UFRJ lança Frente Contra a Extinção do MCTI em evento na Coppe

Planeta COPPE / Notícias

Data: 30/05/2016

A UFRJ lançou dia 25 de maio a Frente contra a extinção do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O evento, promovido pela Associação dos Docentes da UFRJ (Adufrj), reuniu no auditório da Coppe representantes da comunidade científica e membros da academia para protestar contra a fusão, promovida pelo governo interino, entre o MCTI e o Ministério das Comunicações.

O ato de lançamento, coordenado pela diretora da Adufrj, professora Tatiana Roque, reuniu líderes da academia como o professor emérito da Coppe/UFRJ, Luiz Bevilacqua, o reitor da UFRJ, professor Roberto Leher; o diretor científico da Faperj, Jerson Lima; o vice- Presidente da SBPC, Ildeu de Castro Moreira; o diretor de Relações Institucionais da Coppe, Luiz Pinguelli Rosa; a professora da UFRJ Débora Foguel, que representou o presidente da Academia Brasileira de Ciências(ABC), Luiz Davidovich, o vice-diretor da Coppe, Romildo Toledo, o diretor do Colégio Brasileiro de Altos Estudos da UFRJ, José Sérgio Leite Lopes, o Presidente da associação Brasileira de Antropologia, Otávio Velho; a professora Beatriz Resende, da Faculdade de Letras da UFRJ; entre outros.

Segundo o professor, Luiz Bevilacqua, que integrou o grupo de representantes da Frente que participou de reunião com a comissão de C&T e Comunicação do Senado, dia 24 de maio, em Brasília, destacou que o MCTI é um dos poucos ministérios que teve suas políticas preservadas pelos governos e ministros que se sucederam. “Cada pessoa que passou pelo cargo respeitou as políticas em curso da Finep, do CNPq, entre outros. O governo interino sequer consultou a comissão do Senado antes de tomar essa decisão. O Ministério das Comunicações tem prioridades completamente diferentes daquelas do MCTI, que por sua vez tem preocupações de longo prazo. Se você fecha uma fábrica, você pode reabri-la sem maiores problemas no ano seguinte. Mas interromper um programa de inovação traz uma perda irreparável”, ressaltou o professor.

Reforma de Estado via medida provisória

Para o Reitor da UFRJ, o que mais preocupa a Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) é o método adotado para a controversa decisão. “Está em curso uma reforma do Estado, via medida provisória. “O deslocamento das instituições científicas para um âmbito secundário, a desnacionalização radical de tudo e nós sabemos do que isso se trata”, alertou o reitor.

Outro problema, segundo ele, é o ajuste fiscal que está por vir. Esse déficit fiscal hiperdimensionado é a dimensão do ajuste que virá. É maior do que qualquer ajuste já feito na história do país. Nesse momento tão obscurantista, temos que atuar coletivamente, de forma esclarecida e protagônica”, exortou Leher.

O professor José Sérgio Leite Lopes, do Museu Nacional, endossou a análise política do reitor. “Essa guinada liberal vai de encontro ao nacionalismo que erigiu o sistema de ciência e tecnologia no país. “O governo interino representa forças que se querem permanentes: o mercado e a repressão política que garanta os seus interesses”, avaliou.

A professora Débora Foguel, que no evento representou a Academia Brasileira de Ciências, lamentou que o governo presenteie a ciência nacional, no centenário de sua academia, com a extinção do ministério. “O Brasil tem especialistas em todas as áreas do conhecimento, e eles podem dar conta dos problemas existentes e vindouros. Quando a gente vê o que a ciência já fez pelo país, dá tristeza a forma como estamos sendo tratados”, criticou Débora.

Novo direcionamento ameaça inclusão social

Os professores Luiz Pinguelli, diretor de Relações Institucionais da Coppe, e Carlos Vainer, diretor do Fórum de Ciência e Cultura, questionaram a legitimidade do governo interino e qualificaram como golpe o afastamento da presidente Dilma Rousseff. Na visão de Pinguelli, o processo não teve como objetivo somente apear um partido do poder, mas reverter um direcionamento político em prol da inclusão social. “Não vamos perdoar aqueles que abandonarem esta batalha. Agora, o laboratório é aqui”, conclamou Vainer.

A professora Jussara Miranda, do Instituto de Química (IQ/UFRJ) fez uma emocionada defesa dos estudantes, cuja permanência nas salas de aula e laboratórios, está ameaçada pelos cortes no financiamento de bolsas. “A mudança já está em curso e coloca em xeque a formação de recursos humanos. Até mesmo para alunos cujos bolsas ainda estão vigentes”, alertou Jussara.

Na avaliação do professor do Museu Nacional, Otávio Velho, somente reagir não basta. Mais do que evitar perdas, é preciso fomentar e qualificar o debate, para descortinar novos rumos para o Brasil e propor ações para barrar o que chamou de desmonte do processo civilizatório. “Precisamos organizar seminários e colocar em prática a tão falada (e não tanto praticada) interdisciplinaridade. A universidade precisa dialogar com a sociedade e repensar o país”, concluiu o professor, que também é vice-presidente de honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC).

Outras ações da Frente podem ser encontradas no blog que a Adufrj criou para tratar do assunto: www.adufrj.org.br/mcti