Pesquisadores da Coppe coordenam estudos para adaptação no sertão
Planeta COPPE / Planejamento Enérgico / Notícias
Data: 19/03/2013
O projeto Adapta Sertão ganha o prêmio Celso Furtado de Desenvolvimento Regional 2012, na categoria III – Projetos Inovadores para Implantação no Território. Com coordenação técnica do professor Emílio La Rovere, do Programa de Planejamento Energético da Coppe, o projeto foi eleito para ser aplicado em várias regiões do Brasil. O prêmio, concedido pelo Ministério da Integração, foi entregue, dia 19 de março, durante a I Conferência Nacional de Desenvolvimento Regional (CNDR).
Estudo realizado pela Coppe, em parceria com a Universidade da Califórnia, constatou que a região castigada pela seca sofreu, nos últimos 50 anos, uma redução de 30% no volume de chuvas e um aumento drástico de temperatura, calculado em 1,75 Graus. Para se ter uma ideia, no mesmo período o aumento da temperatura global foi de 0,8 Grau. Como conseqüência, a região sofreu uma queda no plantio e redução na produção de leite e no número de gados no pasto.
O Adapta Sertão é fruto de uma parceria entre o Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima) da Coppe, a cooperativa Ser do Sertão, a Escola de Relações Internacionais e Estudos do Pacífico da Universidade da Califórnia (EUA), e a Rede de Desenvolvimento Humano (Redeh) – coordenadora geral do projeto.
Especialistas e trabalhadores desses quatro órgãos propuseram soluções que começaram a ser adotadas por meio de novas práticas de cultivos, de acordo com as condições meteorológicas. O projeto também inclui a capacitação de agricultores para lidar com as atuais e futuras condições ambientais da região.
Sob a coordenação do professor Emílio, uma equipe de pesquisadores do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Centro Clima) da Coppe/UFRJ desenvolveram processos inovadores para o combate aos efeitos das mudanças climáticas na Bacia do Jacuípe, no semiárido da Bahia. Os pesquisadores da Coppe estão fornecendo apoio técnico-científico, em campo, aos membros da Redeh. O objetivo é orientar as cooperativas de agricultores da Bacia do Jacuípe.
“Além de conscientizar e munir os cooperados com todas as informações sobre as mudanças do clima na região, a equipe da Coppe está desenvolvendo e testando novos métodos para que eles possam lidar com as novas situações como, por exemplo, aproveitar a água da chuva de forma mais racional para minimizar os efeitos das estiagens,” explica o professor Emilio.
Pesquisadores propõem medidas para superar os efeitos das mudanças do clima
Pintadas foi o primeiro município da Bacia do Jacuípe a ser avaliado pela equipe do projeto. Os pesquisadores, que acompanharam de perto 30 famílias de agricultores, constataram uma queda de 7% na produção de leite, nos últimos 50 anos, enquanto que no mesmo período foi registrado um aumento de 42% na produção no estado da Bahia e de 101% em todo o Brasil. “Estes números mostram uma grande vulnerabilidade dos municípios de Jacuípe e a tendência é a situação piorar, caso as medidas de enfrentamento não sejam adotadas”, alerta Emilio.
O professor da Coppe explica que o grande problema não á falta de chuva, mas sim sua periodicidade. As chuvas na região tradicionalmente ocorrem de dezembro a fevereiro. No entanto, segundo o professor da Coppe a população tem sofrido com os efeitos da seca nesse mesmo período, o que vem dificultando o planejamento dos agricultores. “Para minimizar os danos, o governo federal criou um programa que instalou 1 milhão de cisternas na região, com foco no abastecimento das residências e nos animais, mas sem contemplar a agricultura. Por isso, tornou-se necessária a adoção de novas medidas”, explica Emilio.
A disseminação da melhor forma de aproveitamento e gestão da água é uma das medidas de enfrentamento que têm sido colocadas em prática pelo projeto Adapta Sertão. Os agricultores aprendem técnicas mais eficientes de irrigação e armazenamento. Alguns são inclusive treinados para serem representantes e distribuidores de bombas e tubulações para irrigação, evitando compras e processos de uso equivocados.
Os pesquisadores também propõem a instalação de estações meteorológicas no sertão para que os agricultores, após receberem material didático e treinamento, tenham acesso a previsão regional dos períodos de chuvas e estiagens. Como a elevação da temperatura no mundo é crescente, os efeitos das mudanças do clima tendem a se agravar. “Por essa razão, o monitoramento nas regiões abaladas deve ser constante, assim como o desenvolvimento de novas metodologias voltadas para reduzir os efeitos adversos”, ressalta o professor da Coppe.
Outra iniciativa é limitar mais o espaço de pastagem. Emilio explica que de fevereiro a dezembro, os agricultores vivem da pecuária, mas é um período de pouca comida para o gado. Então, geralmente eles ampliam a área de domínio, invadindo as matas, para que o gado possa se alimentar de outra vegetação, o que acaba gerando desmatamento. “O problema é que a redução da mata provoca queda de evaporação e, consequentemente, reduz ainda mais o volume de chuva”, conclui o professor da Coppe, Emilio La Rovere.