impensável que a cultura desconheça e não trabalhe com tecnologia. Para as ciências humanas, é urgente dar espaço às tecnologias. E para a engenharia creio que seja importante ouvir a cultura. Não é apenas juntar para fazer um produto engraçadinho. Tem um impacto epistemológico para as hard sciences e as humanidades. É o começo de uma caminhada”, avalia a professora.

“Optamos por algo simples, como um aplicativo de celular. Então fizemos marcadores de livros e eles serão o guia para a visualização dos cartões. Com o celular, a pessoa pode ver cada um deles, com texto e imagem. Escolhemos como ícone uma foto clássica de Ana Cristina”, explica Claudia Susie, pesquisadora da Coppe.

Heloísa e as equipes do Lamce e do Lab3D chegaram a cogitar uma apresentação em vídeo para ser exibida pelo aplicativo, antes da exibição dos cartões postais. Mas descartaram a ideia. “Carta não tem apresentação, é uma coisa de voyeur. Para nós, a ideia da correspondência só pode ser acessada pelo voyeurismo. Deixa a interpretação mais livre, a obra aberta. Você só vê correspondência de outra pessoa se você espia. Você abriu uma gaveta sem permissão”, explica a professora.

Orientadora de Ana Cristina César, no curso de mestrado feito na Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ, Heloísa a conheceu quando preparava a antologia de poesia marginal 26 Poetas Hoje. “Eu estava procurando textos e uma professora de Ana Cristina me indicou um texto dela que gostei e a procurei. Ela era muito especial, muito próxima, inteligente curiosa. Foi assim que nos conhecemos, da melhor maneira possível, pela literatura”, relembra Heloísa.